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Stevin Zung: suas escolhas de hoje garantem a longevidade de amanhã

Muitos óbitos ao redor do mundo podem ser evitados apenas com base em nossas escolhas

Um pessoa morre para doenças crônicas a cada dois segundos (iStock/Getty Images)
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Publicado em 14 de fevereiro de 2023 às 14h00.

Última atualização em 28 de fevereiro de 2023 às 12h27.

Por Stevin Zung*

A cada dois segundos, uma pessoa com menos de 70 anos perde a vida no mundo para uma doença crônica, como câncer, diabetes e problemas respiratórios. Cerca de 86% desses óbitos acontecem em países de baixa e média renda e poderiam ser evitados, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Por outro lado, habitantes centenários de cinco áreas do Planeta – as chamadas zonas azuis – confirmam diariamente que é possível ter uma vida mais longa e com mais qualidade. O que afasta esses dois extremos? Uma das respostas é: as nossas escolhas.

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Como médico e executivo da saúde, reflito muito sobre essas questões. Como alcançar a longevidade em termos práticos? Como reverter o processo de envelhecimento aos 30, 40 ou até além dos 50 anos? O axioma Primum non nocere (Primeiro, não prejudicar), de Hipócrates (considerado o pai da Medicina), deveria nortear as escolhas de todos, não apenas as de nós médicos. Deveríamos optar pelo que nos faz bem a médio e longo prazo e não nos guiar pelo imediatismo. Mas não é uma  tarefa fácil.

Mesmo não morando em espaços privilegiados como a Sardenha, na Itália, Icária, na Grécia, ou Loma Linda, nos Estados Unidos, é possível viver mais e melhor, escolhendo conscientemente não somente uma alimentação saudável e atividade física, mas também o fortalecimento dos vínculos sociais. Sim, criar relacionamentos saudáveis é uma escolha.

Os vínculos ou relacionamentos ocupam lugar de destaque na equação da saúde, garantindo acolhimento, pertencimento, afastando o distanciamento social e a solidão. Estudos pré e pós-covid-19 comprovaram a relevância das relações para a saúde e como disfunções relacionais abrem espaço para sentimentos de ansiedade e depressão, processos inflamatórios, pensamentos obsessivos e uma atitude displicente com o autocuidado.

Diversos fatores podem provocar esse distanciamento social, desde a dispersão ou perda familiar; problemas de saúde, diminuição de mobilidade ou dificuldades financeiras. Os resultados do estudo Clic (Coping With Loneliness and Isolation during covid-19), que envolveu 101 países, demonstraram que a solidão intensa triplicou durante a pandemia, passando de  6% para 18%, o que reforça a necessidade de atenção especial para o tema por parte de indivíduos, empresas, organizações e governos.

Com o distanciamento gerado pela pandemia, muitas das relações se deterioraram ou foram transferidas para as redes sociais. Os contatos se multiplicaram, mas perderam profundidade, escapando de nós em um clique (ou um touch) e nos forçando a repensar a comunicação praticada nestas plataformas. Com o retorno ao presencial, outras formas de vinculação pró- longevidade se sobressaem, como o trabalho voluntário para alguma instituição, a filiação a clubes ou associações, a participação em programas sociais, o envolvimento em grandes causas e adesão a grupos e cursos. E quanto mais intergeracional for estes vínculos melhor.

As interações interpessoais – laborais, socioculturais, esportivas, artísticas ou religiosas – são fundamentais durante a vida, contribuindo para o desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social. Elas também ajudam a ressignificar experiências estressantes e na maturidade permitem trocas de afeto, conhecimento e experiência; uma rede de apoio além da família e ajudam a preservar a saúde cognitiva.

Estes laços sociais têm efeitos duradouros na estrutura cerebral, na sua conectividade e na função dos circuitos neurais, conforme mostraram alguns estudos interessantes nesta última década. O apoio social modula a resposta neuroendócrina ao estresse, reduzindo por exemplo os níveis de cortisol, hormônio relacionado a sintomas ansiosos e depressivos. Os níveis de oxitocina também desempenham função importante, permitindo que os indivíduos se tornem mais expressivos emocionalmente e reconheçam melhor as emoções dos outros, favorecendo os laços e criando um ciclo de feedback biocomportamental para melhorar as interações.

Para manter relações duradouras em qualquer contexto é necessário estar presente e disponível para o outro, desenvolver empatia, demonstrar respeito, ser tolerante e praticar a cooperação. Vivemos em um mundo líquido, onde as relações tendem a ser superficiais e escapar pelos dedos, como dizia o filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que desenvolveu o conceito da “modernidade líquida”. Criar vínculos saudáveis, dentro e fora da família, se tornou um desafio (e uma necessidade) ainda maior. Mas é por meio da relação com o outro, com o diferente, que aprendemos sobre nós mesmos e nos vinculamos mais com a vida e com a longevidade.

*Stevin Zung é médico psiquiatra e diretor médico do Aché Laboratórios Farmacêuticos

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