Aperte o play no seu aplicativo de streaming de música com a playlist sugerida na coluna. (Seinfeld/Reprodução)
Bússola
Publicado em 1 de janeiro de 2022 às 09h00.
Por Danilo Vicente*
Sou fã de Seinfeld, a série que entrou no catálogo da Netflix em outubro. Tenho o livro de Jerry Seinfeld e lembro-me de aguardar ansioso pelo desfecho das nove temporadas (e me decepcionar). Agora, estou, pouco a pouco, assistindo novamente aos CENTO E OITENTA episódios escritos pelo próprio Jerry e, a maioria deles, por Larry David (que deixou a série na 7ª temporada, para retornar na última).
Seinfeld é uma aula de como um produto de qualidade se mantém relevante – e lucrativo – por ser inovador. A sitcom tinha tudo para dar errado, hoje e no passado. A “série sobre o nada”, como se intitula, tem quatro personagens principais mentirosos, por vezes desprezíveis. Ao revê-la, é fácil identificar episódios datados pela mudança de tecnologia (quantas vezes Jerry usa sua secretária eletrônica como muleta para piadas?) ou pelo avanço da cultura (que não mais tolera piadas misóginas, por exemplo).
Porém, e este “porém” é importante, as estripulias de Jerry, Elaine, George e Kramer continuam hilárias. E a minha opinião não é por ser fã. No mesmo nível eu gosto de Planeta dos Macacos – já li e assisti tudo sobre a série. E minha decepção foi acachapante ao rever os filmes originais.
Não à toa a Netflix pagou, estima-se, US$ 500 milhões para exibir Seinfeld inteira (US$ 2,7 milhões por episódio!). A série ainda cativa espectadores por ter roteiro primoroso e os atores mostrarem timing único, mas especialmente porque inovou e quebrou barreiras. O que falar de um episódio inteiro sobre masturbação? Ainda hoje não lembro de ter visto este tema em outro programa de TV.
Foi em Seinfeld que, pela primeira vez, houve cuidado para não se cruzar a linha entre o humor ofensivo e o politicamente incorreto. No episódio em que Jerry e George são confundidos com um casal gay, os dois acabam criticando quem, fora da tela, se intitula sem preconceito apenas por entoar, sem se preocupar com as atitudes, “não há nada errado em ser gay” (eles repetem a cada instante) Acredite: antes desse episódio, as piadas homofóbicas nas comédias americanas focavam em constranger ou ofender alguém.
Foi Seinfeld que também lançou a ideia de fazer piada sobre si. Afinal, em determinado momento Jerry e George são contratados pela NBC (que transmitia o programa) para criar uma sitcom “sobre o nada”.
Ainda não cheguei ao The Finale, o episódio de encerramento. Quando assisti, em 1998, fiquei decepcionado com o desfecho trágico para personagens queridos. Hoje, acredito que terei outra visão.
Seinfeld entrou para a história da televisão americana três décadas atrás. E, hoje, é um exemplo de como um produto, mesmo que datado, encanta consumidores. Mérito da qualidade e da inovação.
*Danilo Vicente é sócio-diretor da Loures Comunicação
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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