Bússola
Um conteúdo Bússola

Se a vida não para, tá mais que na hora de lidar com a intimidade artificial

Esther Perel, psicoterapeuta e professora da Universidade de Nova York, colocou tema em debate na SXSW

SXSW ocorreu no Texas esse ano  (Jim Bennett/Getty Images)

SXSW ocorreu no Texas esse ano (Jim Bennett/Getty Images)

Bússola
Bússola

Plataforma de conteúdo

Publicado em 4 de abril de 2023 às 10h00.

“E o mundo vai girando cada vez mais veloz. A gente espera do mundo e o mundo espera de nós. Um pouco mais de paciência”. Os versos da canção Paciência foram criados por Lenine em 1999, e quase 25 anos depois estão mais atuais que nunca.   

Nos dias de hoje, nossa sociedade está configurada em torno, depende e demandada pela tecnologia, seus desdobramentos e comodidades. Ao mesmo tempo, essa relação impõe efeitos colaterais em especial em detrimento de nuances importantes do relacionamento humano.  

O instantâneo e o conectável aniquilam, em frações de segundos, grandes distâncias e viabilizam qualquer tipo de comunicação. Por outro lado, essa mesma condição reforça um paradoxo de “esfriamento” das interações humanas e da proximidade que elas eram capazes de gerar. 

Essa realidade é o cerne de especialização da psicoterapeuta e professora da Universidade de Nova York, Esther Perel. Dedicada a assuntos como a solidão e relacionamentos da atualidade, incluindo os amorosos, a profissional detalhou semanas atrás, no SXSW no Texas, o que considera “intimidade artificial”.  

A crença dela é de que as relações interpessoais, mesmo dentro de casa, com pessoas íntimas e/ou em momentos recorrentes como numa refeição em família, sofrem a concorrência de adversários de impacto como o celular, as redes sociais e o anseio de estar por dentro de tudo a todo momento.  

Essa necessidade intensificaria, para Perel, um processo de atenção parcial, dividida entre a dependência aos "fiéis aliados” tecnológicos de todas as horas e a convenção de socializar com as pessoas e acontecimentos reais que acontecem a todo o momento. 

A acadêmica alerta, principalmente, para os riscos de banalizar esse tipo de conduta e assim elevar o distanciamento das chamadas trocas sociais efetivas. E pior, de privilegiar somente aspectos benéficos do convívio real com o outro. Em momentos indesejáveis o caminho instintivo seria buscar a zona de conforto materializada nos produtos da tecnologia e seus poderes “anestésicos”.  

A provocação converge com tendências intensificadas no pós pandemia, na ascensão das fintechs e na chegada ao mercado de trabalho de gerações mais jovens imbuídas de outros valores e metas. A realidade cada vez mais comum independentemente do ambiente e dos atores envolvidos foi seguidamente trazida à tona nas palestras e discussões dentro e fora do SXSW: o diferencial competitivo alcançado com a saúde mental em dia. 

Qualquer que seja o segmento de atuação e o lado da interação na oferta e consumo de um produto ou serviço, o equilíbrio entre mente e corpo em nome da produtividade, convive, influencia e é contagiado por uma diversidade de componentes e cenários nacionais e estrangeiros. Tudo isso regido por um modo de produção que praticamente obriga a adequar os ajustes para gerar receita, enfrentar concorrentes e sobressair no mercado.  

Pensa que é tudo? Ainda falta agregar a urgência de interagir sustentavelmente com a natureza, seguir princípios de boa gestão e convívio empático com comunidades no entorno, entendendo e de fato incluindo grupos diversos. É tão rápido e efêmero que podemos ter mais de um tipo de cliente, o final e o meio no caso de uma atuação B2BC. Aliás, seria tão fácil assim ou tão objetivo diferenciar acionista, investidor, stakeholder, colaborador e alvo final da ação de uma empresa? O ciclo é dinâmico e bem volátil.  

De volta ao ritmo do Lenine e à perspicácia de harmonizar opostos como celeridade e cadência, as expectativas e a emergência de entrega não páram. E o que se espera de nós seria nada mais que um pouco de consciência? Suficiente para quebrar o ritmo e refletir diante do sem número de tramas que se convergem com a mesma rapidez que se desfazem.  

E nada mais oportuno que se conhecer, valorizar e autoestimular para compreender tudo isso. A ponto de discernir quando é hora de ressignificar e contemplar o outro e quando é tempo de reivindicar que sejamos contemplados. Ah, e nem me venha com tenho razão sempre. Não seria o momento de apenas fazer sua parte sem esperar do entorno ou meramente acusá-lo? 

Afinal nosso poeta continua retratando fielmente a realidade. A ponto de questionar “Será que é o tempo que lhe falta para perceber? E quem quer saber que a vida é tão rara”. 

Mais que apreciar a melodia e internalizar os acordes, faço parte de uma equipe mobilizada em apreender tudo isso, em conseguir se expressar o suficiente para entrar no ritmo e fazer a diferença em nome de um equilíbrio e do bem-estar individual e se possível coletivo. Afinal, a vida não pára. E para lidar com os esforços e tentativas para corresponder e não deixar nada importante de fora, porque não um pouco de paciência.    

*Claudia de Souza é VP de RH e Comunicação para América Latina da AccorInvest 

Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube 

Veja também:

O que os jovens podem fazer, agora, pelo futuro do Brasil 

Mais de 70% das empresas devem manter ou ampliar trabalho remoto em 2023 

Líderes têm o mesmo impacto na saúde mental do que parceiros 

 

Acompanhe tudo sobre:SXSWGestão de pessoasInovação

Mais de Bússola

Mineração Morro do Ipê planta 80 mil mudas como medida de compensação ambiental

A liderança só faz sentido se você deixar legados

Maior feira de franquias do mundo revela onde gigantes do franchising estão investindo

Metade dos brasileiros já considera comprar veículos eletrificados, diz pesquisa

Mais na Exame