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Reestruturação ou recuperação judicial: tratar a febre ou a doença?

O legado certo para as empresas que adentraram a seara da recuperação judicial é a perda da reputação e o fim da credibilidade empresarial

Operações de turnaround podem revitalizar a imagem da empresa (Sergii Gnatiuk/Thinlstock/Thinkstock)

Operações de turnaround podem revitalizar a imagem da empresa (Sergii Gnatiuk/Thinlstock/Thinkstock)

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Publicado em 15 de maio de 2023 às 17h25.

Última atualização em 15 de maio de 2023 às 17h37.

Por Nilo Cecco*

De algumas semanas para cá, muitas empresas inundaram o noticiário e movimentaram o feed dos grandes canais de comunicação, sublinhando duas palavras: recuperações extrajudiciais e, em casos mais graves, recuperação judicial. No cenário que parece ser uma resposta do mercado nos moldes do triênio 2015-2017, em que tivemos crescimento negativo e estagnação de soluções criativas ao déficit, cabem três perguntas: quão profunda será a retração econômica; qual é a perspectiva de recuperação empresarial no curto e médio prazo; e, mais importante, quais medidas devem ser tomadas para evitar audiências em tribunais?

Antes de mais nada, vamos aos números. Segundo a última pesquisa da Serasa Experian, divulgada em abril pela entidade, no primeiro trimestre de 2023 houve um salto em pedidos de recuperação judicial (RJ) e de falência, registrando, respectivamente, um aumento de 37,6% e 44,1% em relação ao mesmo período do ano passado. O tamanho do terremoto se torna mais nítido ao analisarmos a dimensão das empresas afetadas: mais da metade dos requerentes de auxílio jurídico compõe grandes ou tradicionais companhias. Mas o tremor não para por aí: esse mesmo grupo é responsável por inflar em 900% as solicitações de recuperações extrajudiciais (REs), modalidade em que as discussões correm por fora do ambiente judicial.

Neste panorama de reestruturação da economia, também torna-se clara a dificuldade de corporações, sobretudo com nomes de peso no mercado, saírem do buraco. De acordo com o último informe de crédito a pessoas jurídicas, levantado pelo Banco Central em fevereiro, a instituição concedeu 8,6% menos recursos para empresas e organizações, cerca de R$ 166 bilhões. À escassez de linhas de financiamento somam-se a manutenção da taxa Selic na casa do 13%, o que significa, em linhas gerais, que companhias gastam o triplo para quitar as dívidas com devedores.

Qual é o impacto na economia brasileira?

Para além dos débitos milionários e da grande dificuldade de contratar linhas de crédito a fim de organizar as contas, uma característica comum entre os grandes grupos envidados é a inadimplência, sobretudo nos últimos três anos. Com a chegada da pandemia e o congelamento de receitas, o caminho adotado por companhias para sair do vermelho era uma combinação de juros baixos e crédito barato. A estratégia funcionou em alguma medida, entretanto, sem a realização de reestruturações profundas, financeiras ou na própria operação, o que parecia ser um cenário tranquilo se tornou um pesadelo para muitos.

Neste contexto, organizações muito conhecidas pelos brasileiros tiveram de solicitar audiências com seus credores para continuar no mercado e, paralelamente, grupos importantíssimos para a economia brasileira mostraram que ao fim do poço pode haver sempre um alçapão. Com efeito, analistas de macroeconomia avaliam que a possível bancarrota dessas empresas poderia impactar a trajetória de outras companhias ao longo do 2023, principalmente em um ano de baixo crescimento.

A despeito das análises futuras de cenário econômico, o legado certo para esses e outros grupos que adentraram a seara da recuperação judicial é, sem dúvida, a perda da reputação e o fim da credibilidade empresarial. Afinal, por mais que parcerias internacionais e cifras de faturamento semestral sejam os principais balizadores de negócios atualmente, a confiança do consumidor e crédito entre financiadores ainda configuram como valores inestimáveis para o mercado. Muitas empresas envolvidas em processos desse escopo acabaram ficando pelo caminho ou passaram a entender que era mais fácil renascer sob outro nome do que insistir em uma velha ideia.

O que é necessário para o turnaround — ou reestruturação de uma empresa

Neste contexto de dívidas bilionárias e gestões atabalhoadas, em vez de se afundar em dívidas e esperar pelo melhor resultado jurídico junto aos credores, corporações precavidas têm optado pela redução de gastos logo no começo da crise. Operações de turnaround, também conhecidas como de reestruturação corporativa, despontam como alternativas inteligentes para reformular políticas internas e revitalizar a imagem pública da empresa no cenário macroeconômico e, sobretudo, para clientes e consumidores. De acordo com um levantamento feito pelo jornal Valor Econômico, o mercado de reformulações corporativas tentará negociar pelo menos R$ 260 bilhões em dívidas, podendo chegar ao montante de R$ 700 bilhões segundo equalizações da empresa.

Os benefícios para os contratantes da modalidade são claros: assertividade jurídica, acurácia financeira, otimização de planejamento interno, reestruturação de estratégias e diferenciais competitivos e, não menos importante, blindagem da imagem de executivos e da própria organização. Decerto, a gestão de grandes grupos nem sempre pode se concentrar em uma única área e tampouco deve ser de responsabilidade de um único grupo. No entanto, quando medidas preventivas são elaboradas com antecedência e têm um escopo definido, o resultado é sempre o melhor para os dois lados do balcão.

Nesta linha, o papel de um líder de uma grande companhia é ter a sabedoria de estabelecer o Turnaround e fazer o retorno no momento exato, sob pena de ser engolido por um tsunami com consequências drásticas que podem implicar na própria sobrevivência do negócio.

*Nilo Cecco é fundador e CEO da Valuation, consultoria especializada em reestruturação de grandes e médias empresas

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