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Qual a relação entre Ucrânia, Rússia, sanções e cripto

Compreenda o que está acontecendo no cenário atual e a relação da guerra com sanções e criptomoedas

 (Jirapong Manustrong/Getty Images)

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Publicado em 10 de março de 2022 às 12h48.

Última atualização em 10 de março de 2022 às 13h17.

Por Changpeng Zhao*

Um tema atual neste momento, mas que vem acompanhado de muito mal-entendido. Pouquíssimas pessoas têm uma compreensão profunda de todos os quatro tópicos mencionados acima. E eu não sou um deles. Vou compartilhar aqui o que acredito ter compreendido.

Antes de mais nada, quero dizer que estou profundamente triste, revoltado e magoado com as notícias da Ucrânia. É uma crise humanitária terrível — que jamais pensei testemunhar nesta época. A equipe da Binance está empenhada em ajudar as pessoas na Ucrânia e em seu entorno. Já fizemos doações para ajudar crianças, refugiados e demais pessoas em vulnerabilidade.

Dito isto, vou esclarecer aqui alguns dos equívocos mais comuns.

Sanções à Rússia

“A Binance não está aplicando sanções”. Isto não pode estar mais longe da verdade. A Binance segue estritamente as regras de sanções internacionais. Na Binance, montamos uma força-tarefa global dedicada ao compliance, incluindo especialistas em sanções e cumprimento de legislações de renome mundial, como Tigran Gambaryan, Matt Price, Nils Andersen-Röed e, mais recentemente, Chagri Poyraz. Eles trabalham incansavelmente para garantir que as regras de sanções sejam cumpridas. Vou falar mais sobre isso a seguir.

“Os bancos aplicam sanções, mas a Binance não”. Mais uma vez, não poderia estar mais longe da verdade. A Binance aplica as mesmas regras de sanções que os bancos, de acordo com os padrões internacionais.

Agora, algumas das perguntas comuns (enganosas):

Por que a Binance não dá um passo adiante e sanciona/congela todos os ativos de usuários russos?

A questão mais importante aqui é: nós não achamos que temos autoridade para tomar esse tipo de atitude. As decisões de sanção são tomadas nos mais altos níveis dos governos, com o apoio do Legislativo, do Judiciário e até mesmo dos poderes militares. Não achamos que empresas ou plataformas possam decidir unilateralmente congelar os ativos de toda uma população de usuários.

Há cidadãos russos comuns em Londres ou Nova York, por exemplo. O CEO de um banco em Londres deveria ter o poder de decidir de forma unilateral congelar os ativos dessas pessoas? Com que fundamento? Só porque eles não concordam com o presidente do país de origem do cliente? O que acontece se eles também não concordarem com o chefe de Estado de outro país? Eles deveriam ter o poder de congelar todos os bens dos cidadãos desse outro país também? Onde isso vai parar? Por esse motivo, entendemos que devemos seguir as listas internacionais de sanções e não criar as nossas próprias.

Em segundo lugar, o mercado cripto é realmente o centro da questão?

Atualmente, a mídia e os políticos estão gastando muito esforço e se concentrando nas sanções de criptomoedas. A verdade é que o universo cripto é ínfimo em relação à Rússia. Se olharmos para a atual adoção de criptomoedas, provavelmente cerca de 3% da população mundial tem algum tipo de relação com o mercado cripto, no que tange a posse desses ativos.

Destes, a maioria tem apenas um pequeno percentual de seu patrimônio líquido em criptomoedas, em média, menos de 10%. Sendo assim, provavelmente menos de 0,3% do patrimônio líquido global está em criptomoedas hoje. Esse percentual se aplica igualmente à Rússia. Portanto, em vez de focar nos bancos, que detêm 99,7% das riquezas, a mídia e os políticos estão se preocupando com 0,3% desse montante. Mesmo que essa parcela seja bloqueada, isso fará alguma diferença? Não. Em vez de focar em bitcoin, seria muito mais eficaz focar em bancos, petróleo e gás ou outros recursos.

A Rússia quer usar criptomoedas? Não, pois desvaloriza o rublo. Os russos converterem o rublo em cripto enfraquece a moeda daquele país, e consequentemente, os poderes da Rússia. Há rumores, inclusive, de que o Banco Central da Rússia está agindo para bloquear o acesso às criptomoedas e não promovendo o uso dela. A Rússia pode efetivamente “sancionar” as criptos, ou seja, banir o seu uso. Alguns políticos ocidentais até já comentaram que o Ocidente deveria encorajar os cidadãos russos a migrar para as criptomoedas.

Outra razão pela qual a Rússia não tem interesse no uso de criptoativos é o fato de ser facilmente rastreável. Governos em todo o mundo já são muito hábeis em rastreá-los, como no recente caso do hack da Bitfinex, por exemplo.

Eles poderiam usar criptos de privacidade? Não, essas são ainda menores. A maior cripto de privacidade, a Monero, tem um valor de mercado de US$ 3 bilhões. O PIB da Rússia é de US$ 1,5 trilhão.

Considerando que depois de tudo o que foi esclarecido, a Rússia ainda queira usar criptoativos, sancionar algumas operadoras internacionais de criptomoedas teria algum impacto? Não.

Existem dezenas de milhares de pequenas exchanges em todo o mundo, muitas delas localizadas na Rússia. Além disso, a maioria dos usuários são o que chamamos de "ulti-home", usam mais de uma plataforma. Os custos de comutação entre as exchanges são baixos.

A baixa liquidez seria um problema? Não, e se os usuários forem forçados a este ponto, os provedores de liquidez e os negociadores de arbitragem fornecerão a liquidez imediatamente. Sendo assim, limitar algumas grandes operadoras internacionais não faria nenhuma diferença.

Para concluir, a maioria das pessoas que nunca usaram criptomoedas não entende que, para negociá-las, não é preciso uma exchange. É possível obter criptomoedas simplesmente baixando uma carteira (um software de código aberto). Depois disso, é só começar a aceitar criptoativos pelos produtos e serviços ofertados, como também pagar em criptomoedas pelos bens e serviços adquiridos. Não é necessário nenhuma exchange, mas apenas uma carteira cripto.

Espero que esses esclarecimentos coloquem em perspectiva alguns dos equívocos ou mal-entendidos que circulam por aí.

*Changpeng Zhao é CEO da Binance

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