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PLAY: O fenômeno japonês na Olimpíada chinesa

Yuzuru Hanyu é o atleta dos jogos de inverno em Pequim, mesmo sem medalha e com disputa geopolítica

Bicampeão olímpico no individual masculino, Hanyu chegou a Pequim como grande favorito à medalha de ouro. (Atsushi Tomura/Getty Images)

Bicampeão olímpico no individual masculino, Hanyu chegou a Pequim como grande favorito à medalha de ouro. (Atsushi Tomura/Getty Images)

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Publicado em 19 de fevereiro de 2022 às 09h00.

Por Danilo Vicente*

A maioria dos brasileiros pode não ter percebido, mas estamos em meio à Olimpíada de Inverno de Pequim. Não é o que se observa na Europa, na América do Norte e, em especial, na Ásia. Em todas essas regiões, heróis estão surgindo com suas medalhas de ouro e exemplos de superação. Porém, o mais improvável deles é um fenômeno japonês. Improvável pela situação geopolítica e por sequer ter subido ao pódio.

O patinador artístico no gelo Yuzuru Hanyu conseguiu quebrar a barreira entre chineses e japoneses neste 2022. China e Japão têm uma rixa histórica, motivada por invasões e sofrimentos. Bicampeão olímpico no individual masculino, Hanyu chegou a Pequim como grande favorito à medalha de ouro. E perdeu: ficou em quarto lugar. Mesmo assim, foi e continua sendo ovacionado entre os chineses.

Eis parte da explicação: na última olimpíada, em Pyeong-Chang, Coreia do Sul, Hanyu anunciou que sua única motivação dali em diante seria realizar um salto quádruplo axel (com a “decolagem” acontecendo de frente, o que exige uma meia rotação a mais).

Foram quatro anos treinando muito, mas Hanyu errou no momento em que não poderia. Tentou, mas não conseguiu. A reação esperada seria de decepção. Entretanto, sua imagem de esforço em busca da perfeição e da falta de medo em arriscar é tão forte que ele foi “abraçado” pelo povo chinês.

Não é só isso. Hanyu também tem se mostrado exemplo fora do rinque de patinação. Foi um dos maiores porta-vozes das campanhas de angariação de donativos para as vítimas do terremoto e do tsunami de Fukushima em 2011 — quando era um adolescente.

As centenas de bichos de pelúcia que o atleta recebe após cada atuação são sempre doadas a comunidades locais das competições. Seus fãs doam bonecos do Ursinho Pooh depois de ele ter declarado que a figura o acalma para as grandes provas.

Agora em Pequim, quando o atleta apareceu em uma coletiva de imprensa nesta semana, a normalmente tranquila sala no centro de mídia deu lugar ao fervor dos fãs. Cerca de uma centena de chineses, a maioria estudantes universitários, o esperava do lado de fora. E os jornalistas chineses lá dentro estavam pouco menos animados.

Ele disse aos jornalistas que recebeu mais de 20 mil cartas e presentes de fãs chineses antes e durante a Olimpíada.

Depois que Hanyu terminou em quarto lugar, uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Hua Chunying, escreveu no Twitter que o patinador era amado por muitos chineses porque “ele foi além de si mesmo e buscou melhorar a si mesmo”.

É raro um atleta que não ganha ser tão celebrado, mesmo quando é tecnicamente incrível, caso do japonês. Ainda mais raro é a China ser fã de alguém do país vizinho. Fica o exemplo de como o esporte vai além das quadras, pistas e rinques.

*Danilo Vicente é sócio-diretor da Loures Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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