Cheguei ao final de Suits (com atraso, eu sei). A série, disponível na Netflix, é entretenimento de primeira. Centrada no cotidiano de um escritório de advocacia, empolga por mostrar a força de seus executivos na solução de problemas diários – no plural mesmo. São tantas as agruras, e as consequentes soluções, com muitas traições no meio, que o espectador não consegue desgrudar os olhos da tela.
Suits é também um bom aprendizado sobre o mundo dos negócios. Por isso, resolvi listar dez mandamentos que os fãs (virei um) podem se apegar ao assistir Harvey Specter (personagem principal, interpretado por Gabriel Match) e seus colegas:
- Confiança: desconheço personagem que confie mais em seu taco do que Harvey Specter. Ele é charmoso, bonito... muitas vezes arrogante. Porém, é também o mais eficiente advogado de Nova York. Jamais perdeu um caso. E tem certeza de que nunca perderá. Harvey é tão confiante que não deixa brecha para seus inimigos questionarem sua qualidade. Diferentemente dele, Louis Litt, seu sócio, é inseguro, apesar de competente. E só chega ao auge da carreira quando decide se impor.
- Trabalho em time: todos os personagens têm personalidades fortes, mas o passar das temporadas firma a necessidade de trabalho em equipe. Não há um episódio em que o trabalho seja solitário. Quando se aproxima o encerramento da série, o buraco do escritório está tão fundo que a luz no fim do túnel só é alcançada quando eles agem em conjunto.
- Sem medo de se desculpar: chega a ser engraçado, mas os personagens da série engatam uma sequência de pedidos de desculpas que toma quase todos os episódios das duas derradeiras temporadas. Há muita tensão em cena e um maltrata o outro. Solução: encarar a vítima do ultraje e assumir verdadeiramente um pedido de desculpa. Nada melhor do que ser verdadeiro, olho no olho, quando se erra.
- Aparência importa: é curioso observar como o desenrolar da trama dá muito mais atenção às roupas dos personagens. No piloto, que virou o primeiro episódio, as roupas são comuns, o que se segue na primeira temporada. Aí vem a virada de chave. Vestidos, ternos, gravatas – os personagens não poupam dinheiro para aparecer bem. É uma marca de Suits (termo que pode ser traduzido por “terno” em português, além de “processo, ação judicial”). Harvey chega a mandar seu pupilo, Mike Ross, comprar roupas em seu alfaiate. E diz: “as pessoas respondem ao modo como estamos vestidos. Gostando ou não, é isso o que você tem de fazer”. O “Estilo Harvey” é um chamariz incrível para a série – mesmo que seja o clássico “homem másculo”. O terno sempre alinhado, completo com o colete, impõe.
- Contrate pessoas mais inteligentes: a turma de amigos do escritório é inteligente, e por isso mesmo sabe que há pessoas melhores em determinados aspectos. Para ter sucesso empreendendo, você precisa de pessoas capazes de levar a empresa a outro patamar. Este é o mote para Harvey contratar Mike. Há inúmeros exemplos. Donna, secretária de Harvey, é muito melhor que ele em operar nos bastidores. E por diversas vezes sabe-se que Louis Litt é o fera da área financeira, deixando os demais “no chinelo”.
- Tome riscos, mas não seja louco: Suits é tomada de decisão o tempo todo. E a maioria das decisões pode colocar um negócio a perder. Os advogados arriscam a cada segundo, mas nem por isso são “loucos”. Como trabalham em time, conseguem perceber quando algo está indo além do necessário.
- Trabalho, trabalho, trabalho: há personagens geniais, mas a maioria das ideias aparece somente depois de muito trabalho. No escritório não há horário para término do expediente. Não que seja obrigação. Ler, pesquisar, conversar, se preparar para o dia seguinte, para a reunião. Pontos essenciais. Evidentemente, a ficção até passa do ponto, porque os advogados praticamente vivem 24 horas por dia trabalhando. E em tela se percebe que a vida pessoal não pode ser deixada de lado. Mas fica a lição de que sem trabalho duro não há resultado.
- Não desista de buscar uma solução: clássico da série. Harvey pergunta para Mike: “Quais são as suas escolhas quando alguém coloca uma arma na sua cabeça?”. Mike responde: “Do que você está falando? Você faz o que estão mandando ou eles atiram em você.”. Harvey retruca: “Errado. Você pega a arma ou você tira uma maior e aponta para ele. Ou você assume que ele está blefando e escolhe qualquer umas das outras 146 opções”. O que o protagonista de Suits indica é que sempre é possível pensar em uma alternativa. Mesmo que não dê resultado, há uma (ou muitas) alternativa. E, claro, Harvey gosta de mudar o jogo e contra-atacar.
- Entre em acordo: Harvey jamais perdeu um caso, mas sua estratégia é clara – resolver antes de ir a julgamento. O sucesso é garantido no campo que ele tem as armas e pode influir. Em um tribunal, isso escapa de suas mãos e vai para o juiz ou para o júri. Harvey consegue o que quer, mas busca sempre decidir antes. Quando as duas partes ganham, melhor para todos.
- O mundo dá voltas: um ponto interessante da série é que derrotados não se dão por vencidos. Quem se dá mal em um episódio pode voltar adiante cheio de poder. O mundo dá voltas e o que se faz hoje pode ser cobrado amanhã. O mesmo vale para quem faz o bem. Quantas vezes há cobranças de favores na série? Centenas! Quem ajuda uma pessoa hoje, amanhã pode ser ajudada ou cobrar o favor.
No final, dá certo: se não desse certo, não teria espectador interessado em uma série de televisão. Entretanto, o que Suits mostra, ao término de suas nove temporadas, é que o bem vence o mal. Harvey e colegas muitas vezes vão ao limite para ganhar, mas têm como objetivo um bem maior. Não que os fins justifiquem os meios. O que fica de mensagem é que pode estar ruim, mas uma hora, sendo correto, vem o sucesso.
*Danilo Vicente é sócio-diretor da Loures Comunicação
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