Os 7 mandamentos do Departamento de Prevenção à Inovação (e como combatê-los na sua empresa)
O DPI é um reflexo da estrutura de grandes empresas e pode atrapalhar o desenvolvimento, mas também pode ser combatido com ações práticas e empáticas
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Publicado em 20 de junho de 2023 às 12h10.
Por Carolina Nucci Nishiyamamoto*
O Departamento de Prevenção à Inovação (DPI) pode parecer uma piada de mal gosto, mas é bem real. Ele é representado por aquelas áreas ou pessoas que parecem existir só para bloquear o andamento das iniciativas inovadoras e está disfarçado em processos tão complexos e engessados que tornam a inovação uma corrida de obstáculos fadada ao fracasso. Mas o DPI não atua de forma proposital com o intuito de atrapalhar a inovação e o futuro das organizações. Ele é apenas um reflexo da complexidade de grandes empresas:quanto maior e mais centenária a estrutura, maiores são as amarras para garantir alinhamento.Ainda que o DPI seja algo inerente a estruturas complexas, isso não quer dizer que ele não deva ser combatido ou ressignificado. Por esse motivo, de forma descontraída (porém bastante fidedigna), mapeamos 7 mandamentos do Departamento de Prevenção à Inovação.
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Mandamento 1: Não se misturarás
Quanto maior é a empresa, mais dividida em silos ela é. E o DPI não só gosta de formar silos, como trabalha para mantê-los desconectados entre si. Essa construção apartada muitas vezes gera direcionamentos contraditórios e até disputas entre áreas. Com isso, provoca retrabalho, desalinhamento e inércia do negócio gerados por ele.
Mandamento 2: Criarás políticas para tudo
Movido a padrões, procedimentos e auditorias, o DPI parece que tem uma meta de aumento de burocracia. Quanto mais processos, mais camadas e mais etapas de aprovação, menor é o risco operacional. Mas o que o DPI não percebe é que esse engessamento se transforma em uma barreira enorme ao teste de novas abordagens.
Mandamento 3: Não mexerás em time que está ganhando
O velho ditado "em time que tá ganhando não se mexe" foi, na verdade, inventado por uma pessoa do Departamento de Prevenção à Inovação. A maior proteção a qualquer nova iniciativa é se apoiar nos resultados que garantiram o sucesso da empresa desde o início. No entanto, o que o DPI insiste em não ver é que o ritmo das mudanças no contexto digital põe em cheque qualquer estabilidade. Nesse cenário, ao invés de proteger o negócio, o DPI aumenta a miopia da empresa.
Mandamento 4: Quando em dúvida, sempre dirás "não"
O não é confortável, dá menos trabalho, protege de eventuais problemas. Mas o não inibe a conexão, a construção colaborativa, a experimentação, a inovação.
Mandamento 5: Não aceitarás erros
Não faz parte da natureza do DPI aceitar erros. Desse comportamento saem duas consequências ruins. A primeira é pragmática: ao tentar tanto acertar de primeira, o risco é muito maior. Já a segunda é uma consequência cultural: um ambiente que não tolera o erro inibe a capacidade criativa do time e, com isso, a possibilidade de encontrar novos caminhos para resolver os novos problemas que surgem todos os dias.
Mandamento 6: Deixarás os projetos morrerem no papel (ou no ppt)
Em raros momentos de lucidez, o DPI chega a dar corda a algumas novas iniciativas que, por ventura, passaram por todas as camadas de prevenção à inovação. Se esses primeiros passos inovadores surgem sem que o DPI flexibilize os mandamentos, a inovação não passa de um vôo de galinha – afinal, gerar e priorizar ideias é só o começo. Toda a criatividade e euforia desses programas morrem em uma apresentação de powerpoint.
Mandamento 7: Não ouvirás
Esse, com certeza, é o mais danoso mandamento do Departamento de Prevenção à Inovação. O DPI não sente necessidade de absorver outras opiniões e não vê valor em ir até o cliente, pois acreditam que já sabem tudo o que precisam saber com as suas suposições ou com relatórios de pesquisas de mercado . Essa surdez seletiva diminui as chances de antever e identificar as mudanças de contexto e comportamento das pessoas e só aumenta a miopia da operação.
Para combater o DPI, é preciso uma maratona (e não um tiro curto)
Enfrentar o DPI exige um pouco do uso das suas próprias regras para hackear o seu próprio sistema aos poucos:
- Empatize com o DPI: Do mesmo jeito que dizemos que o DPI não é empático e não escuta pontos de vista diferentes do seu, não podemos achar que vamos enfrentá-lo sem entender suas dores, necessidades e motivações. Por isso, calçar seus sapatos é o primeiro passo para encontrar um denominador comum.
- Una forças contra o DPI: Igual a você certamente há outras pessoas e times com vontade de explorar coisas novas. Quebrar a estrutura de silos é fundamental não só para unir forças, mas também para identificar necessidades em comum e pontos de melhoria.
- Sustente-se com dados e fatos: Apresentar cases de sucesso de empresas similares e pesquisas de institutos renomados com dados que atestem seu caminho são um ótimo primeiro passo para baixar a guarda do DPI.
- Apresente um plano para seu teste: Proponha um experimento com boas condições de contorno e com potencial de impacto de curto prazo. O DPI tende a ser bem menos resistente a passos menores e que gerem resultados de curto prazo.
- Plante o resultado como erva daninha: Quando você consegue demonstrar de forma prática que a inovação é um novo caminho que dá certo, outros times vão querer testar. Com isso, o impacto da inovação vai se alastrando como erva daninha.
- Se der errado, aprenda e tente de novo: Não desista nem na primeira e nem na segunda: deixe que essa trajetória, por si só, faça parte do seu aprendizado e da construção do seu case inspirador de inovação.
- Saiba reconhecer (e aproveitar) o que há de bom no DPI: Padrões, processos e documentações são muito úteis na organização de processos mais estáveis ou que demandem menor índice de erros (como em processos de qualidade ou regulamentações). Reconhecer que há utilidade no DPI é também uma forma de diminuir a resistência e alcançar um estágio de convivência pacífica e complementar.
*Carolina Nucci Nishiyamamoto é sócia e CMO na weme, co-founder Libri, board member da Women in Sales, mentora expert em Customer Centricity na Startse e TEDx Speaker.
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