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Mundo corporativo ainda deve na inclusão da comunidade LGBTQIA+, diz líder

Para CMO da Bankme, Rodrigo Vasques, ações devem ir além da abertura de vagas afirmativas e gerar discussões autênticas e transformadoras

Mundo corporativo ainda patina em diversidade e inclusão para a comunidade LGBTQIA+ (Bankme/Divulgação)

Mundo corporativo ainda patina em diversidade e inclusão para a comunidade LGBTQIA+ (Bankme/Divulgação)

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Publicado em 27 de junho de 2023 às 11h09.

Apesar do discurso sobre diversidade estar em alta no ambiente corporativo, na prática, a discriminação contra pessoas LGBTQIA+ no mercado de trabalho ainda persiste. Um exemplo é o fato de 38% das empresas afirmarem ter restrições para contratar lésbicas, gays, bissexuais, trans e demais, como mostra o estudo Demitindo Preconceitos, realizado com companhias de 14 estados brasileiros. 

“Antes eu não tinha consciência das microagressões no ambiente de trabalho, mas elas sempre existiram”, diz o profissional de marketing Rodrigo Vasques, atual CMO da Bankme, a primeira fintech a oferecer a solução de Mini Bancos no Brasil.

Diversidade e prosperidade

Fundada em 2020, na cidade de Londrina, no Paraná, a Bankme – que faz com que empreendedores facilitem crédito para seus clientes, com recursos como antecipação de recebíveis e empréstimos – despontou rapidamente e atingiu a marca de mais de 70 Mini Bancos sob gestão, para clientes como Inc Empreendimentos, Rondopar, Tmov e Hydronorth, assim como mais de R$ 500 milhões movimentados pela plataforma apenas em 2022. O crescimento se deve em parte à cultura da organização, que leva temas como diversidade e inclusão a sério, com o time operacional composto por uma maioria de mulheres, além de uma pessoa LGBTQIA+ no C-Level.

“Durante grande parte da minha carreira, eu não tinha o sentimento de pertencimento nas empresas. Muitas vezes, me sentia sozinho naqueles ambientes, que inclusive passamos grande parte do nosso tempo. A falta de representatividade sempre me incomodou muito. Hoje posso experimentar um trabalho mais dinâmico, com uma cultura mais jovem e mais parecida com o que eu acredito”, diz Rodrigo.

A Bússola conversou com Rodrigo Vasques sobre as barreiras, aprendizados e oportunidades no mercado de trabalho para membros da comunidade LGBTQIA+, na visão de um profissional com mais de 15 anos de experiência e passagem por gigantes do mercado, como Livraria Saraiva, Net, Thomson Reuters, além das startups unicórnio Rappi e Unico, antes de chegar à Bankme para liderar o departamento de Marketing e Growth.

Bússola: Quando você percebeu que o mercado de trabalho poderia ser hostil com você e como se sentiu com isso?

Rodrigo Vasques: Foi logo nos processos seletivos para trainee. Eu estava nas etapas finais de um e tinha que fazer uma apresentação sobre mim para uma mesa de dez diretores. Lembro que todos os candidatos estavam aguardando para se apresentar de terno e gravata e eu era o único que estava com uma camisa polo mais colorida. Quando chegou a minha vez, fiz a minha apresentação e, durante as perguntas, um diretor questionou sobre eu ser “mais casual”, entre aspas mesmo, e perguntou se eu achava que ia causar uma boa impressão assim. Respondi que fui mostrar o meu trabalho e o profissional que sou e, se eu estivesse de outra forma, não seria eu. Passei de fase, mas aquilo me marcou muito.

Bússola: O que as pessoas LGBTQIA+ mais enfrentam no ambiente corporativo?

Rodrigo Vasques: Quando tratamos da comunidade LGBTQIA+, estamos falando de pessoas que passam por situações diversas de preconceito. Em um país desigual e dividido como o Brasil, a situação é ainda pior. No mundo corporativo, esse preconceito muitas vezes é velado. Ele vem na forma de comentários "despretensiosos", brincadeiras e piadinhas que são microagressões, afetando a autoestima e até mesmo o desempenho dos profissionais. 

Bússola: Quais foram as medidas que você tomou para enfrentar esses desafios?

Rodrigo Vasques: No primeiro momento, eu me afastei do trabalho tradicional, juntei uma boa grana e fui empreender. Eu fugi do problema para tentar me entender, mas vi que ele me acompanharia aonde quer que eu fosse. Quando resolvi voltar pro mercado, eu não queria passar pelas mesmas angústias de antes, então procurei empresas em que os valores estavam mais ligados à diversidade e inclusão e que tinham uma cultura já mais evoluída. Eu tive o prazer de passar por empresas que tinham seus movimentos internos, grupos LGBTQIAP+, ações de conscientização, e eu integrei esses grupos, me senti parte, me renovei, me atualizei sobre o tema e a causa. Depois, assumi um lugar de fala em cada empresa que trabalhei.

Bússola: Quais fatores colaboram para um local mais diverso e inclusivo nas companhias?

Rodrigo Vasques: As empresas precisam ter programas claros e abrangentes de diversidade e inclusão e divulgá-los. Além de abrir vagas afirmativas, precisam se preparar culturalmente para quebrar estereótipos e preconceitos dos colaboradores, começando pelas lideranças. Só assim poderão dar oportunidades realmente iguais para qualquer pessoa, independente de orientação sexual, gênero, raça ou qualquer coisa. Na Bankme nós temos iniciativas importantes, como o Banco de Talentos de D&I, grupos de discussão e ciclo de palestras. Ainda temos muito o que implementar, mas aqui eu vejo uma abertura importante para isso e principalmente uma evolução nesse sentido, o que me mantém motivado e disposto a evoluir junto com a empresa.

Bússola: Qual é a sua percepção geral a respeito desse tema ao longo dos seus 15 anos de atuação no mercado?

Rodrigo Vasques: Hoje eu vejo que os profissionais LGBTQIA+ se empoderaram e perceberam que também merecem ser felizes no trabalho e, na maior parte do tempo, estarem rodeados de pessoas com quem se sintam bem. Pra mim, conhecer os valores das empresas passou a ser um direcionador profissional com muito mais peso. É um divisor de águas fazer parte de um ambiente diverso, se sentir acolhido e admirado por quem se é - sem risadinhas de canto, olhares tortos ou brincadeiras de mau gosto.

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