Glossário ESG: edição para indicadores e mecanismos de avaliação
Indicadores e mecanismos de avaliação de ESG medem desempenho em sustentabilidade com objetivos distintos
Bússola
Publicado em 15 de março de 2022 às 13h04.
Última atualização em 15 de março de 2022 às 13h36.
Por Danilo Maeda*
Há um tempo, escrevi aqui que sustentabilidade é uma sopa de letrinhas. Há uma diversidade enorme de metodologias, ferramentas e conceitos que tratam dessa agenda tão relevante. Cada uma com sua sigla. É até natural, afinal os problemas que precisamos resolver são muitos e muito grandes. Só em conceitos e metodologias, podemos falar de ESG, TBL, CSV, RSC e EoM, entre outras. Sem falar nas instituições e índices, como GRI, CDP, IFRS, ISSB, SASB, ISE, DJSI — e por aí vai.
Essa complexidade dificulta o entendimento e o engajamento das pessoas com o tema. Por isso, disponibilizei na época um pequeno glossário de conceitos em ESG. Não é um exercício de valor acadêmico em que tenha buscado o máximo de precisão das definições — outras pessoas podem entender os conceitos de outra maneira —, mas pode ajudar a dar sentido e organizar o pensamento.
Hoje, trago a “segunda edição” do glossário, desta vez focada em indicadores e mecanismos de avaliação. Eles são diversos e tentam medir diferentes aspectos do desempenho em sustentabilidade, com objetivos distintos. Alguns frameworks respondem melhor a demandas do mercado financeiro, outros estão focados em temas específicos e há também os que procuram consolidar tudo como mecanismos de gestão.
Conhecer essas ferramentas será fundamental para escolher a mais adequada à sua realidade. Quem faz reparos domésticos sabe que não é recomendável pregar um parafuso. E que em caso de dúvidas é melhor procurar um especialista.
Global Reporting Initiative (GRI): principal referência para relatórios de sustentabilidade, que além de serem ferramentas de transparência e engajamento de stakeholders funcionam como mecanismo de gestão para sustentabilidade. É composto de guias que orientam sobre o processo de relato e cadernos de indicadores recomendados para diversos temas relevantes às organizações que desejam monitorar seu desempenho em temas ambientais, sociais, econômicos e de governança.
Pacto Global: iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) destinada ao setor privado. Com mecanismo de adesão voluntária, as empresas signatárias se comprometem a cumprir dez princípios universais nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção e reportar anualmente sua evolução e desempenho nesses aspectos.
ISE, DJSI, FTSE4Good: índices de ações que reúnem empresas com bom desempenho em mecanismos de avaliação específicos. O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da B3, foi reformulado recentemente e é composto por questionários que avaliam o desempenho em sete diferentes dimensões (ambiental, econômico-financeira, geral, governança, mudança do clima, natureza do produto e social).
International Sustainability Standards Board (ISSB): lançado em novembro do ano passado durante a COP26 pela Fundação International Financial Reporting Standards (IFRS). Tem o desafio de estabelecer um conjunto global de parâmetros para divulgações de sustentabilidade com foco nos mercados financeiros.
O grupo irá consolidar padrões de divulgação já existentes, como os criados pela Value Reporting Foundation (VRF), que abriga os padrões da Sustainability Accounting Standards Board (SASB), do relato integrado e do Climate Disclosure Standards Board (CDSB). Como se vê, o resultado desta iniciativa deve ser uma simplificação da sopa de letrinhas (ao menos no mercado financeiro), com maior comparabilidade entre os dados reportados pelas empresas.
Sustainability Accounting Standards Board (SASB): oferece padrões com temas materiais listados por diversos setores econômicos, bem como listas de indicadores recomendados para acompanhar o desempenho nesses temas. É uma ótima referência e pode funcionar como ponto de partida para desenvolver estratégias de sustentabilidade e para avaliações de materialidade.
Climate Disclosure Standards Board (CDSB): oferece modelo de relatório para impactos no capital natural e informações sobre aspectos ambientais dos negócios. Foi incorporada à Fundação IFRS para apoiar o trabalho do ISSB.
Task Force for Climate-related Financial Disclosures (TCFD): criada pelo Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês) para melhorar e aumentar a divulgação de informações financeiras relacionadas ao clima. Oferece orientações sobre métricas, objetivos e planos de transição para uma economia de baixo carbono.
Integrated Reporting Framework: modelo de relatório que compreende o mecanismo de geração de valor como um processo integrado no qual interagem diferentes capitais (financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social e de relacionamento e natural). O princípio por trás do modelo é que um ciclo de pensamento e relato integrados levam à alocação eficiente e produtiva de capital e funcionam como força para conferir estabilidade financeira e sustentabilidade às organizações.
Certificação B Corp: selo conferido pelo B Lab para empresas aprovadas em um processo amplo de avaliação, que considera desempenho em uma série de aspectos sociais e ambientais. Para isso, é preciso responder ao questionário, que se adapta a diferentes setores e portes de empresas. A análise é realizada em cinco áreas: governança, trabalhadores, clientes, comunidade e meio ambiente.
Carbon Disclosure Project (CDP): oferece um sistema de divulgação para investidores, empresas e órgãos públicos gerenciarem seus impactos ambientais, especialmente em mudanças climáticas. É o padrão para relatórios ambientais mais utilizado no mundo e possui um amplo banco de dados.
ISO 26000: norma para certificação em responsabilidade social corporativa (RSC), com critérios e orientações sobre conceitos, tendências, princípios e práticas no tema, além de recomendações sobre engajamento de stakeholders e comunicação.
AA1000 Stakeholder Engagement Standard: norma de gestão de stakeholders criada pela AccountAbility. Orienta o trabalho de mapeamento, classificação e relacionamento com partes interessadas, com foco em promover um engajamento que empodera stakeholders como parte do processo decisório.
Sentiu falta de algum framework? Me escreva e vamos completar juntos essa sopa de letrinhas!
*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da EXAME.
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