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Gestão sustentável: viés de autovalorização é entrave para sustentabilidade

Esta semana, Danilo Maeda fala sobre a necessidade de mudança quanto a uma perceptível abordagem de gestão permissiva

Apenas 15% dos compromissos corporativos ligados aos ODS estão encaminhados (Ilker Celik/Getty Images)
Danilo Maeda

Head da Beon - Colunista Bússola

Publicado em 31 de outubro de 2023 às 17h31.

Última atualização em 31 de outubro de 2023 às 19h50.

Dizem que as pessoas preferem ouvir mentiras reconfortantes a verdades inconvenientes. Não sei se há algum estudo científico sobre o tema, mas me parece que este é um aspecto real no ambiente corporativo, com o agravante de que algumas mentiras agradáveis também são verbalizadas por organizações e lideranças que se percebem melhores do que realmente são.

Mais do que uma conclusão de alguém excessivamente crítico, trata-se de uma leitura objetiva. Veja por exemplo uma pesquisa recente da Accenture em parceria com o Pacto Global , da ONU, realizada com lideranças empresariais brasileiras. Segundo o levantamento, apenas 15% dos compromissos corporativos ligados aos ODS estão encaminhados. E quase metade (48%) das metas está em estágio fraco ou insuficiente, enquanto o progresso estagnou ou retrocedeu em 37% das metas.

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Os dados indicam que as entregas são percebidas como insuficientes – e de fato são, como verifica-se no Relatório Luz de 2023 *, produzido pelo Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030. Contudo, o grupo pesquisado aparenta dificuldade em se perceber como parte da origem do problema.

Em sua maioria, as lideranças percebem os erros do setor e das empresas em geral, mas não reconhecem que seja necessário melhorar seu próprio desempenho: 96% dos líderes empresariais afirmam entender o papel dos ODS na agenda de sustentabilidade, e 81% dizem que suas empresas fazem o suficiente para contribuir para os ODS. Ou seja, na autoavaliação, o entendimento é de que estaria tudo bem.

A régua muda quando a avaliação é externa. E quanto mais distante, mais crítica a percepção: o índice cai para 62% quanto à percepção de que sua indústria tem feito o suficiente. E com relação ao setor privado como um todo, a taxa vai a 48%. O cruel é que este último índice é o mais próximo da realidade, se considerarmos que a sociedade não avança nem perto do ritmo necessário para atingimento dos ODS , algo conhecido recentemente pelos próprios CEOs: o número dos que acreditam que o mundo alcançará os ODS até 2030 é quase metade hoje (49%) dos que afirmaram ser possível um ano atrás (92%).

Se continuarmos numa abordagem de gestão permissiva com relação às más práticas de gestão das externalidades provocadas pelo negócio, será impossível alcançar o desenvolvimento sustentável – sempre haverá uma justificativa para adiar decisões que tenham algum impacto no resultado imediato, mesmo que valham a pena para preservar o longo prazo.

Este é um cenário de futuro ruim para todos. É a tragédia dos comuns em nível global, provocada por uma epidemia de autoengano conveniente e impulsionada por vieses cognitivos que diluem a relevância do longo prazo e originam a ideia de que fazer o mínimo (ou por vezes menos que isso) é equivalente a salvar o planeta.

* Segundo o relatório, das 169 metas que compõem a agenda dos ODS, no último ano o Brasil teve 102 (60,35%) em situação de retrocesso, 14 (8,28%) ameaçadas, 16 (9,46%)  estagnadas, 29 (17,1%) com progresso insuficiente, três (1,77%) com progresso satisfatório, quatro (2,36%) sem dados suficientes para classificação, e uma (0,59%) que não se aplica ao país.

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