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ESG: o que você pode fazer pelo desenvolvimento sustentável

Uma boa estratégia de sustentabilidade precisa de foco e conexão direta com o negócio

Empresas que entregam valor socioambiental conseguem melhores resultados financeiros (Shutterstock/Divulgação)

Empresas que entregam valor socioambiental conseguem melhores resultados financeiros (Shutterstock/Divulgação)

Danilo Maeda
Danilo Maeda

Head da Beon - Colunista Bússola

Publicado em 3 de janeiro de 2023 às 16h30.

Última atualização em 13 de outubro de 2023 às 20h48.

“Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país”. A frase de John F. Kennedy captura uma ideia fundamental para o desenvolvimento sustentável, que é a centralidade do altruísmo e do senso de coletividade como elementos imprescindíveis para se obter o sucesso coletivo.

Isso é importante porque em vários aspectos sustentabilidade é um problema do tipo “tragédia dos comuns”. Essa é uma analogia utilizada para situações em que recursos compartilhados se esgotam por serem utilizados em ritmo superior à sua capacidade de renovação.

Ela se baseia na situação de pastores que compartilham uma parcela comum de terra na qual todos podem apascentar seus rebanhos. Se o número de animais ficar dentro de certo limite, a terra tem capacidade de continuar produzindo pasto para atender a todos.

Eventualmente, um ou mais pastores podem decidir aumentar seu rebanho para se beneficiar individualmente enquanto o custo em consumo de recursos (pasto, no caso) é compartilhado por todo o grupo. Conforme os demais fazem o mesmo, o limite sustentável da área será extrapolado e a terra não conseguirá mais se renovar. Em pouco tempo, o pasto se esgota e todos saem prejudicados.

A ideia é antiga. Ela foi expressa inicialmente pelo economista William Forster Lloyd em 1833, mas ficou famosa porque o ecologista Garrett Hardin a citou em um artigo de 1968. Desde então, costuma surgir em debates sobre escassez de recursos, sustentabilidade e até em defesas do controle de natalidade. Para mim, a analogia é particularmente poderosa para ilustrar como pode ser difícil e complexo criar mecanismos que incentivem um comportamento altruísta. Afinal, se pensarmos em termos de economia comportamental, é natural e esperado que as pessoas busquem maximizar seus próprios retornos, mesmo que isso gere prejuízos a terceiros ou a si próprio no futuro, que é quase a mesma coisa – parece existir uma tendência humana a negligenciar riscos que não se materializam imediatamente.

Portanto, a valorização da fraternidade, do propósito ou do “espírito heróico”, como propõem John Mackey e Raj Sisodia no já clássico Capitalismo Consciente, é de fato necessária para o desenvolvimento sustentável e para a regeneração. É evidente que em organizações com fins lucrativos essa premissa precisa ser conciliada com a geração de valor financeiro. Se sonhar é fundamental, executar com pragmatismo é o que paga as contas.

A boa notícia é que as evidências têm demonstrado como essa conciliação não é só possível, mas frequente e com correlações que se tornam cada vez mais claras. No longo prazo, empresas que entregam valor socioambiental e gerenciam bem seus impactos conseguem também gerar melhores resultados financeiros. Estabelecer o engajamento de stakeholders como mecanismo de gestão pode parecer dispersão de esforços, mas é um diferencial competitivo e estratégico que permite antecipar riscos e oportunidades.

Continuo acreditando que uma boa estratégia de sustentabilidade precisa de foco e conexão direta com o negócio. Mas, para ser sustentável de verdade, vale parafrasear a declaração que abriu este texto: não pergunte apenas o que sua estratégia de sustentabilidade pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer pelo desenvolvimento sustentável.

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