Gestão Sustentável: riscos globais e o valor da verdade
Esta semana, Danilo Maeda fala sobre o efeito da desinformação e a necessidade de uma sociedade com senso crítico mais apurado
Head da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 18 de janeiro de 2024 às 07h00.
O esperado (e largamente comentado) relatório de riscos do Fórum Econômico Mundial veio com um fator inédito de destaque em 2024.
Pela primeira vez, a preocupação com " informações falsas e desinformação " apareceu com destaque no levantamento feito com 1400 lideranças empresariais em 113 países.
Na visão de longo prazo (10 anos), o tema é o 5º mais relevante e na de curto prazo (2 anos) está no topo da lista de principais riscos mapeados.
Não farei aqui um resumo geral do relatório, pois vários deles já estão disponíveis na imprensa e redes sociais. Recomendo apenas a leitura criteriosa e crítica desse volume assombroso de informação, uma vez que – como a própria pesquisa indica – o risco da desinformação é altíssimo nos dias atuais.
Contudo, me parece relevante destacar:
- Qual o antídoto para este que se tornou o principal risco de curto prazo em todo o mundo ?
- Se informações falsas e desinformação atingem níveis mais graves à medida que as ferramentas de Inteligência Artificial viabilizam a falsificação em massa de vídeos e fotos, como podemos nos proteger ?
- Existe esperança em um mundo no qual a verdade parece ser apenas um detalhe produzido por quem melhor manipula as ferramentas de comunicação baseadas em tecnologia ?
Perguntas retóricas não pedem resposta, mas como autista não consigo deixar as coisas “ em aberto ”, suspensas. Então minha resposta simples é que sim, existe remédio. E ele passa pela valorização da verdade.
Explico:
O debate sobre o tema da desinformação tem se centrado em seu aspecto tecnológico – provavelmente pelo assombro que o desenvolvimento acelerado das IAs nos causa.
A regulação e bom uso das ferramentas de fato merece atenção, mas é igualmente relevante estabelecermos uma cultura – ou uma mentalidade, como dizem os historiadores - que valorize a verdade.
Precisamos que cada pessoa exerça cotidianamente o verdadeiro espírito crítico.Se a produção de conteúdo falso está mais verossímil, é preciso desconfiar de tudo. E mais que isso: é necessário que se aprenda a checar informações, fazer perguntas e levantar evidências.
É provável que as interações cotidianas fiquem mais custosas, na medida em que compreendemos que qualquer informação compartilhada é possivelmente falsa, exceto por aquelas veiculadas em canais de reconhecida credibilidade.
Aliás, se credibilidade fosse um ativo financeiro , receberia meus investimentos. É nesse ativo que se baseia a atuação da imprensa, que tradicionalmente exerce esse papel de filtro de informações e guardiã dos métodos que permitem uma apuração precisa daquilo que é de interesse público.
A imprensa
Por questões sociais, econômicas e técnicas, seu papel tem sido fortemente questionado e sua relevância foi enfraquecida nos últimos anos.
Mas a partir do momento em que reconhecemos a desinformação como um grande risco para nossa sociedade e economia, se estabelece uma oportunidade para resgate do papel social do jornalismo como provedor de informações confiáveis, idôneas e verdadeiras.
- Isso passará por um exercício desafiador, que é instrumentalizar a sociedade como um todo para a checagem de informações e leitura crítica de conteúdos.
Em um ambiente de hiperconectividade e bombardeio constante de dados – em grande parcela falsos –, o modelo que centralizava os filtros de credibilidade na grande imprensa não será suficiente.
Mais do que agências de checagem, precisamos de leitores e leitoras capazes de distinguir o que é crível do que é possivelmente falso, com disposição inclusive para apontar verdades que enfraqueçam sua posição ideológica.
Nas discussões mais teóricas do jornalismo costumamos tratar de comoa verdade é uma utopia, um conceito relativo que pode comportar versões por vezes contraditórias de um mesmo fato.
Mas diante dos riscos que vivemos, é uma utopia que merece ser perseguida.
Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube
Veja também
O que esperar da agenda ESG em 2024?