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“Fintechização” é aposta de empreendedores para cenário de negócios em 2023

Empreendedores apontam aperfeiçoamento da experiência do cliente como uma das prioridades do setor no decorrer do ano

Brasil lidera ecossistema de fintechs na América Latina (Getty Images/Getty Images)

Brasil lidera ecossistema de fintechs na América Latina (Getty Images/Getty Images)

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Publicado em 2 de janeiro de 2023 às 17h00.

Última atualização em 2 de janeiro de 2023 às 17h18.

Mesmo com a retração do ambiente de negócios no Brasil em 2022, que passou por aumento da taxa de juro, inadimplência e diminuição dos investimentos em novas empresas, o setor de fintechs se manteve firme. Para empreendedores que atuam neste mercado, como Daniel Magalhães (Virgo), Thiago Eik e André Bravo (Bankme), Marcelo Villela (Bulla) e Fernando Dias (Migo Money), a perspectiva para o próximo ano se mantém otimista, com aposta no movimento de “fintechização” das empresas.

O cenário atual alimenta as boas perspectivas. De acordo com estudo recente do Centro de Pesquisas Econômicas e Empresariais (CEBR), o Brasil lidera o ecossistema de fintechs na América Latina e está entre as dez indústrias mais desenvolvidas entre os países avaliados.

Para Daniel Magalhães, fundador e CEO da Virgo, plataforma de acesso a capital para empresas e projetos de médio porte, o mercado entendeu o benefício e a vantagem competitiva de fintechs focadas em inovar a infraestrutura do setor financeiro e de capitais, buscando mais eficiência e uma melhor experiência para os participantes. “Apesar das adversidades e baixa nos investimentos, diversas startups nesse segmento captaram recursos e têm conseguido crescer”, diz.

Da mesma forma, Thiago Eik, CEO da Bankme, startup pioneira na solução de minibancos que permitem que empresários ofereçam crédito de forma simples, transparente e sem intermediários, acredita que cada vez mais empresas de todos os portes vão buscar as inovações das fintechs. “Consideramos muito positivo esse movimento de companhias adotarem práticas de fintech, principalmente para o nosso negócio, já que criamos e operamos integralmente as estruturas financeiras para os clientes. Em 2022, percebemos um aumento na procura por mini bancos pelos segmentos imobiliário e de logística, que começam a enxergar oportunidades dentro do seu ecossistema, se tornando protagonistas na oferta de crédito”, declara.

“Uma coisa que precisamos ter em mente é que o capital é combustível para o crescimento das empresas, então viabilizar soluções de crédito ajuda a fomentar o trabalho delas e impacta positivamente a economia do país como um todo”, complementa o CEO da Bankme.

O ano de 2022 também foi marcado por mudanças que impulsionaram o mercado financeiro e, como consequência, as fintechs, que puderam expandir a atuação no setor. É o caso da regulamentação no registro de recebíveis de cartão, que proporcionou maior transparência e segurança às negociações, e o Marco Regulatório das Securitizadoras, que permitiu a emissão de Certificados de Recebíveis (CR) por esses negócios, ampliando as possibilidades para empreendimentos em busca de financiamento privado. A consequência desses avanços é a maior facilidade na disponibilização do crédito no Brasil, que agora pode chegar a quem antes não tinha acesso, com taxas de juros mais justas ao consumidor.

Tendências

Com menos entraves para o crédito transitar no país, a expectativa é que as fintechs aproveitem esse movimento para resolver problemas reais dos clientes, com um modelo financeiro sustentável. Para Marcelo Villela, CEO do Bullla, fintech de crédito com foco nas classes C e D, a falta de aportes financeiros não será um problema em 2023, já que sempre existirá recursos e oportunidades para negócios com soluções inteligentes que enderecem lacunas de seus ecossistemas.

“Para as startups, o maior desafio será criar modelos de negócio sustentáveis que buscam resolver problemas reais da comunidade nas quais estão inseridas. Necessidades latentes e tendências de mercado atualmente, que podem ser ótimas sinalizadoras destas oportunidades são: a questão do bem-estar, o tema de segurança e ferramentas antifraude no mundo digital, o ESG, o e-commerce com venda direta nas redes sociais ou mesmo a simples individualização da experiência do cliente são alguns exemplos. Contudo, o importante é que esteja endereçando uma dor real das pessoas ou empresas. Sempre existirá capital para bons projetos”, afirma Villela.

André Bravo, COO da Bankme reforça que, especificamente no setor de soluções de crédito para empresas, é necessário se atentar às necessidades do público. “Os clientes procuram soluções cada vez mais personalizadas, então é importante focar em tecnologia, ter API’s para conectar no sistema do cliente, ouvir os feedbacks e aprimorar as soluções. Hoje, além do mercado de logística, enxergamos muito potencial na área médica, com oferta de crédito para clínicas e profissionais”, declara.

As fusões e aquisições, que auxiliam na entrada em novos mercados, ampliação da base de clientes e incorporação de tecnologias, também estão no horizonte dos empreendedores para o próximo ano. Como explica Daniel Magalhães, da Virgo:

“Muitas startups possuem teses semelhantes ou produtos complementares e faz sentido uma junção de competências para fortalecer as vantagens competitivas e garantir a relevância do negócio. Na Virgo, estamos analisando algumas oportunidades dentro dessas teses para incorporar produtos de crédito para nossos clientes de médio porte, assim como apostar em empresas de dados e tecnologia que possam ajudar a acelerar esse aspecto do negócio. Somos uma empresa bastante associativa e hoje temos parceria com mais de cinco startups, buscando desenvolver soluções conjuntas que tragam eficiência, maior transparência e menores custos para todos os participantes do mercado de capitais”, diz Magalhães.

O executivo Orlando Cintra, fundador e CEO da associação de investimento-anjo da BR Angels, que já incentivou diversas fintechs, concorda com os benefícios das parcerias entre negócios do setor, inclusive com empresas de fora do mercado financeiro, como educação ou agronegócio. “As startups que resolvem problemas específicos desses nichos, como inadimplência ou crédito, têm muitas oportunidades pela frente. É óbvio que o cenário econômico global gerou mais restrições à captação de recursos para novas empresas, mas a demanda por serviços financeiros inovadores e digitais está longe de se esgotar em um mercado ainda carente e mal atendido, a despeito da melhoria promovida pelas fintechs já estabelecidas e pela digitalização dos bancões”, diz Cintra.

Por fim, segundo Fernando Dias, Diretor Geral Brasil da plataforma de empréstimo integrada Migo Money, o principal ponto de atenção para o setor é a troca de governo nos primeiros dias de 2023, que gera observação e incerteza. “Essa incerteza é normal e saudável, mas vale lembrar que vivemos em uma democracia plena, onde temos acesso aos políticos para que possamos negociar o que queremos para o nosso mercado. Acredito que o brasileiro já aprendeu que, seja qual for o governo, precisamos continuar investindo, crescendo, gerando inovação e melhoria. As fintechs são um ator importante para o país e temos que atuar no nosso mercado e na relação com os governantes para que possamos ter o melhor e mais justo mercado para todos”, afirma.

“Sabemos que empreender no Brasil não é uma tarefa fácil. É algo que precisa de muito know-how, jogo de cintura, criatividade e resiliência. Mas é uma realidade do país que estamos construindo e não podemos parar. Vamos continuar a empreender e inovar pois assim teremos um país forte”, declara Dias.

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