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ESG: Olimpo ESG e o mundo real

Enquanto a discussão sobre aspectos ESG ocupa fóruns privilegiados, no mundo real as pessoas estão ficando para trás

Nunca se falou tanto sobre sustentabilidade e impacto social (Claus Völker/Getty Images)
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Bússola

Publicado em 20 de setembro de 2022 às 07h20.

Por Danilo Maeda*

De vez em quando, é válido lembrar os motivos pelos quais fazemos as coisas. O propósito que nos move pode se perder em meio ao barulho e preocupações cotidianas. Entendo que é o caso da agenda 2030 no momento atual. Parece que foi ontem, mas já estamos na metade do caminho traçado em 2015 e a promessa de não deixar ninguém para trás corre o risco de ser substituída pela criação de novos mercados que prometem regeneração, mas nem sempre entregam impactos positivos.

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Nunca se falou tanto sobre sustentabilidade e impacto social, mas apenas um terço das crianças de 10 anos no mundo sabem ler. Ocupamos espaços de poder e visibilidade para falar sobre a sofisticação dos indicadores ESG e seu potencial de geração (ou captura) de valor, mas nos preocupamos pouco em tornar a agenda mais acessível para a maioria das empresas brasileiras, que não possuem estratégia de sustentabilidade (apenas 37% empresas grandes e médias adotam tal prática).

Discutimos em detalhes e com argumentos sofisticados como demonstrar a conexão entre investimentos socioambientais e resultado financeiro (que nem sempre é direta), ao ponto de desconsiderar que não existem negócios saudáveis em sociedades doentes. Colocamos tanta energia para convencer o mercado que sustentabilidade faz sentido para o mundo corporativo e acabamos trocando o fim pelo meio.

Do Olimpo, gastamos anos discutindo entre iguais (com um ou outro token de diversidade, para aliviar a culpa) os conceitos e as ressignificações com os quais iremos salvar a pele dos reles mortais. No mundo real, as coisas avançam lentamente. Ainda não houve tempo para traduzir estes debates à língua comum, mas o mundo real conhece por ver e viver. Os acordos são globais, mas os impactos e decisões acontecem localmente.

Boas ações isoladas são positivas e até louváveis, mas não há o que comemorar quando não avançamos concretamente em relação aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (aqueles pelos quais prometemos não deixar ninguém para trás): Como demonstra o Relatório Luz 2021, produzido pelo Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030 ( GT Agenda 2030 ), o país não avançou em sequer uma das 169 metas que compõem os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS): Temos 92 (54,4%) em retrocesso; 27 (16%) estagnadas; 21 (12,4%) ameaçadas; 13 (7,7%) em progresso insuficiente; e 15 (8,9%) que não dispõem de informação.

Enquanto a discussão sobre aspectos ESG ocupa fóruns privilegiados, no mundo real as pessoas estão ficando para trás. Crises sociais, ambientais e econômicas atingem desproporcionalmente pessoas mais vulneráveis, que são exatamente aquelas com pouca ou nenhuma contribuição para a origem do problema. No caso das mudanças climáticas, por exemplo, o mundo todo é afetado, mas com a cruel distinção de que os mais pobres sofrem maiores impactos, pois faltam recursos para desenvolver soluções de adaptação e compensar a indisponibilidade de serviços ecossistêmicos.

A transição justa para um mundo verdadeiramente sustentável depende de novas soluções que utilizem tecnologia e inovação e de investimentos em larga escala. Mas também da ampla adoção de boas práticas, de políticas públicas baseadas em evidências e de mudanças culturais profundas que permitam a correta compreensão do que realmente importa.

*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB

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