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Carolina Fernandes: Desinfluencers ou a nova influência

“Sincerões” das redes sociais vêm influenciando a não comprar algum produto ou serviço ao mostrar pontos negativos

Tendência explodiu no TikTok  (EVA MARIE UZCATEGUI/AFP/Getty Images)

Tendência explodiu no TikTok (EVA MARIE UZCATEGUI/AFP/Getty Images)

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Publicado em 28 de abril de 2023 às 17h30.

Última atualização em 28 de abril de 2023 às 17h50.

Que os influencers exercem grande influência sobre seus seguidores e respondem por uma boa parte das vendas das empresas que os contratam não é novidade para ninguém. O novo aqui é um movimento que rema no sentido contrário, desestimulando as pessoas a comprarem determinado produto. São os chamados desinfluencers. Já ouviu falar neles? 

Parem de comprar!  

Essa é a principal mensagem que essa iniciativa anticonsumismo tenta transmitir através de seus vídeos. Esse comportamento surgiu nos EUA, sendo notado no Instagram e TikTok, mas já pode ser percebido no Brasil. 

Os “deinfluencers”, como são chamados, ganharam fama por serem “sincerões”, indo de encontro a opinião de famosos influenciadores, trazendo um outro ponto de vista que, até pouco tempo atrás, não existia ou não na mesma proporção. 

Basicamente, esses “desinfluenciadores” (outro termo utilizado para se referir aos mesmos), dizem aos seus seguidores que eles não devem comprar algo apenas porque um influenciador comentou a respeito e precisam resistir às tendências virais.  

A motivação pode ser a ausência de um real benefício ou necessidade daquele produto, ou evitar que as pessoas sejam enganadas sobre uma falsa qualidade/funcionalidade do mesmo. 

O tamanho da briga 

O marketing de desinfluência está em ascensão agora, mas não é algo recente. Para estudiosos, esse movimento sempre existiu, mas de forma não organizada e sem uma hashtag para chamar de sua. 

Afinal, quem nunca assistiu a um vídeo no YouTube com os famosos “unboxings” testando um produto ou um review apontando prós e contras? Quem nunca leu um resumo ou uma análise de livros, games e qualquer outra coisa em blogs que descrevia a opinião do autor sobre os mesmos? 

A virada de chave que deu a fama e proporção ao movimento foi o alcance/interesse que esse conteúdo ganhou no TikTok e a percepção dos próprios “desinfluencers” de que é possível monetizar esse tipo de vídeo, seja pela curiosidade que desperta e/ou por gerar um embate direto com influenciadores muito famosos, atraindo também a audiência destes. 

Para você ter uma noção do tamanho da briga, enquanto escrevo este artigo, a #deinfluencing no TikTok já atingiu mais de 488 milhões de visualizações e a #desinfluencer exatos 15.7 milhões. Embora também esteja presente no Instagram, a adesão ainda não é a mesma. 

Na opinião da doutora e pesquisadora em comunicação digital na USP e autora do livro “De blogueira a influenciadora”, Isaaf Karhawi, ”o Instagram é a plataforma em que os produtores de conteúdo mais fazem parcerias comerciais. Acredito que o Instagram ainda está concentrado em aspectos positivos da influência, mais ligado à lógica da estética, da imagem. E não à toa o TikTok recebe o título de ser uma plataforma mais “autêntica”, porque dá vazão a controvérsias e complexidades.” 

Segundo Isaaf, o último relatório anual de tendências do TikTok evidencia que conteúdos de desinfluência têm potencial para crescer mais em 2023, pois há interesse do público em publicações que desmascaram falcatruas ou inverdades.  

Onde vamos parar? 

O futuro que podemos vislumbrar mostra que há e haverá espaço tanto para influenciadores quanto para desinfluenciadores. No entanto, até por uma questão de credibilidade, é possível imaginar que as “publis” serão feitas de forma mais cuidadosa, preocupando-se em “vender” o que realmente faz sentido e funciona para a comunidade de cada influenciador. 

Agora, um ponto de reflexão: desinfluenciar também é influenciar, certo? Como afirma a analista de mídia social da Insider Intelligence, Jasmine Enberg, em entrevista ao jornal "The Guardian", “Dizendo o que não comprar, os criadores estão usando seu poder para influenciar as decisões de compra de uma população mais ampla. Eles apenas adaptaram a tendência para ressoar com os consumidores durante uma crise econômica.” 

Enfim, será que no futuro não tão distante, teremos desinfluencers sendo contratados  para criticar determinados produtos da concorrência? Será que, de fato, esse movimento alcançará o objetivo de reduzir o consumismo desenfreado e desnecessário? O tempo dirá! 

*Carolina Fernandes é CEO da Cubo Comunicação, palestrante, mentora do curso Marketing para Empreendedores e especialista em marketing e comunicação com mais de 20 anos de atuação passando pelas áreas de assessoria de imprensa, agência de marketing e mundo corporativo. 

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