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Carolina Alcoforado: Inovar em vez de reciclar

Novas maneiras de reciclar e minimizar o lixo precisam ser pensadas

Reciclar pode não ser o suficiente (Coca-Cola Brasil/Divulgação)
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Bússola

Publicado em 28 de outubro de 2022 às 13h30.

Não há dúvidas de que a reciclagem de materiais tem significado um grande avanço na preservação ambiental.  O tamanho do problema que temos pela frente na seara da proteção à natureza, contudo, requer a busca constante por novas soluções que se somem às que já vêm sendo implementadas. Não podemos nos restringir a uma ou poucas frentes de atuação. O cenário ideal é evoluirmos para reduzir ou eliminar a geração de produtos de origem não sustentável e, em paralelo, reforçar a reciclagem que for possível.

De acordo com um estudo de 2019 da ONG WWF (Fundo Mundial para a Natureza) e do Banco Mundial, somos o quarto produtor mundial de plástico. Em contrapartida, ocupamos o último lugar entre os que reciclam o material, com um índice de apenas 1%. De todo o volume de lixo reciclável que produzimos, o qual corresponde a 30% do total de resíduos gerados no país, 2,1% são efetivamente reciclados.

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O desafio da reciclagem é significativo e em um país de proporções continentais como o Brasil, existem problemas adicionais. Para realizar a reciclagem é necessário arcar com os elevados custos e desenvolver cadeias complexas para criar a logística reversa, necessária para que sobras e resíduos retrocedam na cadeia de suprimentos e o material descartado não se torne uma ameaça à natureza.

Além desta complexidade, temos o obstáculo da própria falta de conhecimento da população. No estudo global “Um mundo descartável – desafios das embalagens e do lixo plástico”, publicado pela consultoria Ipsos em novembro de 2019, 54% dos entrevistados no Brasil disseram não entender com clareza as regras de reciclagem de lixo doméstico em suas regiões. Esses dois fatores (falta de conhecimento e complexidade da logística reversa) se traduzem em números claros

Um ponto importante a ser lembrado também é o de que um material reciclado não mantém integralmente suas propriedades iniciais. Para adquirir condições de uso similares às de quando foi produzido inicialmente, muitas vezes, demanda a associação com componentes em estado original. Em última análise, isso significa que o retorno de um plástico usado ao ciclo produtivo não interrompe o surgimento de quantidades adicionais de materiais poluentes.

Com todo esse cenário, investir em desenvolvimento de tecnologias mais eficientes ou aplicações de fibras naturais e de baixo impacto ambiental é a melhor forma de reduzir a pegada de carbono na indústria. Itens biodegradáveis, compostáveis e sem a presença de microplásticos oferecem vantagens em relação aos produtos de origem fóssil. Eles se decompõem naturalmente pela ação de bactérias e fungos presentes no meio. Ainda que não sejam idealmente descartados em usinas de compostagem, onde há condições adequadas de temperatura, umidade e iluminação para que se dissolvam mais rapidamente, esses materiais não deixam resíduos tóxicos na natureza.

Grandes empresas têm se preocupado em minimizar o uso de materiais de origem fóssil em itens como embalagens. Esse movimento se explica também pela pressão que governos, organizações e os próprios consumidores exercem no sentido de reduzir a quantidade de poluição no meio ambiente. De acordo com uma pesquisa de 2021 da PwC, 63% dos consumidores brasileiros compram intencionalmente de empresas sustentáveis.

Com um consumidor mais consciente e a preocupação crescente de instituições em fazer melhor e de maneira mais sustentável, é importante buscar alternativas de produtos para suprir essa importante demanda. O uso de fibra celulósica de alto rendimento é um bom exemplo de componente biodegradável que tem potencial para substituir materiais poluentes. Sua aplicação inclui a composição de produtos para embalagens de papel-cartão, papéis do tipo tissue, toalhas de papel, papéis sanitários e guardanapos, entre outras. A fibra de alto rendimento se caracteriza por aproveitar mais de 90% da madeira, ante 50% da celulose convencional, e pela adaptabilidade a diferentes tipos de utilização.

Diante de muitos paradoxos e dificuldades, ainda há muito a ser feito. Muitas corporações assinam compromissos de redução de pegada de carbono, mas não delinearam ainda as rotas que vão percorrer para atingir o objetivo.

Na verdade, não existem fórmulas mágicas para transformações de volume avassalador em curtíssimo prazo. É necessário pensar estrategicamente em ações conjuntas, em atacar o problema sob diversos ângulos. Muitas das soluções podem estar na própria cadeia de fornecedores ou em escolhas que podem parecer pontuais, mas que, somadas, aos poucos conduzem a companhia para outro patamar de sustentabilidade.

Reciclar é preciso, mas não é suficiente. É um processo que requer ainda enormes aperfeiçoamentos e que precisa ser combinado com outras iniciativas, como a inovação no uso de materiais biodegradáveis e compostáveis.

*Carolina Alcoforado é COO da Melhoramentos

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