Liderança é uma ciência ou uma arte? (StockRocket/Thinkstock)
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Publicado em 4 de agosto de 2023 às 10h45.
Por Carlos Guilherme Nosé*
Os primeiros meses do ano não foram fáceis para boa parte das empresas, inclusive a minha. Em toda mudança e transição do governo federal sentimos esse cenário de espera e nada acontece. Dessa vez, não poderia ser diferente. Preparei o time para isso, mas não teve jeito, quando a tempestade chega, muita gente não aguenta e se desespera. Conversando com um dos nossos sócios, que tem menos de 3 anos de casa, ele me perguntou algumas vezes o que eu faria nesse cenário de “crise”. Menciono entre aspas porque eu sempre vejo como oportunidade. Voltando ao meu sócio, eu respondi a ele e a todo o time: Calma pessoal, estamos no início de janeiro, lá para o final de abril e começo de maio, tudo começará a melhorar. Vai passar.
Errei por algumas semanas, começamos a ver uma melhora no final de maio. Mas o que importa é: passamos por mais essa. Mas, o que isso tem a ver com o título desse artigo? Explico: para mim, liderar e desenvolver pessoas é saber dizer sim e não, tudo junto e misturado!
Precisamos impulsionar as pessoas a enxergarem fora de suas caixas. Ao mesmo tempo, precisamos freá-las de algumas ideias mirabolantes ou soluções que não façam sentido naquele momento. Muitas vezes, é necessário deixá-las experimentar, para poderem se desenvolver e sentir a “dor do dono”, a dor do líder. Como adoro fazer meus paralelos de liderança com esporte ou com nossa vida pessoal, ainda mais a minha com dois filhos adolescentes, aqui vai mais um exemplo.
Meu filho, contrariando a maioria da geração dele, quis tirar habilitação para dirigir (CNH) e ficou super feliz com a sua conquista. Tínhamos um combinado que se ele fosse aceito no vestibular da faculdade que queria, ganharia uma verba para a aquisição do seu tão sonhado carro. Como um garoto persistente que ele é, foi lá, estudou e conseguiu. Passou na faculdade e no extenso teste da CNH (nos meus anos como jovem adulto, era bem mais fácil).
Saí com ele dirigindo, eu no banco do passageiro fingindo tranquilidade e dando alguns toques e dicas de quem adora dirigir e já faz isso há mais de 25 anos. Ele, com toda a sabedoria de um garoto de 18 anos, só ia dizendo que sabia, que estava tranquilo etc. Um dos principais pontos que indiquei a ele foram as distrações para mexer no rádio ou no GPS e ele sempre respondendo: “tranquilo pai”. Com 3 semanas habilitado, recebo a ligação, dias atrás, às 11hs da manhã, de que ele havia batido o carro. Isso implica em um dos nossos combinados: a manutenção do carro eu pago, mas colisão, mal uso e qualquer estrago indevido, é por conta dele. Foi um dia tumultuado e cheguei em casa por volta das 18hs, e ele logo me fala: “Pai, me desculpe. Foi vacilo meu. Fui mexer no waze e me distraí por 3 segundos. O carro da frente parou e não deu tempo de frear. Pode ficar tranquilo que a franquia do seguro eu vou pagar”.
E aí? Você como líder de alguém, faz o que em uma situação como essa? Minha vontade era de passar aquele discurso de que eu tinha avisado, comentei exatamente esse risco que ele corria etc. Mas fui além e tive a tranquilidade (alguma luz divina me iluminou) de responder a ele o seguinte: “Henrique, olhando o copo meio cheio eu estou orgulhoso de você!”. Ele me olhou sem entender nada! E continuei: “Você assumiu seu erro sem titubear e sem querer arrumar outra desculpa. Além disso, sem eu te lembrar, você já trouxe que arcaria com o prejuízo. Isso é de uma maturidade e hombridade incrível. Parabéns! Com essas atitudes, você vai longe garoto!”
Fácil dizer e vivenciar quando é seu filho né? Engano seu. Horas depois estava a minha esposa (fazendo o papel do RH ou do gestor direto) dizendo “tadinho, ele já aprendeu com o erro dele, não o penalize, paga o seguro você”. Eu também estava com o coração doído, mas tive que dizer NÃO. Ele tem que aprender. No amor e na dor, ainda acredito que essa é a melhor maneira de aprendermos nossas lições.
E em nossas carreiras é o mesmo! Quantas vezes punimos demais ou de menos? Quantas vezes descemos na operação e dissemos “tudo bem, relaxa, eu resolvo”. Estamos desenvolvendo melhores profissionais? Estamos de fato sendo bons líderes? Ser um bom líder não é ser legal o tempo todo, assim como acredito que ser bom pai e boa mãe, não é ser legal o tempo todo.
Perguntei aos experts aqui da FESA e existe um consenso sobre Liderança ser uma Ciência ou uma Arte: Desenvolver pessoas é uma ciência, tendo em vista que existem técnicas para você estudar e se aperfeiçoar. Porém a liderança de alta performance coloca, além da técnica, sua individualidade, sua forma de ser com o objetivo de potencializar as habilidades e competências de cada um dos seres humanos que estão ali, com você no dia a dia, na trincheira, acreditando em você e dando a você o bem mais valioso que eles têm: tempo e conhecimento.
Não desperdice essa oportunidade!
*Carlos Guilherme Nosé é CEO da FESA Group
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