Beatriz Leite: creches para empreendedoras?
Pesquisa da Rede Mulher Empreendedora revela o que as escolas infantis e creches têm a ver com as empreendedoras
Bússola
Publicado em 18 de outubro de 2022 às 15h30.
Última atualização em 18 de outubro de 2022 às 15h38.
Anualmente o Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME) realiza uma pesquisa que analisa o perfil, a necessidade, as dores e a evolução dos negócios liderados pelas mulheres. A oitava edição da pesquisa reforça aquilo que já sabemos: a maioria das empreendedoras são mães, correspondente a 73% das 30 milhões de brasileiras com uma loja na internet, um salão na garagem, uma indústria, das empresárias e autônomas, formais e informais. Além disso, novos dados trazidos pela análise revelam a relação que isso tem com o contexto do país e até com as eleições.
Vamos lá nos debruçar sobre os fatos?
Considere essa empreendedora mãe. Segundo a pesquisa do IRME, a maioria das donas de negócio também são mulheres negras (60%) e pertencentes à classe C (50%).
Considere o Brasil, um país profundamente desigual economicamente, no qual as desigualdades são ainda mais profundas quando se fala em gênero (mulheres) e raça (mulheres negras).
Considere a situação das creches e escolas públicas (frequentadas pela classe C, portanto, pelos filhos das empreendedoras). Normalmente essas instituições estão em pequena quantidade, com baixo orçamento e com falta de professores e equipamentos, especialmente nos territórios de grande demanda, como as periferias de grandes cidades ou as pequenas cidades espalhadas pelo país.
Imagine essa mulher que batalha para vender marmita e chega em casa vendo seu filho que voltou da escola por falta de aula. Ela prepara a janta, liga a TV e se depara com o horário eleitoral, no qual candidatos disparam xingamentos e fake news. A preocupação dela é se amanhã terá aula para seu filho e se ela poderá trabalhar.
É por esse motivo que 42% das empreendedoras escolhem seu (sua) candidato(a) pelas suas propostas, conforme a pesquisa 2022 do IRME. Ou seja, os próximos governantes (e os atuais), em nível municipal, estadual ou nacional, terão de se atentar ao que planejam e apresentam dentro de suas candidaturas.
Ainda de acordo com a pesquisa, as áreas de economia e educação são as que mais mobilizam a decisão de voto das empreendedoras, setores empatados em 21% cada. Não adianta só promover vales temporários e montar políticas de empreendedorismo esvaziadas.
Candidatos que não possuem propostas detalhadas e claras sobre o que farão para aumentar, melhorar e estruturar a área educacional no país, oferecendo escolas em quantidade e com infraestrutura adequada, suporte às creches, escolas e universidades públicas, para os filhos e filhas dos 73% de mães empreendedoras, podem já rever seus planos. E espero que a revisão inclua as mulheres, as empreendedoras e a educação.
*Beatriz Leite é analista de projetos, formada em gestão ambiental pela USP e pós-graduada em gestão de projetos pelo Senac. Atua há quase dez anos em negócios e organizações sociais, nas áreas de longevidade, desenvolvimento local, cultura e empoderamento feminino
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da EXAME.
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