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Análise do Alon: enrosco venezuelano

Impasse em Caracas mostra a contradição da política exterior do Brasil, Escreve Alon Feuerwerker

O impasse em torno da eleição na Venezuela aprisionou a política exterior brasileira (AFP)

O impasse em torno da eleição na Venezuela aprisionou a política exterior brasileira (AFP)

Alon Feuerwerker
Alon Feuerwerker

Analista Político - Colunista Bússola

Publicado em 5 de agosto de 2024 às 15h00.

O impasse em torno da eleição na Venezuela aprisionou a política exterior brasileira na contradição que esta corteja há tempos: qual a prioridade do Brasil no âmbito regional, expandir a hegemonia político-ideológica do campo alinhado ao petismo ou consolidar a liderança brasileira numa região que pendula, mas exibe um pluralismo bastante resiliente?

O dilema jogou um papel relevante na crise que tragou o PT na Operação Lava-Jato. Mas isso é passado, é história.

Sobre a disputa venezuelana, Luiz Inácio Lula da Silva vê-se diante de problemas intrincados.

Cabe ao governo de Caracas provar que ganhou mesmo a eleição, mas os dados das atas de urna jogam contra. E o governo dos Estados Unidos reconheceu a vitória da oposição. Seguir o caminho oposto levará o Brasil a um confronto aberto com Washington.

O que não seria tão complicado se Donald Trump estivesse na Casa Branca, porém Lula tem uma fatura aberta com Joe Biden por causa do apoio recebido em 2022 e no início de 2023, quando Jair Bolsonaro contestou a vitória do petista.

E Lula ambiciona voltar a um certo protagonismo global desfrutado nos primeiros mandatos. Aí precisa equilibrar-se entre: 

  • 1) cortejar o campo político liderado por China e Rússia (para o que contribui sua inclinação estratégica pelo Irã na disputa de hegemonia no Oriente Médio)
  • 2) preservar o bom trânsito no campo atlantista.

De olho no segundo objetivo, o presidente brasileiro dispõe de três boas cartas na manga: a COP 30, o acordo Mercosul-União Europeia e a liderança regional.

A primeira vai melhor do que o segundo, mas a expectativa europeia de abocanhar o mercado brasileiro e sul-americano em troca apenas de arrochar um pouco seus próprios agricultores pode amortecer eventuais dissonâncias.

Só que tem também o terceiro ponto.

Lula não é um principiante na arte do equilibrismo, mas pequenas aporrinhações de vez em quando atrapalham.

O governo brasileiro conviveria sem maiores problemas com a Venezuela governada pela centro-direita, especialmente se Brasília tivesse um papel na estabilização política em Caracas. Mas, e as íntimas relações históricas com o chavismo? Daí, aparentemente, o Planalto ter adotado a linha de deixar o assunto resolver-se por si só.

Ainda que tudo seja provisório numa conjuntura tão instável.

Dias atrás Biden trocou umas ideias com Lula sobre o enrosco, pouco antes de o Departamento de Estado reconhecer que a oposição venezuelana ganhou no voto. É improvável que o americano não tenha avisado o brasileiro das suas intenções. Tampouco é provável que não se tenham acertado em algum grau.

Afinal, um dos papéis que Washington reserva a Lula é tomar conta da área. O Brasil, a Colômbia e o México ajudaram a derrotar na Organização dos Estados Americanos a demanda para que o governo da Venezuela apresente as atas de urna que comprovem sua declarada vitória, mas logo depois soltaram um comunicado pedindo exatamente a mesma coisa.

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