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Alon Feuerwerker: a terceira via está morta?

A terceira via tem um caminho para tentar ser levada a sério: mostrar ambição real de poder e falar para o conjunto do eleitorado

Os principais problemas da terceira via são a pulverização entre diversos nomes por enquanto pouco musculosos e a resiliência dos dois líderes das pesquisas. (Bloomberg/Getty Images)
MD

Matheus Doliveira

Publicado em 17 de abril de 2022 às 11h55.

Por Alon Feuerwerker*

Vai soar meio acaciano, mas em eleições é sempre bom esperar um pouco para chegar a previsões definitivas. E um assunto a merecer certo cuidado, certa delicadeza no trato, é a assim denominada terceira via. Rótulo aliás ruim, pois parece caracterizar uma turma em luta pela medalha de bronze. Não parece abordagem capaz de despertar grande entusiasmo no eleitor. E não tem despertado.

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Os dois principais problemas da terceira via a esta altura da corrida são conhecidos: 1) a pulverização entre diversos nomes por enquanto pouco musculosos e 2) a resiliência dos dois líderes nas pesquisas de intenção de voto. Mas há um terceiro problema (sempre esse número...), que a ideologia oficial do nem-nem resiste a admitir: o mercado até agora ambicionado pelo centrismo é modesto.

Os mitólogos da terceira via construíram para si a ilusão de haver um grande contingente simultaneamente anti-Lula e anti-Bolsonaro. Lá atrás fizeram uma conta de padaria, mais ou menos assim: “Se Lula tem firmes 35% e Bolsonaro, 25%, há uns 40% que não querem nem um nem outro”. Era obviamente um erro. Nesses 40% tinha gente disposta a não votar em ninguém e também gente que, no limite, não recusaria escolher o ex ou o atual presidente.

O mau resultado de Geraldo Alckmin em 2018 já deveria ter disparado o alerta, e faz tempo, mas o pessoal continua teimoso em projetar os próprios desejos para a realidade, mesmo depois de todas as pesquisas constatarem uma rejeição simultânea de Bolsonaro e Lula em torno de bem menos, uns 15%. Mas, se isso não é suficiente como ponto de chegada, tampouco é ruim na partida. Lembrar Marina Silva em 2010 e Eduardo Campos em 2014.

Lula e Bolsonaro levam vantagem no momento pois, além de capital político próprio consolidado, propõem-se a disputar uma fatia de mercado bem maior: cada um se apresenta como a salvação para livrar o Brasil da ameaça de ser governado pelo outro. O que aproxima ambos de um market share de metade dos potenciais votantes, suficiente para levar a taça. E na caminhada vão pouco a pouco flexibilizando ou a formulação ou as alianças, ou ambas.

Enquanto o dito centro continua aferrado ao nem-nem.

O desejo de retornar ao poder facilitou ao ex-presidente cativar o PT para deglutir Alckmin na vice. Já a opinião pública petista, lulista e progressista foi mesmerizada pelo “vocês não querem mais quatro anos de Bolsonaro, querem?”. Entrementes, a intransigência programática do PT, como era previsível, vai virando fumaça. Quem prestou atenção notou ter subido no telhado a revogação, ou revisão radical, da reforma trabalhista.

Vai acontecer com outras pautas, como o teto de gastos e a autonomia do Banco Central.

E, do lado bolsonarista, faz tempo que a antipolítica foi para o arquivo morto.

A terceira via tem um caminho para tentar ser levada a sério num jogo ainda no começo: 1) mostrar ambição real de poder, e não só apego a microprojetos (“precisamos fazer bancada”), e 2) falar para o conjunto do eleitorado, dizer o caminho que propõe para o Brasil retomar o crescimento, gerar empregos combater a inflação e melhorar a segurança pública. Talvez daí comece a ser ouvida pelo eleitor hoje com Lula ou Bolsonaro.

Mas também pode continuar na ladainha do nem-nem e “contra os extremismos”.

Como se sabe, um discurso de grande sucesso no povão. Só que não.

* Alon Feuerwerker é Analista Político da FSB Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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