Durante o mais recente Fórum Econômico Mundial, o relatório “Longevity Economy Principles: The Foundation for a Financially Resilient Future” elencou seis desafios que precisam ser priorizados (Eva-Katalin/Getty Images)
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Publicado em 10 de julho de 2024 às 10h00.
Por Mauro Wainstock*
O envelhecimento da população foi instituído pela ONU como uma das quatro megatendências para este século e, de acordo com a entidade, já está impactando profundamente a forma como nos relacionamos, trabalhamos e planejamos a vida.
Até 2050 o número de pessoas com idade superior a 60 anos chegará a 2 bilhões. No Brasil, dados do IBGE apontam que os 60+ vão superar os 57 milhões em 2060, o que representará 37,7% da população total do país.
Durante o mais recente Fórum Econômico Mundial, o relatório “Longevity Economy Principles: The Foundation for a Financially Resilient Future” elencou seis desafios que precisam ser priorizados:
No evento, Haleh Nazeri, líder de Economia da Longevidade do Fórum Econômico Mundial, foi enfática: “O mundo de hoje é marcado por transformações sem precedentes. No entanto, uma tendência permanece constante e inevitável — o envelhecimento da população global”.
Esta visão é compartilhada pela geriatra Karla Giacomin, vice-presidente do Centro de Longevidade Internacional e que atuou como consultora da Organização Mundial da Saúde no eixo "Políticas de Saúde dos Idosos". Ela faz um pertinente alerta: “O Brasil se preocupa com as crianças, pois elas são vistas como o futuro do país, mas lida com a velhice como se não fosse um problema seu. O preconceito é latente, potente e onipresente”.
Outra especialista, a consultora Fabienne Schiavo, que atua com Cidades Inteligentes e Sustentáveis, proferiu uma palestra no Ecossistema de Longevidade da Associação Comercial do Rio de Janeiro em que também destacou a necessidade de um olhar mais atento para os idosos.
Ela deu um exemplo: “há oportunidades econômicas em setores relacionados ao envelhecimento, como saúde, tecnologia assistiva, lazer, esporte. As empresas devem inovar para atender as demandas desta crescente população”. Ela tem razão: estes consumidores já manifestaram em diversas pesquisas que há uma enorme carência em termos de produtos e serviços para atender seus anseios.
A iniciativa privada e o poder público devem caminhar de forma alinhada. O mais recente estudo sobre esta temática acaba de ser publicado pela Fundação Dom Cabral (FDC). No documento “Investimentos Sociais Privados e a Longevidade”, o presidente da instituição, Antonio Batista da Silva, reforça a importância da utilização dos investimentos sociais via leis de incentivo. “Em 2022, apenas 26% das organizações usaram essas leis para apoiar fundos municipais dos direitos dos idosos”.
O Fundo do Idoso tem como objetivo captar recursos financeiros para serem investidos em ações que promovam o bem-estar e a qualidade de vida de pessoas 60+, sobretudo aquelas em situação de vulnerabilidade social e econômica. Os programas e as ações devem criar condições para desenvolver, sobretudo, a autonomia e a participação efetiva.
Coordenadora do FDC Longevidade, Michelle Queiroz Coelho também vai nesta linha: “o Fundo do Idoso representa uma das oportunidades de interseccionalidade que a longevidade precisa: setor público, privado e sociedade civil juntos criando soluções para grandes desafios do país”.
Para a FDC, a Educação Social, por meio de incentivo fiscal do Fundo do Idoso, permite a capacitação de líderes sociais de instituições que atuam com a população idosa, conectando o propósito destas entidades com práticas de gestão, governança e estratégia de mobilização de recursos visando apoiá-las para que seus projetos possam ser viáveis e realmente impactantes.
Um dos cases de sucesso é o de Belo Horizonte. O economista Gelton Pinto Coelho, que liderou o Conselho Municipal, celebra: “temos organizações fazendo trabalhos espetaculares, como cursos de empreendedorismo, informativos sobre uso de WhatsApp, segurança digital... tudo apoiado pelo Fundo. A nossa capilaridade de diálogo com organizações civis é muito grande e planejamos ampliar ainda mais”. Ele continua: “da mesma forma com que temos creches para atender as crianças, precisamos pensar em um local para idosos que possa gerar uma maior integração entre eles. Os vínculos afetivos ajudam a combater o isolamento”.
Ele mencionou uma palavra fundamental: isolamento. Neste sentido, uma iniciativa interessante é o da TeleHelp, que anunciou o lançamento do “Sênior Academy”, um programa sem fins lucrativos que está comprometido em estimular o bem-estar e a inclusão dos idosos através de uma plataforma que oferece atividades online gratuitas projetadas em três pilares: tecnologia, educação financeira e exercícios físicos. José Carlos Vasconcellos, fundador da empresa, explica que a solidão é uma das principais questões a serem combatidas: “Ela é mortal: uma série de estudos revelou que aumenta as chances de doenças cardíacas e nos torna mais vulneráveis ao Alzheimer, pressão alta e suicídio”.
Esta é uma questão pública e extremamente grave, tanto que, em 2018, o Reino Unido criou 2018 o Ministério da Solidão, inédito no mundo. Na época, 9 milhões de britânicos se declaravam solitários, de uma população total de 65,6 milhões. Como consequências, o governo registrava efeitos como altos índices de internação, de mortalidade prematura e problemas associados à demência.
Enfim, a conexão entre todas as esferas sociais é tão necessária como premente para o exercício prático destas iniciativas no dia a dia deste mundo cada vez mais longevo, como resumiu Tatiana Ponce, Chief Marketing Officer da Natura & Co. no palco do evento SXSW: “Ser sustentável não é mais o suficiente. Como empresa, temos responsabilidade sobre o impacto da vida das pessoas. Temos um grande poder de transformar e impactar positivamente a sociedade e o planeta”.
*Mauro Wainstock foi nomeado Linkedin TOP VOICE, é membro do Instituto Brasileiro do ESG, mentor de executivos, conselheiro de empresas, palestrante sobre diversidade etária/integração geracional e sócio-fundador da consultoria HUB 40+.
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