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A agonia num 7 de Setembro sem assunto

Após 200 anos de algumas conquistas e o triplo de oportunidades perdidas, sobre o que poderíamos escrever?

Nesses 200 anos como país independente fizemos coisas incríveis e, no entanto, estamos a anos-luz de onde deveríamos estar (Rovena Rosa/Agência Brasil)
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Bússola

Publicado em 8 de setembro de 2022 às 18h15.

O que já ocorreu outrora com vários dos meus ídolos acabou de acontecer comigo: chegar na hora de entregar uma coluna e não ter o que escrever. Longe de mim querer me comparar nem sequer à unha do dedinho do pé de caras como Rubem Braga, Fernando Sabino, Antônio Maria e tantos outros, mas o desassossego que eles experimentaram algumas vezes agora está estatelado no meu colo. A diferença é que diante dessa perplexidade eles saíam batucando sobre qualquer assunto e, de repente, a máquina de escrever paria mais uma obra-prima.

Paciência. De volta a minha realidade comezinha, fato é que eu escrevo sobre ESG e não obstante a vastidão de assuntos ambientais, sociais e de governança estou sem saber por onde enveredar isso aqui. Hora de arrumar um culpado. Talvez o responsável seja esse 7 de Setembro chuvoso e sorumbático.

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Não é para menos. Nesses 200 anos como país independente fizemos coisas incríveis e, no entanto, estamos a anos-luz de onde deveríamos estar. O exemplo mais estarrecedor: viramos o maior produtor de alimentos do mundo e convivemos com a insegurança alimentar batendo à porta de 60 milhões de brasileiros, segundo relatório recente da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Temos a energia (matriz energética, como se diz) mais limpa que existe, exatamente no momento em que este planeta superaquecido mais precisa dela, e poderíamos desde muito tempo a estar exportando, repassando toda essa tecnologia para tudo quanto é canto, e cá estamos correndo o risco de ficar no escuro toda vez que nossa economia dá uma empinadinha de alguns parcos pontos percentuais, o que faz o consumo aumentar.

Abrigamos a maior riqueza da Terra, que é nossa biodiversidade, mas ao mesmo tempo em que não sabemos como aproveitá-la somos pródigos em destruí-la. Nossas mais diversas culturas são belíssimas, porém nesses últimos 200 anos – e bota mais uns 300 nisso – seguem marginalizadas e fadadas à mais funesta das exclusões. Muitas de nossas lideranças, públicas e privadas, são enormes referências globais, que contudo tropicam na própria chuteira na hora de jogar em casa – felizmente nem todas.

Ainda assim, a grande maioria desses 200 milhões de nós acha muito bom ser brasileiro, eu incluído. Mas que podia ser tão melhor, isso podia. Hora de pôr fim a essa agonia. Para semana que vem, prometo uma boa história para, quem sabe, levantar o ânimo.

*Renato Krauszé sócio-diretor da Loures Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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