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2026: o ano da virada para a inteligência artificial e os robôs humanoides

Professor da FGV aponta transição para era da autonomia operacional como grande virada do próximo ano

Investimentos globais em IA devem ultrapassar US$ 2 trilhões em 2026 (Freepik/Freepik)

Investimentos globais em IA devem ultrapassar US$ 2 trilhões em 2026 (Freepik/Freepik)

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Publicado em 24 de dezembro de 2025 às 13h00.

O ano de 2026 marca um momento decisivo no mundo da tecnologia. Após três anos de crescimento exponencial da inteligência artificial generativa, o mercado deixa para trás a fase do hype para entrar na era da maturidade e da aplicação prática.

Segundo a Gartner, os gastos globais com IA devem superar US$ 2 trilhões em 2026 (cerca de R$ 16,1 trilhões).

Enquanto isso, as empresas passam da experimentação para a implementação em larga escala de soluções que prometem revolucionar desde cadeias produtivas até a forma como consumidores interagem com marcas.

"A grande virada de 2026 será a consolidação das Redes de Agentes Inteligentes. Se até agora vivemos a era dos 'Copilotos', que nos auxiliavam a criar e analisar, 2026 marca a transição para a era da autonomia operacional, onde a IA não apenas sugere, mas executa", afirma Kenneth Corrêa, especialista em dados, professor de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e autor do livro “Organizações Cognitivas: Alavancando o Poder da IA Generativa e dos Agentes Inteligentes”.

"Estamos falando de sistemas capazes de negociar orçamentos, otimizar cadeias de produção e realizar pedidos de reposição de estoque sem intervenção humana direta, transformando organizações digitais em verdadeiras Organizações Cognitivas", completa.

O Brasil se destaca nesse cenário. Um estudo da Semrush mostra que o país já é o terceiro maior usuário de ChatGPT no mundo.

Apesar disso, Kenneth avalia que a adoção corporativa ainda é desigual: “Temos casos excelentes, mas isolados. As empresas precisam transformar a IA de ‘ferramenta’ em ‘processo’, com escala e consistência.”

Robôs humanoides saem dos laboratórios para o chão de fábrica

A autonomia digital será acompanhada de uma revolução física. Após anos de pesquisa, os robôs humanoides atingiram maturidade comercial e começam a chegar ao chão de fábrica.

Lançamentos como o X1 NEO, o Figure 3 e o R1 da chinesa Unitree deixaram claro o quão avançada está a tecnologia.

A NVIDIA e a Foxconn articulam a implantação de robôs em uma nova planta em Houston (EUA), com operações previstas para o primeiro trimestre de 2026.

"Veremos a IA saindo das telas e ganhando 'corpo' através da IA Física (Embodied AI) e dos Robôs Humanoides. Isso permite a automação de tarefas físicas repetitivas em fábricas e depósitos, com robôs capazes de executar atividades complexas que antes exigiam destreza humana, acelerando a produção com um consumo de energia drasticamente menor”, explica Kenneth.

A Goldman Sachs Research estima que o mercado de robôs humanoides deve atingir US$ 38 bilhões até 2035, com o crescimento acelerado já em 2026, especialmente em áreas como serviços, varejo e entretenimento.

Agentes autônomos aceleram descobertas científicas

Outra revolução significativa está acontecendo nos laboratórios de pesquisa. Fluxos de pesquisa científica — antes fragmentados — estão sendo orquestrados por agentes autônomos, acelerando exponencialmente a descoberta de novos medicamentos e materiais.

"A DeepMind do Google, a missão Genesis do Governo Americano e o IBM Watson for Science são exemplos claros de como agentes de IA estão transformando a pesquisa científica", destaca Kenneth.

"Esses sistemas conseguem analisar milhares de estudos, propor hipóteses e até conduzir experimentos virtuais, comprimindo em semanas processos que antes levavam anos."

Robotáxis entram em fase comercial em grandes cidades

Outra frente de impacto é o transporte autônomo. A expectativa é que os Robotáxis avancem para operação comercial em 8 a 10 grandes metrópoles globais em 2026.

Com custo operacional projetado em US$ 0,30 por milha, o modelo pressiona todo o setor de logística a rever estruturas de custo.

"Experimentei pessoalmente o Robotaxi da Tesla e o Waymo na Califórnia no meio do ano, e o Robotaxi da Didi em Shenzhen durante a Canton Fair", diz Corrêa.

"A tecnologia já está acessível ao consumidor e funciona de forma surpreendentemente eficiente. A autonomia deixa de ocupar um lugar de tendência futura e passa a integrar imediatamente as estratégias empresariais. Este movimento exige que as organizações revisem seus modelos operacionais para acompanhar a nova dinâmica tecnológica."

Setores mais impactados em 2026 pela inteligência artificial

Segundo o professor da FGV, os setores a seguir devem sentir os efeitos mais imediatos da evolução da IA:

  • Indústria: a combinação de robôs humanoides assumindo tarefas físicas repetitivas com manutenção preditiva 2.0 elimina gargalos de mão de obra e paradas não planejadas, permitindo que fábricas operem com autonomia inédita.
  • Auditoria, contabilidade e consultoria jurídica: intensivas em documentação, estas áreas estão vendo seus fluxos de trabalho serem assumidos por agentes autônomos capazes de analisar milhares de contratos e balanços simultaneamente.
  • Farmacêutico e de biotecnologia: com a adoção de fluxos de trabalho de pesquisa científica geridos por IA, o tempo de descoberta de novos medicamentos e materiais será drasticamente reduzido, comprimindo em semanas processos que antes levavam anos.
  • Saúde: as Interfaces Cérebro-Computador (BCI) alcançam validação clínica e comercial, permitindo que pessoas com limitações motoras severas reconquistem autonomia, controlando dispositivos e comunicando-se apenas com o pensamento.
  • Sustentabilidade: também ganha impulso com a Computação Neuromórfica, arquitetura de chips inspirada no cérebro humano que permite processar inteligência artificial consumindo mil vezes menos energia.

"Isso significa que poderemos ter dispositivos mais inteligentes em nossas casas e cidades sem colapsar a rede elétrica ou comprometer as metas de sustentabilidade climática", afirma Kenneth.

Qual infraestrutura tecnológica será necessária para o amadurecimento da inteligência artificial?

O crescimento da autonomia exige uma mudança estrutural na forma como os dados são processados. A Edge AI (IA na Borda) se tornará necessidade arquitetônica.

Em vez de enviar todas as informações para a nuvem, o processamento passa a ocorrer onde o dado é gerado, garantindo privacidade e latência mínima.

“Com a Edge AI, informações sensíveis de saúde ou segredos industriais não precisam sair da organização. Isso resolve o dilema da privacidade na fonte, permitindo o uso de IA avançada sem a exposição de dados críticos a terceiros”, esclarece Kenneth.

Nova dinâmica entre consumidores e empresas

A forma como empresas e consumidores se relacionam também continuará mudando radicalmente. Kenneth explica que a relação está passando de um modelo de "busca" para um de "delegação":

"O consumidor vem gastando cada vez menos tempo pesquisando em sites e passa a ter seus próprios Agentes Pessoais de IA, que negocia diretamente com os agentes das empresas para encontrar a melhor oferta ou resolver problemas de suporte."

"Isso cria um cenário 'Bot-to-Bot', indicando que a interação técnica com os robôs dos clientes tende a se tornar parte do funcionamento regular do mercado, o que reforça a necessidade de adaptação por parte das empresas.”

Além disso, para Kenneth, o maior risco não está na tecnologia, mas na inação: "O risco fatal é a negação, ou seja, tentar operar uma empresa em 2026 como se ainda estivéssemos em 2019."

"A difusão de Redes de Agentes e IA generativa já vem gerando novas diferenças nos padrões de produtividade entre organizações, acompanhadas por ajustes naturais em indicadores operacionais e na dinâmica competitiva do setor."

Com a IA, entramos na era da abundância: “podemos criar serviços, produtos e experiências personalizadas em uma escala e velocidade impossíveis anteriormente, gerando muito mais valor econômico do que conseguimos imaginar hoje”, completa.

Essa mudança está sendo amplificada pela chegada dos Smart Glasses 2.0.

"Hoje, com o Ray-Ban Meta Display, já é possível mapear rotas e seguir o mapa, perguntar para a IA 'o que estou vendo' e trocar mensagens. Com dispositivos mais leves e potentes, como as evoluções da linha Ray Ban e Oakley ou a parceria Google com Warby Parker e também a XREAL, o ecossistema da Apple, o varejo, por exemplo, poderá oferecer experiências onde informações, avaliações e comparativos de preço aparecem flutuando ao lado do produto na prateleira física, fundindo de vez a conveniência do e-commerce com a experiência da loja real", ressalta Kenneth.

Oportunidades e desafios para o Brasil

Kenneth destaca que o Brasil tem vantagem na adoção de novas tecnologias: "Precisamos focar onde somos fortes: na camada de aplicação."

"Não teremos escala para competir no desenvolvimento de modelos de linguagem de grande porte no estado da arte, mas somos extremamente ágeis em implementar tecnologias na prática."

Ele reforça que essa agilidade já é visível: “Somos o terceiro país que mais usa o ChatGPT. Essa voracidade por inovação precisa ser aproveitada pelas empresas, que devem adotar agentes inteligentes agora para resolver problemas reais de eficiência e competitividade.”

O avanço simultâneo da autonomia digital e da robótica humana coloca 2026 como um divisor de águas para empresas e governos.

A incorporação de agentes autônomos, Edge AI e automação física compõem a infraestrutura operacional que sustentará a próxima fase de produtividade global.

Ignorar esse movimento significa operar com estruturas que já não respondem ao ritmo atual de transformação tecnológica.

“Mais do que uma tendência, a autonomia inaugura uma reconfiguração profunda da economia, do trabalho e das relações sociais, abrindo uma década em que a capacidade de adaptação, de revisão contínua de processos e de uso inteligente dos dados será determinante para a manutenção da relevância no mercado”, conclui Kenneth Corrêa.

 

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