Trípoli pede revogação de extinção da Reserva Nacional de Cobre
O decreto que extinguiu a reserva permite que a área de aproximadamente 46 mil quilômetros quadrados seja explorada por atividades de mineração
Reuters
Publicado em 25 de agosto de 2017 às 16h27.
Última atualização em 25 de agosto de 2017 às 20h51.
Brasília - O líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Ricardo Trípoli (SP), apresentou nesta sexta-feira um pedido para que o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, revogue o decreto que extinguiu a Reserva Nacional de Cobre e Associadas (Renca), localizada nos Estados do Pará e Amapá, decisão do governo que está sendo alvo de fortes críticas dentro e fora do país.
Em ofício encaminhado à Casa Civil, o tucano argumenta que a extinção da Renca trará como consequência o adensamento populacional da área e que levará em um futuro próximo a uma flexibilização do grau de proteção ambiental para as áreas de preservação situadas na localidade.
"Com base na própria competência legislativa atribuída ao Congresso Nacional, é imperioso que esse debate seja travado no âmbito do Poder Legislativo, sendo realizado pelos representantes do povo e dos Estados envolvidos", disse Trípoli, ao defender a Padilha a revogação do decreto recém editado.
Também nesta sexta, o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, divulgou vídeo e deu entrevista coletiva para defender o decreto assinado pelo presidente Michel Temer e disse que abrir a área do tamanho da Dinamarca para a mineração trará essa atividade para dentro dos limites da lei.
Ele disse haver 28 operações ilegais de mineração na região, com cerca de mil funcionários atuando.
"A Renca é uma reserva mineral e não uma reserva ambiental. Com esse decreto não foi tocada nenhuma reserva legal ambiental na Amazônia. As reservas ambientais e as reservas indígenas dentro da Renca permanecem como reservas", afirmou Coelho Filho.
"Através deste decreto, nós teremos acesso ao conhecimento geológico do país, e quem quiser pode se instalar naquela área, só fará respeitando estritamente a legislação ambiental em vigor no nosso país. Qualquer coisa fora disso não é verdade."
Na véspera, Temer havia negado em mensagens em sua conta no Twitter que seu governo tenha alterado áreas de proteção ambiental na Amazônia ao extinguir por decreto a Renca.
"O governo não alterou nenhuma reserva ambiental da nossa Amazônia. Reorganizamos uma área mineral, hoje alvo do garimpo. É bem diferente", escreveu Temer na rede social. "Nosso compromisso é com o desenvolvimento sustentável da Amazônia, unindo preservação ambiental com geração de renda para as populações locais."
No decreto que extinguiu a Renca, o governo afirmou que o objetivo da medida é atrair investimentos para o setor de mineração. O texto afirma ainda que "a extinção... não afasta a aplicação de legislação específica sobre a vegetação nativa, unidades e conservação da natureza, terra indígenas e áreas em faixa de fronteira".
A Renca foi estabelecida por decreto, o que dificulta o argumento de que a extinção da área também por decreto é inconstitucional, disse Izabella Pardinho, advogada ambiental da Bichara Advogados, sediada no Rio de Janeiro. Outros argumentos legais podem ter suporte em um caso baseado no interesse público, disse ela.
A extinção da Renca não revoga a proteção da vegetação nativa, áreas de conservação ambiental e terras indígenas na área.
De acordo com um relatório do governo de 2010, 69 por cento da área da Renca no Amapá está sujeita à proteção.
No entanto, críticos da medida --como a WWF e o Greenpeace-- afirmam que a mera permissão para atividades de mineração perto de áreas protegidas pode gerar conflitos e colocá-las sob ameaça.
"A medida deve acelerar a chegada de infraestrutura e de pessoas a áreas de floresta nativa para atividades de mineração, reproduzindo na região a mesma falta de governança que permite o avanço do desmatamento e da grilagem de terras na Amazônia", disse o Greenpeace em comunicado.