Alexandre Tombini defendeu o sistema de metas de inflação durante a sabatina no Senado (Bazuki Muhammad/REUTERS)
Da Redação
Publicado em 7 de dezembro de 2010 às 12h26.
Brasília - O indicado à presidência do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, afirmou hoje que é “sempre complexo calcular o impacto fiscal” das alterações no patamar do juro básico da economia, a taxa Selic. A afirmação foi feita como resposta aos senadores, que o questionaram genericamente, durante sabatina, sobre o custo de eventuais mudanças de juro no Brasil.
“O governo não se financia apenas no curto prazo, mas sim no curto, médio e longo prazos. Quando o Tesouro Nacional coloca dívida, isso acontece em várias partes do mercado”, argumentou Tombini. “Por isso, a Selic tem poder de se transmitir ao longo da estrutura da taxa de juros. Mas essa transmissão varia de acordo com a política implantada pelo BC”, afirmou.
Tombini deu como exemplo um caso hipotético de redução da taxa Selic em um período de pressão inflacionária. “Essa decisão do BC geraria elevação das taxas de juro de médio e longo prazo. Isso acontece porque o mercado, como os fundos, os investidores e todo o sistema financeiro como um todo, vê que não é adequado (a redução do juro) e cobra um prêmio do Tesouro”. “Nesse caso, ao invés de reduzir o juro, a taxa sobe na curva”.
“Mas se, por outro lado, o BC tem autonomia e reduz juro porque a inflação está na meta, é bem possível que toda a estrutura da curva de juros caia. Essa reação depende da circunstância em que ocorra”, disse.
Metas de inflação
Tombini mostrou também que não simpatiza com a ideia de usar o núcleo de inflação para o sistema de metas inflacionárias. Na sabatina no Senado, ele disse que, de 27 países que operam nesse regime, apenas um banco central - o da Tailândia - persegue uma meta definida pelo núcleo do índice de preço.
Os demais, pela facilidade de comunicação, preferem trabalhar com um índice cheio. O atual diretor de Normas do BC, que foi um dos formuladores do sistema de metas no Brasil, destacou que o regime de metas tem como uma de suas vantagens ser de fácil entendimento e acompanhamento pela população.
Desafios
Tombini reconheceu ainda que a nova gestão na autoridade monetária terá um quadro repleto de desafios, especialmente no campo externo. “A condução da nossa política econômica nos próximos anos se dará com um quadro externo volátil ao qual devemos permanecer atentos. O sucesso da economia brasileira na superação da crise de 2008 não deve ocultar o futuro desafiador que teremos no cenário externo”, disse, durante a sabatina no Senado.
“A recuperação das economias avançadas está se revelando mais lenta do que o previsto. Existe ainda muita incerteza sobre como vai evoluir a percepção de sustentabilidade de suas dívidas soberana e privada”, argumentou Tombini, que foi indicado para a sucessão de Henrique Meirelles no comando do BC.
Para ele, “os impulsos fiscais e monetários adotados na fase mais aguda da crise por estas economias foram capazes de evitar uma nova grande depressão”. “Contudo, não conseguem hoje garantir a retomada do crescimento, o que impacta negativamente o desempenho da economia mundial”.
Crédito
A expansão do mercado de crédito nos últimos anos ocorreu em bases “sólidas e duradouras”. A avaliação foi feita hoje pelo indicado à presidência do Banco Central (BC), Alexandre Tombini. “A boa regulamentação das atividades bancárias e financeiras contribuiu para que o mercado de crédito voltasse a crescer nos últimos anos, passando de 25% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2003 para mais de 47% em 2010”, ressaltou, durante audiência pública no Senado.
Tombini destacou que, a despeito de a recente expansão ter ocorrido de forma adequada, o “BC monitora diariamente o desenvolvimento do mercado de crédito, corrigindo falhas pontuais e promovendo aperfeiçoamentos na regulamentação, para que este continue crescendo com segurança”.