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Temer governará um Brasil turbulento com população no limite

A lista de desafios econômicos, sociais e inclusive judiciais projetam um governo obrigado a obter resultados a jato antes das próximas eleições presidenciais

Protestos: Temer é uma peça permanente do xadrez político brasileiro, mas sua popularidade é baixa e carece do apoio das urnas (Ricardo Moraes / Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 1 de setembro de 2016 às 18h49.

O conservador Michel Temer pretende suturar as feridas de uma sociedade brasileira economicamente sufocada e irritada com a corrupção, nos dois anos e quatro meses que lhe restam para completar o mandato da presidente de esquerda destituída Dilma Rousseff.

A lista de desafios econômicos, sociais e inclusive judiciais projetam um governo obrigado a obter resultados a jato antes das próximas eleições presidenciais em 2018, que não poderá desconsiderar as pressões da heterogênea base de partidos que impulsionou sua ascensão.

E tudo sob a sombra do escândalo de corrupção na Petrobras.

Economia

É o maior desafio e a maior aposta: passar de um modelo de viés intervencionista para outro com maiores liberdades econômicas, que inclui em seu menu privatizações e um forte ajuste.

Temer conta com o aval da indústria e do mercado. Desde que assumiu interinamente em maio, após o afastamento de Dilma Rousseff, a Bolsa de São Paulo subiu cerca de 29%, e o real se valorizou por volta de 15,7%.

Mas o país caminha para seu primeiro biênio recessivo em mais de 80 anos e, esta semana, os dados oficiais mostraram que o desemprego registrou um recorde de 11,6% em maio-julho, enquanto o PIB encolheu 0,6% no segundo trimestre.

"Meu compromisso é resgatar a força da nossa economia e voltar a colocar o Brasil nos trilhos", disse Temer em mensagem transmitida após sua posse.

Com um arrocho fiscal estimado em US$ 53 bilhões este ano, para o analista Harold Thau, da consultoria Técnica, "a prioridade é reorganizar as contas públicas".

"Não existem mais as condições para continuar gastando mais do que se arrecada e tampouco há condições para aumentar os impostos", acrescentou.

Temer nomeou Henrique Meirelles como ministro da Fazenda. Ex-presidente do Banco Central nos dois governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), já anunciou que buscará frear os gastos, flexibilizar o mercado de trabalho e reduzir o custo das aposentadorias.

Tudo aponta para a volta da ortodoxia. Mas essas iniciativas, além de impopulares, requerem emendas constitucionais e maiorias especiais no Congresso.

A primeira prova será fixar um teto para os gastos de 2017, as despesas deste ano e para a inflação de 2016. Depois, virão batalhas mais problemáticas: a reforma da Previdência Social e do mercado de trabalho.

Política

Aos 75 anos, Temer, que era vice de Dilma Rousseff, é uma peça permanente do xadrez político brasileiro. Mas sua popularidade é baixa e carece do apoio das urnas.

Homem forte do maior partido do país, o PMDB de centro-direita, construiu seu governo com base em um equilíbrio econômico prestigioso e em um gabinete multipartidário ligado ao "centrão", maioria no Congresso e defensor de uma agenda conservadora no campo político e liberal no econômico.

"Não se pode omitir que Dilma foi destituída em parte por sua inabilidade para se relacionar com o Congresso. Temer deverá conseguir maiorias fortes e, para isso, tem que fazer concessões", disse Sylvio Costa, fundador do "Congresso em Foco", especializado na atividade parlamentar.

"Ele assumiu após um processo que deixa traumas e terá que se entender com o Congresso e com setores econômicos. Mas, além disso, deve compreender uma sociedade que, nos últimos anos, demonstrou grande insatisfação com os políticos", acrescentou.

Em uma segunda votação em separado, na qual se decidiu manter os direitos políticos de Dilma Rousseff, habilitando-a para exercer cargos públicos, o próprio mostrou divergências nesta base.

Para o ex-candidato à Presidência e senador Aécio Neves (PSDB-MG), essa decisão "causou um enorme mal-estar" entre os aliados. Aécio exigiu de Temer que diga "com clareza até onde vai o compromisso de seu governo".

Corrupção e protestos

A corrupção na Petrobras, um esquema empresarial e político que desviou bilhões de dólares da petroleira, pôs em xeque os principais partidos e seus dirigentes e questionou os métodos de financiamento das campanhas eleitorais.

As acusações atingiram o governo do PT, mas não pouparam o PMDB, ou o governo Temer, que em seu primeiro mês de interinidade (iniciada em maio) perdeu três ministros, atingidos pelo "Petrolão".

Temer nega qualquer vínculo com doações obscuras e não está sendo investigado.

Com o PT afastado do centro do poder, Dilma e Lula apostam em recuperar o apoio dos movimentos sociais, que por mais de 13 anos se beneficiaram de sua ampla agenda de direitos e subsídios à pobreza. Aposta-se também que o sindicalismo se reative com as reformas.

"O povo não é indiferente ao que está acontecendo", disse a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), defensora do mandato de Dilma.

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O conservador Michel Temer pretende suturar as feridas de uma sociedade brasileira economicamente sufocada e irritada com a corrupção, nos dois anos e quatro meses que lhe restam para completar o mandato da presidente de esquerda destituída Dilma Rousseff.

A lista de desafios econômicos, sociais e inclusive judiciais projetam um governo obrigado a obter resultados a jato antes das próximas eleições presidenciais em 2018, que não poderá desconsiderar as pressões da heterogênea base de partidos que impulsionou sua ascensão.

E tudo sob a sombra do escândalo de corrupção na Petrobras.

Economia

É o maior desafio e a maior aposta: passar de um modelo de viés intervencionista para outro com maiores liberdades econômicas, que inclui em seu menu privatizações e um forte ajuste.

Temer conta com o aval da indústria e do mercado. Desde que assumiu interinamente em maio, após o afastamento de Dilma Rousseff, a Bolsa de São Paulo subiu cerca de 29%, e o real se valorizou por volta de 15,7%.

Mas o país caminha para seu primeiro biênio recessivo em mais de 80 anos e, esta semana, os dados oficiais mostraram que o desemprego registrou um recorde de 11,6% em maio-julho, enquanto o PIB encolheu 0,6% no segundo trimestre.

"Meu compromisso é resgatar a força da nossa economia e voltar a colocar o Brasil nos trilhos", disse Temer em mensagem transmitida após sua posse.

Com um arrocho fiscal estimado em US$ 53 bilhões este ano, para o analista Harold Thau, da consultoria Técnica, "a prioridade é reorganizar as contas públicas".

"Não existem mais as condições para continuar gastando mais do que se arrecada e tampouco há condições para aumentar os impostos", acrescentou.

Temer nomeou Henrique Meirelles como ministro da Fazenda. Ex-presidente do Banco Central nos dois governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), já anunciou que buscará frear os gastos, flexibilizar o mercado de trabalho e reduzir o custo das aposentadorias.

Tudo aponta para a volta da ortodoxia. Mas essas iniciativas, além de impopulares, requerem emendas constitucionais e maiorias especiais no Congresso.

A primeira prova será fixar um teto para os gastos de 2017, as despesas deste ano e para a inflação de 2016. Depois, virão batalhas mais problemáticas: a reforma da Previdência Social e do mercado de trabalho.

Política

Aos 75 anos, Temer, que era vice de Dilma Rousseff, é uma peça permanente do xadrez político brasileiro. Mas sua popularidade é baixa e carece do apoio das urnas.

Homem forte do maior partido do país, o PMDB de centro-direita, construiu seu governo com base em um equilíbrio econômico prestigioso e em um gabinete multipartidário ligado ao "centrão", maioria no Congresso e defensor de uma agenda conservadora no campo político e liberal no econômico.

"Não se pode omitir que Dilma foi destituída em parte por sua inabilidade para se relacionar com o Congresso. Temer deverá conseguir maiorias fortes e, para isso, tem que fazer concessões", disse Sylvio Costa, fundador do "Congresso em Foco", especializado na atividade parlamentar.

"Ele assumiu após um processo que deixa traumas e terá que se entender com o Congresso e com setores econômicos. Mas, além disso, deve compreender uma sociedade que, nos últimos anos, demonstrou grande insatisfação com os políticos", acrescentou.

Em uma segunda votação em separado, na qual se decidiu manter os direitos políticos de Dilma Rousseff, habilitando-a para exercer cargos públicos, o próprio mostrou divergências nesta base.

Para o ex-candidato à Presidência e senador Aécio Neves (PSDB-MG), essa decisão "causou um enorme mal-estar" entre os aliados. Aécio exigiu de Temer que diga "com clareza até onde vai o compromisso de seu governo".

Corrupção e protestos

A corrupção na Petrobras, um esquema empresarial e político que desviou bilhões de dólares da petroleira, pôs em xeque os principais partidos e seus dirigentes e questionou os métodos de financiamento das campanhas eleitorais.

As acusações atingiram o governo do PT, mas não pouparam o PMDB, ou o governo Temer, que em seu primeiro mês de interinidade (iniciada em maio) perdeu três ministros, atingidos pelo "Petrolão".

Temer nega qualquer vínculo com doações obscuras e não está sendo investigado.

Com o PT afastado do centro do poder, Dilma e Lula apostam em recuperar o apoio dos movimentos sociais, que por mais de 13 anos se beneficiaram de sua ampla agenda de direitos e subsídios à pobreza. Aposta-se também que o sindicalismo se reative com as reformas.

"O povo não é indiferente ao que está acontecendo", disse a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), defensora do mandato de Dilma.

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