STJ torna governador do Acre réu por corrupção
Ministros negaram, contudo, pedido feito pela PGR para afastar Gladson Cameli do cargo
Agência de notícias
Publicado em 15 de maio de 2024 às 19h42.
O Superior Tribunal Justiça ( STJ ) recebeu nesta quarta-feira uma denúncia apresentada contra o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), pelos crimes de organização criminosa, corrupção passiva, peculato, lavagem de dinheiro e fraude a licitação. Os ministros negaram, contudo, um pedido para afastá-lo do cargo
A decisão foi tomada, por unanimidade, pela Corte Especial, formada pelos 15 ministros mais antigos do STJ. O voto da relatora, Nancy Andrighi, foi seguido por todos os integrantes do colegiado.
— Há indícios de que o governador, Gladson, agiu ativamente para assegurar a execução do esquema investigado, escolhendo, sem qualquer critério técnico, as empresas que receberiam pagamentos pelo estado do Acre — afirmou a ministra.
Apesar de considerar as condutas graves, Andrighi alegou que elas não justificam o afastamento por não estarem ocorrendo no momento:
— Embora demonstrada a gravidade das supostas condutas delitivas imputadas ao acusado, os fatos narrados na denúncia não se revelam contemporâneos, razão pela qual eu voto para indeferir, por ora, o pleito ministerial (pelo afastamento), sem prejuízo da decretação da citada medida caso reste demonstrado nos outros inquéritos a mim distribuídos a subsistência ao risco à ordem pública.
O revisor do inquérito, ministro João Otávio Noronha, afirmou que os elementos são suficientes para a abertura de uma ação penal.
— Entendo que os elementos de provas evidenciam com clareza os indícios de existência dos crimes, bem como indícios da participação do denunciado neles, impondo-se, portanto, o recebimento da denúncia para que, no decorrer da instrução processual, melhor se possa analisar, inclusive, as alegações da defesa.
De acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), as supostas práticas ilícitas teriam causado prejuízos de quase R$ 11,7 milhões aos cofres públicos. A defesa do governador nega qualquer irregularidade.
A investigação é baseada na chamada Operação Ptolomeu. A PGR afirma que a empresa Murano Construções e empresas subcontratadas - uma das quais tem como sócio Gledson Cameli, irmão do governador – teriam pagado propina ao chefe do executivo estadual por meio do pagamento de parcelas de um apartamento em bairro nobre de São Paulo.
Na sessão desta quarta, a subprocuradora-geral da República Luiza Frischeisen reforçou a denúncia e afirmou que Cameli atuou como líder de uma organização criminosa:
— Os elementos colocados na investigação, trazidos na denúncia, apontam que Gladson Cameli agiu ativa e pessoalmente para garantir a estabilidade e a execução do arranjo, atuando como líder da organização criminosa.
Outras doze pessoas foram denunciadas junto com Cameli, incluindo sua mulher e dois irmãos. O processo contra eles, contudo, foi desmembrado e enviado para a Justiça Federal do Acre, já que apenas o governador tem foro no STJ.
Já o advogado de Cameli, Pedro Ivo Velloso, criticou a forma que a investigação foi iniciada, dizendo que o governador foi perseguido, e criticou pontos da acusação.
— A acusação de corrupção imputa que um apartamento, comprado por essa empresa Rio Negro (do irmão de Cameli), seria do governador. Agora, ela não faz sequer uma prova de que o governador usava esse apartamento.