Brasil

Sistema Cantareira tem perdas desde maio de 2013

Manancial perde mais água do que recebe e prejuízo chegou a 647,4 bilhões de litros ao fim do mês passado, o equivalente a 66% da capacidade útil


	Sistema Cantareira: déficit ocorreu porque retirada de água dos reservatórios chegou a superar em mais de 6% a vazão máxima estabelecida
 (Sabesp/Divulgação/ABr)

Sistema Cantareira: déficit ocorreu porque retirada de água dos reservatórios chegou a superar em mais de 6% a vazão máxima estabelecida (Sabesp/Divulgação/ABr)

DR

Da Redação

Publicado em 4 de agosto de 2014 às 09h28.

São Paulo - Na pior seca dos últimos 84 anos, o Sistema Cantareira registrou pela primeira vez na história 15 meses consecutivos de déficit.

Levantamento feito pelo Estado com base em dados oficiais revela que, desde maio de 2013, o maior manancial paulista perde mais água do que recebe.

O prejuízo chegou a 647,4 bilhões de litros ao fim do mês passado, o equivalente a 66% da capacidade útil ou mais de 4 meses de consumo de toda a Grande São Paulo.

No período, o volume de água retirado das represas para abastecer cerca de 14 milhões de pessoas na Grande São Paulo e na região de Campinas foi mais do que o dobro do que entrou no sistema.

Setembro de 2013, quando se fecha normalmente o período de estiagem iniciado em abril, foi o mês com o maior saldo negativo: 69,2 bilhões de litros a menos. À época, o Cantareira estava com mais de 40% da capacidade.

Banco de águas

Tamanho déficit ocorreu porque antes de a crise do Cantareira ter sido decretada, no fim de janeiro, a retirada de água dos reservatórios chegou a superar em mais de 6% a vazão máxima estabelecida na outorga de 2004.

Isso só foi possível por causa da regra do banco de águas, uma espécie de estoque virtual que permite à Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e às cidades da Bacia dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) captarem a mais a parcela não utilizada de suas cotas no mês anterior.

Para o engenheiro e membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, José Roberto Kachel, os dados mostram que desde 2012 o Cantareira já dava sinais de que passava por estiagem.

"As afluências médias de 2012 e 2013 foram bem próximas das de 1953 e 1954, que eram a pior da história até então. Se tivessem se atentado a isso e reduzido a captação do Cantareira, não estaríamos utilizando o volume morto hoje", afirma.

"Realmente tivemos dois anos seguidos muito secos, que fizeram com que os reservatórios baixassem. O que não estava previsto é que meses como novembro, dezembro, janeiro e fevereiro, que são chuvosos, fossem tão secos", explica o professor de Engenharia Hidráulica da Universidade de São Paulo (USP), Rubem La Laina Porto, que exprime a mesma posição defendida pela Sabesp e pela Bacia dos Rios PCJ, que partilham a água do Cantareira.

"A retirada de água ocorreu conforme o contexto do período e dentro das regras do sistema. Jamais alguém poderia imaginar esta estiagem tão forte. Quando vislumbramos esse cenário, em dezembro, nós já iniciamos as medidas de contingência", disse o coordenador de projetos do Consórcio PCJ, José Cezar Saad.

Foi entre dezembro e janeiro que a Sabesp iniciou na Grande São Paulo a reversão de água dos Sistemas Alto Tietê e Guarapiranga para bairros da capital paulista que eram abastecidos pelo Cantareira.

Em fevereiro, foi lançado o programa de desconto na conta para quem economizasse água, seguido da redução da pressão noturna na rede de distribuição, revelada pelo Estado em abril.

Em maio, a companhia divulgou que as ações haviam garantido uma redução de 27% no volume retirado do manancial e evitado um rodízio de 36 horas com água e 72 horas sem fornecimento.

Volume morto

Além das queixas de falta d’água, as medidas não impediram que o nível do manancial continuasse caindo.

Em junho, o volume útil do Cantareira zerou pela primeira vez na história e a Sabesp começou a inédita retirada de 104 bilhões de litros do volume morto das represas Jaguari-Jacareí, na região de Bragança Paulista.

Até ontem, 66,7% já haviam sido sugados. Ainda neste mês, a empresa deve iniciar a captação de 78 bilhões de litros da reserva profunda da Represa Atibainha, em Nazaré Paulista.

Com a estiagem ainda mais aguda, o déficit voltou a subir em julho, quando o volume de água retirado do sistema foi 446% maior do que o que entrou, resultando em uma perda de 50 bilhões de litros.

As projeções apontam que a primeira cota do volume morto do Cantareira deve acabar em outubro. A Sabesp já pediu autorização aos órgãos gestores do manancial para retirar 116 bilhões de litros adicionais da reserva.

Acompanhe tudo sobre:Águacidades-brasileirasEstado de São PauloMetrópoles globaissao-pauloSecas

Mais de Brasil

Haddad: pacote de medidas de corte de gastos está pronto e será divulgado nesta semana

Dino determina que cemitérios cobrem valores anteriores à privatização

STF forma maioria para permitir símbolos religiosos em prédios públicos

Governadores do Sul e do Sudeste criticam PEC da Segurança Pública proposta por governo Lula