Lula vem afirmando que o governo vai acelerar a entrega atrasada de obras do Minha Casa Minha Vida, ainda contratadas na gestão de Dilma Rousseff (PT) (Ricardo Stuckert/Presidência da República/Divulgação)
Alessandra Azevedo
Publicado em 8 de dezembro de 2020 às 18h41.
Última atualização em 8 de dezembro de 2020 às 18h55.
O Senado aprovou na quinta-feira, 3, o texto-base da Medida Provisória (MP) 996, que cria o programa habitacional Casa Verde e Amarela, substituto do Minha Casa Minha Vida, criado em 2009, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Enviado pelo governo em agosto, o projeto agora está pronto para sanção do presidente Jair Bolsonaro.
O novo programa prevê financiamento para construção, aluguel e pequenas reformas de casas para famílias com renda de até 7.000 reais mensais, na área urbana, e 84.000 reais por ano, na área rural, com regras mais benéficas para as regiões Norte e Nordeste.
A meta do governo é construir mais 350.000 unidades habitacionais a partir do novo programa. Com as obras já em andamento pelo MCMV, a estimativa é que seja possível chegar a 1,6 milhão em quatro anos. A principal fonte de recursos dos financiamentos continua sendo o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
O Casa Verde e Amarela contempla três grupos, e não quatro faixas, como no MCMV. Para o primeiro, de famílias com renda de até 2.000 reais por mês, permite subsídio de imóveis e financiamento com taxa de juro que começa em 4,25% ao ano, no Norte e no Nordeste, e 4,5% ao ano nas demais regiões do país. No MCMV, a menor taxa é de 5%, para beneficiários com renda até 2.600 reais, sem considerar quem ganha até 1.800 reais, que tem condições especiais.
No segundo grupo, com renda entre 2.000 e 4.000 reais, as taxas dos financiamentos são a partir de 4,75% ao ano, no Nordeste e no Norte, e a partir de 5% ao ano nas demais regiões. Os incentivos maiores para o Norte e o Nordeste são uma tentativa do presidente Jair Bolsonaro de consolidar a popularidade nas regiões, tradicionais redutos petistas. Para o último grupo atendido, de 4.000 a 7.000 reais, as taxas começam em 7,66% ao ano, em todas as regiões.
O programa também prevê que uma frente de regularização fundiária, em parceria com estados e prefeituras. O objetivo é regularizar 2 milhões de casas e fazer melhorias em 400.000 até 2024. Famílias com renda de até 5.000 reais e que moram em núcleos urbanos informais fora de áreas de risco serão beneficiadas.
Além disso, o programa atuará na reforma e na ampliação dos imóveis. A proposta inclui construção de telhado, quarto, banheiro, piso e instalações elétricas ou hidráulicas. O Casa Verde e Amarela também prevê instalação de equipamentos de aquecimento solar ou de eficiência energética. As obras serão bancadas pelo Fundo de Desenvolvimento Social (FDS).
O texto também prevê um modelo de parceria com a iniciativa privada para aproveitamento de imóveis da União para uso em políticas habitacionais. "Como é sabido, há inúmeros imóveis federais em áreas bem localizadas de diversas cidades que se encontram subaproveitados, quando não completamente abandonados”, disse o relator, senador Marcio Bittar (MDB-AC).
Na votação na Câmara, a oposição apresentou emendas e fez pedidos no plenário para que o relator incluísse famílias de baixíssima renda, que ganham até 1.800 reais por mês — ou seja, se enquadravam na faixa 1 do Minha Casa Minha Vida. Pelo MCMV, o governo dava subsídio de até 90% do valor do imóvel para essa faixa, que pagava parcelas fixas de, no máximo, 270 reais por mês.
O Executivo alega que não tem recursos orçamentários para incluir o grupo, mas garante que as regras do MCMV serão respeitadas até o fim dos contratos atuais, inclusive com a entrega das casas já contratadas. Pelo texto aprovado na Câmara, as instituições financeiras que têm pendências com o programa terão prazos maiores para cumprimento dos contratos.
Além disso, os beneficiários da faixa 1 que estiverem com pagamentos atrasados poderão renegociar as parcelas. Antes, essa possibilidade era proibida por lei. O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, afirma que será possível regularizar a situação de mais de 500.000 famílias com essa medida. O texto também permite que o Executivo mude, por decreto, o valor máximo dos imóveis financiados e as faixas de renda das famílias.