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Protestos transbordaram do virtual para o real, diz Marina

Em entrevista a EXAME, a provável candidata a presidente em 2014 analisa os protestos, cutuca Dilma e diz o que pensa sobre discussões fundamentais para o país


	Marina Silva evita se posicionar como candidata à presidência – diz que nem partido tem ainda – mas sabe que seu nome nunca foi tão forte
 (Alexandre Severo/EXAME.com)

Marina Silva evita se posicionar como candidata à presidência – diz que nem partido tem ainda – mas sabe que seu nome nunca foi tão forte (Alexandre Severo/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 17 de julho de 2013 às 08h29.

São Paulo - Tanto na última pesquisa do Datafolha, do fim de junho, quanto na CNT/MDA, divulgada em 16 de julho, a ex-senadora Marina Silva mostra que foi, indiscutivelmente, a grande ganhadora política das manifestações que se espalharam pelo país no mês passado.

Como potencial candidata a presidente da República no ano que vem, Marina saiu de 16% para 23% de intenções de votos no Datafolha e de 12,5% para 20,7% na última pesquisa da CNT/MDA.

São avanços ainda mais representativos quando se vê que Dilma perdeu mais de 20 pontos percentuais de intenção de votos nas duas pesquisas. O segundo turno seria inevitável.

Nesse contexto, Marina Silva recebeu EXAME para uma conversa de quase duas horas. Ela evita se posicionar como candidata à presidência – diz que nem partido tem ainda – mas sabe que seu nome nunca foi tão forte.

O pedido de registro do novo partido, o Rede Sustentabilidade, deve ser feito no início de agosto, e sua equipe já diz que o número mínimo de assinaturas foi alcançado.

Foi em busca dessas assinaturas que Marina passou a maior parte de 2013. Mas, paralelamente, ela exercita uma prática que parece faltar à presidente Dilma: a de ouvir.

Marina faz encontros recorrentes com economistas, acadêmicos e empresários para ajudá-la a formular melhor as ideias que norteariam um suposto governo seu.

Alguns são velhos colaboradores da campanha presidencial de 2010, mas dentre os nomes inéditos, está André Lara Resende, um dos economistas que criaram o Plano Real, e Eliana Cardoso, professora da FGV que já trabalhou no Banco Mundial e no Fundo Monetário Internacional.

Para questões internacionais, Marina também costuma ouvir Rubens Ricupero, ex-embaixador nos Estados Unidos. Ele, inclusive, fez questão de assinar a petição para a criação do partido de Marina na última vez que a encontrou, há um mês, no lançamento de um livro de José Eli da Veiga, professor de desenvolvimento sustentável da USP e outro frequente interlocutor da ex-ministra de Meio Ambiente do governo Lula. Na entrevista, Marina abordou temas variados como a sua lista de especialistas amigos.

Alguns trechos seguem abaixo:

EXAME: Por que a senhora acha que seu nome é apontado como o de um político que saiu maior do que entrou no período recente de manifestações pelo país?

Marina: Eu dei 129 palestras no ano passado, nos mais diferentes setores, e sempre me perguntavam se as manifestações dentro da internet teriam alguma força política. Eu sempre dizia que tinham, só bastava transbordar do virtual para o real, como está acontecendo no mundo inteiro.

Onde não há democracia, na busca por ela. Onde existe, na busca por democratizar a própria democracia. Eu venho falando há três anos que está surgindo um novo sujeito político no mundo. Esse novo sujeito político é resultante de uma insatisfação muito grande com a qualidade da representação política e uma busca por ampliar a participação política.


EXAME: A política de campeões nacionais, em que o governo escolhe alguns grupos que recebem aportes financeiros do Estado para se fortalecer e garantir que o Brasil passe a ter grandes empresas, norteia a ação de órgãos como o BNDES. A crítica é que a escolha é arbitrária, o dinheiro é posto em alguns grupos que não estão preparados e que há mecanismos de mercado para que essas empresas se capitalizem de outro jeito. Como a senhora se posiciona nesse debate?

Marina: É muito complicado quando você cria mecanismos que não são transparentes. Quais são os critérios para essas escolhas, já que envolvem dinheiro público? Isso foi debatido onde e com quem? Quem disse que de fato esses são os melhores para serem escolhidos? Quais são os indicadores que levam essas escolhas a ser as melhores escolhas?

Não tem nenhum problema o Estado criar mecanismos para estimular a economia, se isso é feito com lisura, com transparência e levando em conta os aspectos de efetiva capacidade competitiva, em vez de puro lobby.

EXAME: A senhora acha que essa forma de o governo lidar com a Petrobras, usando a empresa como instrumento de controle da inflação ao não repassar a variação do preço do barril do petróleo para a bomba, foi errada?

Marina: São mecanismos artificiais para controlar a inflação, como os usados para maquiar o superávit primário. Com certeza, esse uso político tem que parar.

EXAME: O governo apoia firmemente a construção de hidrelétricas com reservatório. O que a senhora acha?

Marina: Pois é, estamos vivendo o retrocesso em tudo. Advogar os grandes alagamentos que já tivemos no passado é voltar aos anos 70, tempo da Usina Hidrelétrica de Balbina. A morfologia da Amazônia não permite reservatórios. Não dá. Não há rios encaixados. Com todo o respeito à nossa ex-ministra de Minas e Energia, conhecer um pouco da morfologia da Amazônia já inviabiliza a pretensão.

EXAME: Parte dos ambientalistas está reavaliando a energia nuclear. Deveríamos explorá-la mais?

Marina: Não. Na realidade do Brasil, não há necessidade de fazer investimentos em energia nuclear. Ela é cara, não é segura e não se sabe o que fazer com esses resíduos.

Outros trechos da entrevista estão na edição 1045 da revista EXAME, que chega às bancas amanhã.

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