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Sabesp planeja exploração do 'volume morto'

Só a reserva adicional de cerca de 400 milhões de metros cúbicos exigirá da companhia a compra de novas bombas e construção de infraestrutura


	Um funcionário da Sabesp na barragem de Jaguary em Braganca Paulista: no primeiro trimestre de 2013, a Sabesp gastou R$ 64,9 milhões com materiais de tratamento, sendo que parte do valor também inclui esgoto
 (Nacho Doce/Reuters)

Um funcionário da Sabesp na barragem de Jaguary em Braganca Paulista: no primeiro trimestre de 2013, a Sabesp gastou R$ 64,9 milhões com materiais de tratamento, sendo que parte do valor também inclui esgoto (Nacho Doce/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 24 de fevereiro de 2014 às 10h17.

São Paulo - Diante da atual crise hídrica, a Sabesp trabalha num planejamento emergencial para exploração do volume morto (abaixo dos níveis mínimos operacionais) do Sistema Cantareira. O uso da reserva adicional de cerca de 400 milhões de metros cúbicos exigirá da companhia a compra de novas bombas e a construção de uma infraestrutura capaz de alcançar a água do fundo dos reservatórios. Na avaliação de especialistas do setor, os custos da operação devem extrapolar o plano inicial de investimentos da concessionária para o ano, mas compensam os gastos com um eventual racionamento de água na Grande São Paulo.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Sabesp informou que ainda estuda quais as melhores alternativas para a captação da reserva adicional. No último final de semana, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, adiantou que duas análises iniciais estão sendo consideradas. Segundo ele, a primeira alternativa permitiria a exploração de cerca de 150 milhões de metros, com a construção de ensecadeiras (espécie de barragens provisórias) e de novos canais. Outros 150 milhões de metros, segundo Alckmin, poderiam ser captados com o uso de bombeamento. "Estamos avaliando, em termos de engenharia, o tipo de bomba. Isso está sendo estudado pela Sabesp", comentou.

De acordo com o professor do departamento de Engenharia Hidráulica da Escola Politécnica da USP, Rubem Porto, é provável que a concessionária utilize um conjunto de, ao menos, dez bombas flutuantes. "Além dessas bombas, será necessário também um sistema que traga água até elas à medida que o nível do reservatório diminua", disse, sem estimar o custo do equipamento.

"Não é só o custo da bomba, é de energia, de tubulação, de obras complementares. É um custo muito alto", afirmou José Cezar Saad, coordenador de projetos do Consórcio PCJ (entidade que representa as demais cidades e empresas que dividem a outorga do Sistema Cantareira com a Sabesp). Saad também alertou para o fato de que a água do volume morto possui qualidade inferior, o que eleva os gastos com tratamento. "A água desse volume morto não tem uma oxigenação tão adequada, ela não tem uma renovação e tem mais sedimentos. É uma água de qualidade inferior e no tratamento serão gastos mais produtos".

No primeiro trimestre de 2013, a Sabesp gastou R$ 64,9 milhões com materiais de tratamento, sendo que parte do valor também inclui esgoto. Os gastos com energia elétrica somaram R$ 144,8 milhões em igual período, enquanto os custos com construção foram de R$ 486 milhões.

"Os investimentos (com a exploração da reserva adicional) não estavam previstos inicialmente. Os gastos que a Sabesp pode ter agora não estavam na conta, porque essa é uma questão emergencial", afirmou presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), Alceu Guérios Bittencourt.


Na quinta-feira, 20, o índice dos reservatórios do Sistema Cantareira caiu para 17,9%, nível mais crítico desde o início de suas operações, em 1974. No mesmo dia do ano passado, o índice de água armazenado nas reservas era de 56,8%. Para Bittencourt, nenhuma companhia poderia prever o atual cenário de escassez. Considerando que não haja nenhuma alteração nos planos de investimentos da companhia, os gastos necessários para a captação do volume devem extrapolar o capex inicial previsto. Conforme o planejamento da Sabesp, R$ 981,1 milhões seriam investidos em abastecimento de água ao longo de 2014.

Os aportes extras, no entanto, devem compensar os custos de um eventual racionamento de água, acreditam os especialistas. "O gasto sairá mais barato do o que a concessionária deverá gastar com o programa de descontos e com o custo de um racionamento de água", afirmou Porto. Bittencourt lembrou que a possibilidade de um sistema de rodízio no abastecimento da Grande São Paulo também traria custos operacionais para a Sabesp.

Estiagem

Para Saad, a exploração do volume morto do Sistema Cantareira não é apenas viável, mas também necessária. A maior preocupação das cidades do PCJ e da própria Sabesp é com o abastecimento a partir de abril, quando começa o período seco. Em relatório, o comitê anticrise instituído pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE), estima que, no pior cenário de estiagem, a água do nível operacional do sistema pode acabar no fim de agosto.

Mesmo no cenário mais positivo projetado pelo comitê, o índice do volume de água armazenado no Cantareira em novembro deste ano deve ser de 17%, nível ainda é considerado crítico por técnicos do setor de saneamento.

"Em razão das incertezas inerentes aos cenários futuros e da avaliação apresentada sobre a severidade da atual escassez hídrica, o GTAG-Cantareira (Grupo Técnico de Assessoramento para gestão do Sistema Cantareira) recomenda à Sabesp que ela defina um plano emergencial de intervenções necessárias para o eventual aproveitamento de volumes disponíveis nos reservatórios", diz o documento.

Segundo os especialistas, o tempo para instalar a infraestrutura necessária para a exploração do volume morto dependerá muito da estratégia da Sabesp, mas teoricamente demanda cerca de um a dois meses. "É quase uma certeza que na época da estiagem a exploração desse volume será necessária e é com esse prazo que o planejamento deve trabalhar", afirmou Saad.

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