Reservatório é esvaziado às pressas a 100 km de Mariana
Efeito Samarco: o reservatório foi esvaziado por risco de rompimento da barragem de Germano, estrutura da empresa Samarco que ainda ameaça ruir
Da Redação
Publicado em 30 de novembro de 2015 às 07h42.
Mariana - O reservatório da usina hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga), em Santa Cruz do Escalvado, a 100 quilômetros de Mariana (MG) , está sendo esvaziado às pressas, por causa do risco de rompimento da barragem de Germano, estrutura da empresa Samarco que ainda ameaça ruir. A ação deixou a população local perplexa e traz preocupação.
"Conforme a água está descendo, está acontecendo erosão da terra bem embaixo da Estrada de Santana", conta o técnico em mecânica Jarbas Antônio Lopes, de 54 anos, que havia levado parentes para ver a represa na manhã de ontem
. "Se despencar mais um pouco, vai bloquear a estrada", diz, referindo-se a uma estrada rural usada por moradores e trabalhadores das fazendas de gado ao redor da barragem.
"O reservatório estava cheio antes de acontecer isso. No dia em que a lama chegou, até aqui ficou com pó", conta o técnico, nascido na região, que costuma visitar familiares no fim de semana.
A ideia é que, caso Germano estoure, o reservatório de Candonga, que tem capacidade para 544 milhões de metros cúbicos, sirva como barreira de contenção para a lama, impedindo que ela siga pelo Rio Doce, a exemplo do que ocorreu com os rejeitos das Barragens Fundão e Santarém da Samarco.
No centro de Santa Cruz do Escalvado, cidade de 8 mil habitantes distante cerca de 5 quilômetros da barragem, moradores dizem não acreditar que o reservatório será esvaziado.
"Não pode. Muita gente pescava por lá até a lama chegar. Se essa barragem de Mariana estourar e a lama vier toda para cá, quem garante que a represa vai dar conta? Se der, a lama toda vai ficar aqui para sempre?", indagou o ajudante-geral Jeferson Rodrigues, de 22 anos.
Na usina, poucos carros e funcionários podem ser vistos do portão para fora. As comportas já estavam abertas desde o dia 7, dois dias depois do acidente em Mariana, e a produção de energia foi suspensa.
A usina tem capacidade para produzir 140 MW/hora, cerca de um sexto o que pode produzir, por exemplo, a Usina Henry Borden, da Represa Billings, na região sul da capital paulista.
Barragem
O esvaziamento emergencial foi decidido na sexta-feira, 27, quando o juiz Michel Cury e Silva, da 1.ª Vara da Fazenda, teve acesso a relatório produzido pelo Centro de Apoio Técnico do Ministério Público Estadual.
O relatório atesta comprometimento da barragem de Germano e foi feito com base em informações prestadas por empresas contratadas pela própria Samarco. A Justiça deu prazo de dois dias para esvaziamento da represa.
Até sexta-feira, o consórcio que administra a usina (formado pela Vale, uma das donas da Samarco, e pela Cemig, empresa de energia de Minas) informou que não havia sido notificado sobre a decisão da Justiça. A Samarco foi questionada sobre o caso, mas não respondeu. O consórcio que cuida da represa não atendeu nenhum de seus telefones neste domingo.
Anteontem, a Samarco divulgou nota em que afirma estar retirando peixes vivos, com ajuda de empresas terceirizadas e pescadores locais, do canal de adução da represa de outra usina hidrelétrica, Aimorés, também em Minas, que fica entre Governador Valadares (MG) e Colatina (ES).
"Depois de recolhidos, os peixes são encaminhados para outros cursos dágua, que possuem as mesmas características de seu hábitat original", diz a nota.
Resumo
Além de destruir o distrito de Bento Rodrigues, a tragédia em Mariana já tem confirmadas 11 mortes. Cinco funcionários da Samarco e três moradores do vilarejo estão desaparecidos e dois corpos aguardam identificação.
Há uma semana, a lama que vazou da barragem, e atingiu o Rio Doce, chegou à foz do curso dágua, no distrito de Regência (ES).
Justiça
Pela decisão judicial, tomada a pedido do Ministério Público de Minas e do governo do Estado, a Samarco também fica obrigada a informar o quadro de estruturas de apoio das represas chamadas Sela, Tulipa e Selinha.
A mineradora terá também de prever "consequências e medidas emergenciais concretas", executar "integralmente as medidas emergenciais apresentadas nos estudos anteriormente citados, em caso de rompimento, bem como eventuais recomendações técnicas do Estado e do DNPM (órgão federal de fiscalização)". Prevê-se multa diária de R$ 1 milhão para caso de descumprimento.
Ação
O governo federal e os Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo entrarão nesta segunda-feira, 30, com uma ação na Justiça para cobrar R$ 20 bilhões das empresas responsáveis pelo rompimento da barragem em Mariana (MG) e criar um fundo para reparação dos danos.
Além da Samarco, a ação também terá como alvo a Vale e a BHP Billiton .
A medida foi anunciada sexta-feira, após a presidente Dilma Rousseff reunir-se no Palácio do Planalto com os governadores de Minas, Fernando Pimentel (PT), e do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB). A ação será coordenada pela Advocacia-Geral da União.
Mariana - O reservatório da usina hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga), em Santa Cruz do Escalvado, a 100 quilômetros de Mariana (MG) , está sendo esvaziado às pressas, por causa do risco de rompimento da barragem de Germano, estrutura da empresa Samarco que ainda ameaça ruir. A ação deixou a população local perplexa e traz preocupação.
"Conforme a água está descendo, está acontecendo erosão da terra bem embaixo da Estrada de Santana", conta o técnico em mecânica Jarbas Antônio Lopes, de 54 anos, que havia levado parentes para ver a represa na manhã de ontem
. "Se despencar mais um pouco, vai bloquear a estrada", diz, referindo-se a uma estrada rural usada por moradores e trabalhadores das fazendas de gado ao redor da barragem.
"O reservatório estava cheio antes de acontecer isso. No dia em que a lama chegou, até aqui ficou com pó", conta o técnico, nascido na região, que costuma visitar familiares no fim de semana.
A ideia é que, caso Germano estoure, o reservatório de Candonga, que tem capacidade para 544 milhões de metros cúbicos, sirva como barreira de contenção para a lama, impedindo que ela siga pelo Rio Doce, a exemplo do que ocorreu com os rejeitos das Barragens Fundão e Santarém da Samarco.
No centro de Santa Cruz do Escalvado, cidade de 8 mil habitantes distante cerca de 5 quilômetros da barragem, moradores dizem não acreditar que o reservatório será esvaziado.
"Não pode. Muita gente pescava por lá até a lama chegar. Se essa barragem de Mariana estourar e a lama vier toda para cá, quem garante que a represa vai dar conta? Se der, a lama toda vai ficar aqui para sempre?", indagou o ajudante-geral Jeferson Rodrigues, de 22 anos.
Na usina, poucos carros e funcionários podem ser vistos do portão para fora. As comportas já estavam abertas desde o dia 7, dois dias depois do acidente em Mariana, e a produção de energia foi suspensa.
A usina tem capacidade para produzir 140 MW/hora, cerca de um sexto o que pode produzir, por exemplo, a Usina Henry Borden, da Represa Billings, na região sul da capital paulista.
Barragem
O esvaziamento emergencial foi decidido na sexta-feira, 27, quando o juiz Michel Cury e Silva, da 1.ª Vara da Fazenda, teve acesso a relatório produzido pelo Centro de Apoio Técnico do Ministério Público Estadual.
O relatório atesta comprometimento da barragem de Germano e foi feito com base em informações prestadas por empresas contratadas pela própria Samarco. A Justiça deu prazo de dois dias para esvaziamento da represa.
Até sexta-feira, o consórcio que administra a usina (formado pela Vale, uma das donas da Samarco, e pela Cemig, empresa de energia de Minas) informou que não havia sido notificado sobre a decisão da Justiça. A Samarco foi questionada sobre o caso, mas não respondeu. O consórcio que cuida da represa não atendeu nenhum de seus telefones neste domingo.
Anteontem, a Samarco divulgou nota em que afirma estar retirando peixes vivos, com ajuda de empresas terceirizadas e pescadores locais, do canal de adução da represa de outra usina hidrelétrica, Aimorés, também em Minas, que fica entre Governador Valadares (MG) e Colatina (ES).
"Depois de recolhidos, os peixes são encaminhados para outros cursos dágua, que possuem as mesmas características de seu hábitat original", diz a nota.
Resumo
Além de destruir o distrito de Bento Rodrigues, a tragédia em Mariana já tem confirmadas 11 mortes. Cinco funcionários da Samarco e três moradores do vilarejo estão desaparecidos e dois corpos aguardam identificação.
Há uma semana, a lama que vazou da barragem, e atingiu o Rio Doce, chegou à foz do curso dágua, no distrito de Regência (ES).
Justiça
Pela decisão judicial, tomada a pedido do Ministério Público de Minas e do governo do Estado, a Samarco também fica obrigada a informar o quadro de estruturas de apoio das represas chamadas Sela, Tulipa e Selinha.
A mineradora terá também de prever "consequências e medidas emergenciais concretas", executar "integralmente as medidas emergenciais apresentadas nos estudos anteriormente citados, em caso de rompimento, bem como eventuais recomendações técnicas do Estado e do DNPM (órgão federal de fiscalização)". Prevê-se multa diária de R$ 1 milhão para caso de descumprimento.
Ação
O governo federal e os Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo entrarão nesta segunda-feira, 30, com uma ação na Justiça para cobrar R$ 20 bilhões das empresas responsáveis pelo rompimento da barragem em Mariana (MG) e criar um fundo para reparação dos danos.
Além da Samarco, a ação também terá como alvo a Vale e a BHP Billiton .
A medida foi anunciada sexta-feira, após a presidente Dilma Rousseff reunir-se no Palácio do Planalto com os governadores de Minas, Fernando Pimentel (PT), e do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB). A ação será coordenada pela Advocacia-Geral da União.