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"Não como nem durmo": os relatos de sobreviventes das chuvas em Pernambuco

“Foi muito triste, foi como perder minha família. Moro aqui há 40 anos, eram pessoas que eu via desde pequenas”, conta uma dona de casa de 56 anos

Tragédia em Recife: meteorologistas atribuem as chuvas torrenciais a um fenômeno chamado "ondas do leste", comum nesta época do ano (BRENDA ALCANTARA/AFP/Getty Images)

Tragédia em Recife: meteorologistas atribuem as chuvas torrenciais a um fenômeno chamado "ondas do leste", comum nesta época do ano (BRENDA ALCANTARA/AFP/Getty Images)

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AFP

Publicado em 30 de maio de 2022 às 18h31.

Última atualização em 30 de maio de 2022 às 19h52.

"Não como nem durmo, porque foi uma dor muito forte", diz à AFP Maria Lúcia da Silva, moradora de Jardim Monteverde, uma das áreas mais atingidas pelas chuvas torrenciais que mataram pelo menos 91 pessoas em Pernambuco.

Maria Lúcia foi evacuada a tempo neste sábado, para evitar ser soterrada por um deslizamento nessa comunidade de Recife, mas seus vizinhos não tiveram a mesma sorte: 11 pessoas da mesma família morreram e outra está desaparecida.

“Foi muito triste, foi como perder minha família. Moro aqui há 40 anos, eram pessoas que eu via desde pequenas”, conta a dona de casa, de 56 anos. "Encontraram 11, serão enterrados, e falta uma moça de 32 anos, ainda não encontraram o corpo", acrescenta, emocionada.

Em Jardim Monteverde, bairro carente localizado em uma ladeira entre Recife e o município de Jaboatão dos Guararapes, dezenas de bombeiros continuavam buscando hoje os 20 desaparecidos.

No topo do morro, restam algumas casas de pé, mas, alguns metros adiante, pode-se ver o abismo recém-aberto, quase vertical, com uma espessa camada de lama que varreu tudo em seu caminho. Aos seus pés, uma pilha de escombros, pedaços de tijolos, roupas, brinquedos e outros objetos pessoais das vítimas do desabamento.

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"Foi como um tsunami"

O aposentado Mario Guadalupe, de 60 anos, também escapou por pouco do desastre. O deslizamento "quase chegou à minha casa, vi tudo o que aconteceu", contou à AFP. "Houve um primeiro deslizamento de terra. Achávamos que não cairia muito mais, mas, em seguida, veio uma nova torrente, que foi como um tsunami, arrastou tudo pelo caminho", acrescentou Guadalupe, que mora há 40 anos no local.

A casa modesta do aposentado, milagrosamente preservada, é usada agora para armazenar alimentos distribuídos às vítimas. "Não foi uma tragédia anunciada, porque isso nunca havia acontecido."

"O que entendemos é que é um fenômeno típico do aquecimento global, porque nunca caiu tanta chuva em tão pouco tempo", continuou, temendo que outras tragédias semelhantes venham a ocorrer. "É um grande aviso para o próximo inverno."

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Meteorologistas atribuem as chuvas torrenciais dos últimos dias em Pernambuco a um fenômeno chamado "ondas do leste", comum nesta época do ano, com nuvens densas que se deslocam do continente africano em direção ao litoral brasileiro. Em poucas horas, entre a noite da última sexta-feira e a manhã de sábado, caiu 70% do volume total de precipitações previsto para todo o mês de maio.

Embora ninguém esperasse tamanha tragédia, alguns moradores criticaram as autoridades. "Muitas pessoas aqui perderam tudo. Sua vida, suas casas. Precisamos de remédios, comida", diz o pedreiro Jailson Gomes de Souza, de 34 anos. "É um grito de ajuda para o Jardim Monteverde! Se vêm nos tirar daqui, têm que vir e dar uma solução, não é só chegar e fazer campanha eleitoral", protestou.

(AFP)

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