(Diego Vara/Reuters)
Agência O Globo
Publicado em 22 de fevereiro de 2022 às 08h33.
O registro de novas armas de fogo nas mãos de civis bateu um recorde em 2021, atingindo a marca de 204,3 mil artefatos licenciados pela Polícia Federal. É uma alta de 300% em relação às 51 mil peças registradas em 2018, antes de o presidente Jair Bolsonaro assumir com a promessa de facilitar o acesso a armas para cidadãos comuns.
Em 2019, o número já havia saltado para 94.064 novas armas registradas; em 2020, atingiu 177.782, até chegar às 204,3 mil do ano passado. O volume licenciado apenas em 2021 corresponde a 13,5% das 1,5 milhão de armas de fogo no país com registro ativo na Polícia Federal.
A PF faz o registro apenas de armas usadas por civis, como servidores públicos com porte funcional, empresas de segurança privada e cidadãos comuns, entre outras categorias. O Exército faz o controle de armas de militares e de caçadores, atiradores e colecionadores (CACs).
No ano passado, das 204,3 mil armas registradas pela PF, 76% (ou 155,2 mil) foram para cidadãos comuns. O aumento sem precedentes é considerado um risco para a segurança pública, na opinião de especialistas. Daniel Cerqueira, do Fórum de Segurança Pública, diz que a política do governo Bolsonaro é anticientífica ao estimular o armamento como forma de defesa.
— Há um consenso na literatura científica empírica internacional e nacional de que quanto maior a circulação de armas, mais homicídios, feminicídios, suicídios — aponta Cerqueira, autor de estudo mostrando que a cada 1% a mais de armas em determinada localidade, a taxa de homicídios sobe 2%.
Ele cita outras pesquisas que apontam que ter uma arma em casa eleva a chance de o morador ser vítima. Assim como, na rua, o efeito surpresa ao ser abordado por um criminoso leva ao risco de que o revólver seja roubado ou descarregado contra o próprio dono. Além disso, brigas banais podem facilmente terminar em tragédia, diz Cerqueira.
— É uma calamidade ter tantas armas entrando em circulação. Uma arma com boa manutenção dura décadas. Estamos comprando o assassinato de cidadãos de bem daqui a 30, 40 anos. Essa conta, mais cedo ou mais tarde, vai chegar — previu.
Procurado, o Ministério da Justiça, que assessora a Presidência nas políticas relacionadas a armas, informou que não se manifestaria. A Presidência da República orientou que fosse procurada a Polícia Federal, que não retornou até o fechamento da edição.