Quem são as crianças que se casam no Brasil
Dados do último censo mostram que, ao menos, 88 mil meninos e meninas estavam casados em todo o Brasil
Rita Azevedo
Publicado em 10 de setembro de 2015 às 11h06.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h33.
São Paulo – Com 12 anos de idade, a meninanão vê muitas perspectivas para sua vida. Sem um interesse especial pelos estudos e sem futuro profissional, ela decide sair da casa dos pais para encontrar a liberdade num casamento . Pouco tempo depois, acaba vivendo experiências de controle e violência nas mãos do marido.
Essa é apenas uma das situações retratadas na pesquisa “Ela vai no meu barco: Casamento na infância e adolescência no Brasil”, realizada pelo Instituto Promundo, em parceria com a Plan International Brasil e a Universidade Federal do Pará.
Os pesquisadores analisaram as atitudes e práticas do casamento na infância e adolescência a partir de dados oficiais e de uma pesquisa exploratória nos estados brasileiros onde são realizados mais casamentos de crianças e adolescentes.Navegue pelas fotos e veja quem são esses jovens que se transformam precocemente em adultos.
A pesquisa mostra que, embora os casamentos infantis sejam vivenciados por meninas e meninos, são elas as mais afetadas pela prática. As uniões envolvem, em sua maioria, homens adultos e meninas na fase da infância e da adolescência. No caso das famílias pesquisadas, a diferença média de idade entre os cônjuges é de nove anos.
Uma estimativa apresentada na pesquisa "Ela vai no meu barco" mostra que o Brasil ocupa o quarto lugar no mundo em números absolutos de mulheres casadas até a idade de 15 anos. No total, 877 mil mulheres casaram antes de chegar a essa idade. O Brasil é também o quarto país em números absolutos de meninas casadas com idade inferior a 18 anos - cerca de 3 milhões de mulheres com idades entre 20 e 24 anos casaram antes de entrar na fase adulta. Em outros países da América Latina e Caribe, os níveis de ocorrência são maiores apenas na República Dominicana e Nicarágua.
No Brasil há, pelo menos, 88 mil crianças de 10 a 14 anos em uniões consensuais, civis ou religiosas. Os estados com a maior prevalência da prática são o Pará e o Maranhão. Os dados fazem parte do último Censo realizado pelo IBGE, em 2010. A lei brasileira prevê o casamento só a partir de 18 anos ou aos 16, com a autorização dos pais. São poucas as exceções para a união de menores de idade. Uma delas é no caso de gravidez precoce.
Diferentemente do que acontece em países africanos e asiáticos, onde há arranjos ritualísticos ou jovens prometidas, no Brasil, os casamentos são consensuais. Há, no entanto, uma série de fatores que levam a essa decisão, sendo a gravidez precoce apenas umas delas. Outros são relacionados à própria família da jovem, como o medo de a garota engravidar precocemente e o homem fugir para não “assumir” o bebê, ou o receio de que a menina fique “falada” por seu comportamento sexual. Em outros casos, de acordo com a pesquisa, a menina vê na união com um homem mais velho a possibilidade de ter uma maior segurança financeira ou de fugir dos abusos praticados em casa. No lado dos homens, o principal motivo para a união com uma jovem é o desejo de encontrar alguém “mais obediente” a eles.
As maiores consequências na vida de garotas submetidas precocemente ao casamento estão ligadas à saúde e à educação. Além da gravidez antes do tempo, é comum que essas meninas deixem os estudos e sejam expostas à violência do parceiro.Quando decidem abandonar o casamento, acabam encontrando dificuldades na procura de trabalho e carregam consigo a responsabilidade de criar os filhos.
Mais lidas
Mais de Brasil
PF: Plano para matar Moraes foi cancelado após recusa do exército em apoiar golpeGilmar Mendes autoriza retomada de escolas cívico-militares em São PauloGeneral Mario Fernandes imprimiu plano para matar autoridades e foi até Bolsonaro, revela PFLula foi monitorado por dois meses pelos 'kids pretos', diz PF