Sou ministro da Saúde, não sou censor do presidente, diz Queiroga à CPI
Ministro da Saúde é questionado sobre a autonomia à frente da pasta e sobre o "gabinete paralelo" que assessoraria Bolsonaro em assuntos relacionados à pandemia
Alessandra Azevedo
Publicado em 8 de junho de 2021 às 06h00.
Última atualização em 8 de junho de 2021 às 11h28.
Ouvido pela primeira vez há mais de um mês, em 6 de maio, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, depõe neste momento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid nesta terça-feira, 8. Os senadores devem questioná-lo sobre inconsistências nas declarações e sobre novas informações obtidas pelo colegiado.
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O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, repete a fórmula usada na primeira oitiva à comissão e se esquiva de avaliar as atitudes do presidente Jair Bolsonaro que contrariam medidas de enfrentamento à covid-19, como uso de máscara e distanciamento social. Em resposta ao relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), Queiroga afirmou não ser "censor" do presidente da República. Renan havia mostrado anteriormente um vídeo com episódios de aglomerações provocadas por Bolsonaro, chamando Queiroga de "omisso" pelo fato de o presidente continuar promovendo essas situações.
O ministro da Saúde disse já ter falado com o presidente sobre o assunto. Quando questionado o que o mandatário teria falado nesses encontros, Queiroga disse apenas que, em sua presença, Bolsonaro usa máscara "na grande maioria das vezes". O titular da Saúde afirmou também que orienta o presidente sobre essas questões. "Evidente que sim. Já informei que conversei com o presidente sobre esse assunto", disse ele.
"É um ato individual. As imagens falam por si só, estou aqui como ministro para ajudar o País, e não vou fazer juízo de valor a respeito da conduta do presidente da República", afirmou Queiroga, que disse ainda que as recomendações sanitárias "estão postas" e que cabe "a todos" aderir a essas medidas.
Expectativa do depoimento
Os senadores Humberto Costa (PT-PE) e Tasso Jereissati (PSDB-CE) apresentaram requerimentos para chamar Queiroga novamente. O primeiro argumenta que o depoimento anterior “foi lacônico em muitos aspectos, inclusive e sobretudo porque alegou estar há poucos dias na condição de ministro da Saúde”.
O ministro, segundo Costa, “foi contraditório em diversos aspectos”. Um deles teria sido quando Queiroga disse que não houve indicação do uso da cloroquina para tratamento da covid-19 durante a gestão dele. O ministério, entretanto, ainda não revogou uma portaria que orienta o uso da medicação, “mesmo sabendo-se que ela não possui eficácia”.
No primeiro depoimento, Queiroga garantiu ter autonomia para gerir a pasta, o que vai de encontro com outros depoimentos, como dos ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, que estiveram à frente do ministério antes dele. A pressão do presidente Jair Bolsonaro pelo uso da cloroquina influenciou a saída dos dois.
Para senadores, uma situação que evidenciou a falta de autonomia do ministro foi a saída da infectologista Luana Araújo do governo, em maio, 10 dias depois de ela ter sido indicada para o cargo de secretária extraordinária de enfrentamento à covid-19 pelo próprio Queiroga.
Em depoimento à CPI, a médica disse queQueiroga entrou em contato com ela e informou que o nome não teria sido aprovado. Nos dias anteriores, saíram na imprensa matérias que mostravam que ela tem posicionamentos diferentes dos de Jair Bolsonaro sobre assuntos relacionados à pandemia.
A médica, por exemplo, critica fortemente o uso de medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento de covid-19, afirma que imunidade de rebanho sem vacina é “impossível” e defende o uso de máscaras e o distanciamento social para evitar a propagação da doença.
Já Tasso Jereissati aponta, no requerimento em que pede a reconvocação de Queiroga, que, embora o ministro tenha dito à CPI que recomenda distanciamento social e uso de máscara para evitar a disseminação do vírus, o presidente Jair Bolsonaro continua se posicionando em sentido contrário.
Por isso, Queiroga deve ser chamado a “esclarecer que procedimentos legais ou administrativos sob seu alcance deveriam ser tomados a fim de fazer valer suas determinações”, afirma Jereissati.
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Com informações do Estadão Conteúdo