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Como Santos retrata a frustração econômica do Brasil

Em nenhum lugar as promessas não cumpridas de uma quase superpotência como o Brasil são tão evidentes quanto em Santos, porto mais movimentado da América Latina

Contêineres no porto de Santos: o porto sente o duplo golpe do escândalo de corrupção na Petrobras e da pior recessão do Brasil em 25 anos (gyn9038/ThinkStock)
DR

Da Redação

Publicado em 29 de julho de 2015 às 15h10.

As exportações por Santos despencaram com a desaceleração da demanda da China . Empresas que apostaram nas vantagens do desenvolvimento de gigantescas descobertas de petróleo passaram a recuar depois que a Petrobras informou que cortará um terço dos investimentos. E os preços dos imóveis estão em queda, pois edifícios inteiros permanecem vazios.

Em nenhum lugar, talvez, as promessas não cumpridas de uma quase superpotência como o Brasil são mais evidentes do que em Santos, cidade do porto mais movimentado da América Latina .

A cerca de uma hora de São Paulo, Santos se beneficiou com a dupla bênção do superciclo de commodities e a onda de investimentos estatais que isso gerou. Agora, o porto sente o duplo golpe do escândalo de corrupção na Petrobras e da pior recessão do Brasil em 25 anos.

“Existe uma frustração muito grande pois Santos, assim como o Brasil, perdeu sua oportunidade e os anos dourados ficaram para trás”, disse Karla Simionato, coordenadora do curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Santos.

Apenas uma das três torres que a Petrobras planejava construir para um novo complexo de escritórios de 25.000 metros quadrados em Santos teve a obra concluída e as outras duas estão suspensas.

Negócios locais que migraram para a região industrial, elevando os preços das propriedades devido à previsão da chegada de 6.000 funcionários, agora estão fechando ou nunca sequer abriram as portas.

Remorso dos compradores

“Muitos proprietários compraram terrenos para restaurantes e se arrependem”, disse Paulo Latrova, presidente de uma associação de donos de lojas de Santos. “Em todo lugar onde colocou os pés, a Petrobras levou progresso e investimento. Não há nada acontecendo aqui”.

A Petrobras não respondeu aos pedidos de comentário e o gabinete da Prefeitura de Santos preferiu não comentar.

Nos tempos em que o apetite da China por commodities parecia interminável e a Petrobras era a queridinha dos investidores globais, empresas como a Saipem, uma unidade da Eni SpA, e a Iesa Óleo Gás SA anunciaram planos para estabelecer operações em Santos ou nas proximidades.

Localizada na intersecção entre as maiores descobertas de petróleo da história do Brasil em uma área offshore conhecida como pré-sal e o principal reduto agrícola do país, Santos teve suas exportações quase duplicadas em um período de seis anos, com um pico de US$ 5,93 bilhões em 2012, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil.

Os tempos mudaram. As receitas com os embarques caíram 20 por cento nos primeiros seis meses de 2015 após diminuírem 25 por cento no ano passado, mostram os dados.

O desemprego em Santos subiu para 12,2 por cento em maio, mais de 2 pontos porcentuais a mais do que quatro anos antes, segundo a Universidade Santa Cecília.

E a queda na demanda por grandes espaços de escritórios reduziu os preços em 3 por cento de dezembro para cá, Segundo levantamentyo feito por Robert Zarif, consultor econômico que monitora o mercado local.

Neymar, Pelé

“Podemos culpar dois fatores pela situação de Santos: os efeitos da redução nos investimentos da Petrobras e a recessão econômica”, disse Carlos Eduardo Lima, presidente da comissão de Obras Públicas da Câmara Brasileira da Indústria da Construção. “É uma fotografia perfeita da desaceleração econômica do Brasil”.

Mais conhecida como a cidade onde a estrela do futebol Neymar Júnior foi revelada e onde a lenda do esporte Pelé passou a maior parte de sua carreira, Santos é uma das cidades mais antigas do Brasil. Fundada em 1546, seu centro é alinhado com ruas de paralelepípedos e edifícios coloniais.

A três quadras da torre da Petrobras existe outro projeto de edifício de escritórios, este terminado, mas praticamente desocupado. Quando iniciou a fundação do projeto, em 2010, a Cyrela Brazil Realty SA declarou que Santos era “o centro de excelentes oportunidades”.

Ainda piores

O ex-time de Neymar, o Santos FC, era um grande argumento de venda à época. Na ocasião, o Santos FC estava no caminho para se tornar campeão da Copa Libertadores, o que ocorreu um ano depois. Agora, corre o risco de ser rebaixado na primeira divisão do Campeonato Brasileiro.

Hoje, apenas três dos 212 escritórios do edifício foram alugados. A Cyrela informou, em resposta por e-mail a perguntas, que vendeu todas as unidades e que o aluguel é responsabilidade dos proprietários.

“Quando compramos espaço para escritórios, nós tínhamos o atrativo da Petrobras e do pré-sal”, disse Edson Delgado Boschilia, administrador da empresa imobiliária Infinity Holding.

“Desde abril ninguém procurou alugar um escritório da gente. E se você não tem locatários interessados, as chances de vender são ainda piores”.

São Paulo – O fantasma do desemprego voltou a liderar a lista de principais temores dos brasileiros. Segundo pesquisa CNT/MDA lançada esta semana, mais da metade dos brasileiros acreditam que a situação vai se agravar no mercado de trabalho nos próximos meses. A apreensão não é sem fundamento: de cada 10 brasileiros, ao menos sete conhecem alguém que está desempregado. Os últimos dados do Ministério do Trabalho sobre o assunto materializam esta percepção. Só no mês passado, o Brasil fechou mais de 111 mil vagas de trabalho - o pior resultado para junho desde 1992. Desde o início do ano, foram mais de 345 mil cortes na oferta de empregos no país. O Rio de Janeiro (RJ) é o município mais afetado pela onda de demissões – mais de 36 mil empregos foram fechados na cidade desde janeiro. Juntas, as 20 cidades que você vê nesta galeria respondem por 70% dos cortes no mercado de trabalho brasileiro desde o começo de 2015.  Os dados que você vê a seguir foram compilados por EXAME.com com base no saldo ajustado municipal do CAGED de junho de 2015.
  • 2. Rio de Janeiro (RJ) - 36,5 mil empregos fechados

    2 /21(Fernando Frazão / Agência Brasil)

  • Veja também

    Saldo de empregos (Janeiro a Junho)-36.594
    Saldo de empregos em 201421.026
    Setor mais afetado pelos cortes: Comércio – 15,1 mil empregos fechados
  • 3. São Paulo (SP) - 31,3 mil empregos fechados

    3 /21(Germano Lüders / EXAME)

  • Saldo de empregos (Janeiro a Junho)-31.334
    Saldo de empregos em 201451.746
    Setor mais afetado pelos cortes: Comércio – 16.258 empregos fechados
  • 4. Belo Horizonte (MG) - 26,6 mil empregos fechados

    4 /21(Vander Bras/ Divulgação/ Prefeitura municipal de Belo Horizonte)

    Saldo de empregos (Janeiro a Junho)-26.637
    Saldo de empregos em 2014-5.669
    Setor mais afetado pelos cortes: Construção Civil - 10.117 empregos fechados
  • 5. Salvador (BA) - 18,8 mil empregos fechados

    5 /21(Adelano Lázaro/Wikimedia Commons)

    Saldo de empregos (Janeiro a Junho)-18.867
    Saldo de empregos a 2014-120
    Setor mais afetado pelos cortes: Construção Civil - 7.248 fechados
  • 6. Recife (PE) - 18 mil empregos fechados

    6 /21(HEUDES REGIS/ Guia Quatro Rodas)

    Saldo de empregos (Janeiro a Junho)-18.005
    Saldo de empregos em 2014-1.477
    Setor mais afetado pelos cortes: Serviços - 9.803 empregos fechados
  • 7. Manaus (AM) - 17 mil empregos fechados

    7 /21(Embratur/Fotos Públicas)

    Saldo de empregos (Janeiro a Junho)-17.066
    Saldo de empregos em 2014-5.464
    Setor mais afetado pelos cortes: Indústria da transformação - 11.159 empregos fechados
  • 8. Ipojuca (PE) - 17 mil empregos fechados

    8 /21(Divulgação/PAC)

    Saldo de empregos (Janeiro a Junho)-17.054
    Saldo de empregos em 2014-22.319
    Setor mais afetado pelos cortes: Construção Civil - 12.916 empregos fechados
  • 9. São Bernardo do Campo (SP) - 10 mil empregos fechados

    9 /21(Raquel Toth / PMSBC)

    Saldo de empregos (Janeiro a Junho)-10.078
    Saldo de empregos em 2014-7.150
    Setor mais afetado pelos cortes: Indústria de transformação - 4.776 empregos fechados
  • 10. Fortaleza (CE) - 9,1 mil empregos fechados

    10 /21(Luis Morais/ Viagem e Turismo)

    Saldo de empregos (Janeiro a Junho)-9.120
    Saldo de empregos em 201423.248
    Setor mais afetado pelos cortes: Comércio - 5.350 empregos fechados
  • 11. Guarulhos (SP) - 8,4 mil empregos fechados

    11 /21(Wikimedia Commons)

    Saldo de empregos (Janeiro a Junho)-8.490
    Saldo de empregos em 20145.330
    Setor mais afetado pelos cortes: Indústria de transformação - 5.053 empregos fechados
  • 12. Itaboraí (RJ) - 8,3 mil empregos fechados

    12 /21(Wikimedia Commons)

    Saldo de empregos (Janeiro a Junho)-8.325
    Saldo de empregos em 2014-2.232
    Setor mais afetado pelos cortes: Construção Civil - 6.440 empregos fechados
  • 13. Osasco (SP) - 7,7 mil empregos fechados

    13 /21(Chadner/ Wikimedia Commons)

    Saldo de empregos (Janeiro a Junho)-7.734
    Saldo de empregos em 20142.938
    Setor mais afetado pelos cortes: Adminstração Pública - 5.257 empregos fechados
  • 14. Porto Alegre (RS) - 7,5 mil empregos fechados

    14 /21(Ivo Gonçalves/PMPA)

    Saldo de empregos (Janeiro a Junho)-7.557
    Saldo de empregos em 20148.526
    Setor mais afetado pelos cortes: Serviços - 2.502 empregos fechados
  • 15. Curitiba (PR) - 5,9 mil empregos fechados

    15 /21(Flickr/Creative Commons/Eugeni Dodonov)

    Saldo de empregos (Janeiro a Junho)-5.954
    Saldo de empregos em 20146.865
    Setor mais afetado pelos cortes: Indústria da transformação - 3.184 empregos fechados
  • 16. Porto Velho (RO) - 5,8 mil empregos fechados

    16 /21(Flickr)

    Saldo de empregos (Janeiro a Junho)-5.816
    Saldo de empregos em 2014-4.749
    Setor mais afetado pelos cortes: Construção Civil - 4.553 empregos fechados
  • 17. Contagem (MG) - 5.7 mil empregos fechados

    17 /21(Divulgação/Prefeitura de Contagem)

    Saldo de empregos (Janeiro a Junho)-5.772
    Saldo de empregos em 2014-6.106
    Setor mais afetado pelos cortes: Indústria da transformação - 2.773 empregos fechados
  • 18. Lauro de Freitas (BA) - 5,2 mil empregos fechados

    18 /21(Ian Sampaio/Flickr)

    Saldo de empregos (Janeiro a Junho)-5.208
    Saldo de empregos em 20144.268
    Setor mais afetado pelos cortes: Serviços - 3.931 empregos fechados
  • 19. Serra (ES) - 5,1 mil empregos fechados

    19 /21(Divulgação/Prefeitura de Serra)

    Saldo de empregos (Janeiro a Junho)-5.175
    Saldo de empregos em 20142.949
    Setor mais afetado pelos cortes: Serviços - 1.776 empregos fechados
  • 20. Niterói (RJ) - 5,1 mil empregos fechados

    20 /21(Wikimedia Commons/Phx)

    Saldo de empregos (Janeiro a Junho)-5.110
    Saldo de empregos em 20143.015
    Setor mais afetado pelos cortes: Indústria da transformação - 1.937 empregos fechados
  • 21. Belém (PA) - 5 mil empregos fechados

    21 /21(Divulgação/ Sesc Belenzinho)

    Saldo de empregos (Janeiro a Junho)-5.065
    Saldo de empregos em 2014482
    Setor mais afetado pelos cortes: Construção Civil - 2.950 empregos fechados
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