Prisões da Lava Jato tornam o clima ainda pior para Dilma
A presidente Dilma começará seu segundo mandato com situação econômica ruim e clima político instável, agravado pela nova ofensiva da Polícia Federal na Operação Lava Jato
Da Redação
Publicado em 14 de novembro de 2014 às 15h28.
Volte para 2011. Dilma Rousseff, mãe do PAC, ungida por Lula e eleita, assumiu o poder como a primeira mulher a subir a rampa do Planalto na qualidade de presidente. Seu antecessor lhe passou a faixa aprovado por mais de 80% dos brasileiros. A eleição não foi fácil, sobretudo após o escândalo Erenice Guerra e o debate sobre aspectos morais e bioéticos. Mas Dilma venceu. A novidade naquele ano foi o fim da verticalização e a parceria formal com o PMDB na chapa como vice. E, para celebrar a aliança, um apoio de 100% do partido na primeira votação expressiva, associada ao salário mínimo, sob um novo Congresso empossado algumas semanas depois de a presidente desembarcar no gabinete.
Caminhe agora cerca de dois anos após esse instante. O PMDB já não era mais tão fiel, mas ainda assim a presidente tinha forte maioria no Congresso Nacional e cerca de dois terços dos brasileiros estavam satisfeitos com sua condução - a despeito de uma faxina ética ter deixado vasos quebrados nas relações entre aliados. Estávamos em março de 2013, mas em junho o povo foi às ruas. A popularidade despencou, mas os manifestos não tinham Dilma e o governo federal como alvos específicos.
A insatisfação era generalizada, e respingou sobre diversos políticos e partidos, incluindo uma oposição que não conseguiu se firmar como alternativa clara. Assim, em 2014, a despeito de cerca de 70% do povo clamar por mudanças em pesquisas realizadas pelo Ibope ao longo das eleições, o governo conseguiu se reeleger com bordões do tipo “muda mais” e “novo governo, novas ideias”. A combinação entre a competência do marketing e a incompetência da oposição em firmar-se como alternativa na última década contribuíram para esse final, cujo resultado foi apertado. A ansiedade gerada ao longo de toda a eleição trouxe fissuras políticas entre setores da sociedade, e os dias que antecederam o segundo turno lembraram o saudoso Dominguinhos: “Olha quem tá fora quer entrar, mas quem tá dentro não sai”.
O ambiente esperado para 2015, assim, é bem diferente daquele de 2011.
A presidente Dilma começará seu segundo governo com uma situação econômica ruim e um clima político instável. A reversão desse cenário não parece fácil, e é ainda agravada por fatos como a Operação Lava Jato, com nova fase deflagrada hoje pela Polícia Federal, que prendeu representantes de empresas imensas e um ex-diretor da Petrobras.
Aspectos econômicos à parte – e eles merecem toda a atenção – o clima político não é saudável. PT e PMDB, por exemplo, lutam por espaço dentro do governo - dentro de si e entre si. Os partidos aliados mostram que não se contentarão com menos do que já têm. E a oposição promete ser... oposição.
O Congresso Nacional se pulverizou, nas urnas, em bancadas menores no campo da situação e dos partidos governistas a partir de 2015. Isso oferta ao Executivo a percepção que pode governar sem depender de determinados parceiros, mas também oferece aos partidos o sentimento de que podem se fundir ou formarem bancadas mais consistentes para chantagens mais aparentes. Os movimentos apontam para esta direção, e as negociações que tanto irritam a presidente terão que ser feitas cirurgicamente. Por quem? Dilma e Mercadante não serão lembrados na história por tais habilidade. E Lula? A questão é saber de qual deles estamos falando: de um dos mais hábeis seres políticos do país ou do sujeito ao qual a propaganda de Dilma, estrelada por Chico Buarque nas eleições, atribuiu um peso menor no presente?
Para completar, um elemento que aproxima fantasmas do passado com assombros do presente: a corrupção. Em 2006 e 2010 foi o Mensalão, e a crença popular de que grandes líderes nada sabiam sobre a mesada. Em 2014, o que se chamou de Petrolão, que parte da imprensa diz ser de conhecimento de quem efetivamente manda e cujos novos capítulos foram escritos hoje. Assim: Congresso instável, partidos “parceiros” cobrando caro, oposição mais ácida, cenário econômico frágil e escândalos se adensando. O clima mudou.
Humberto Dantas é cientista político e professor do Insper.