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Políticas públicas e proximidade podem evitar tragédias como a de Suzano

Proximidade da família, professores e amigos, além de uma nova política pública, ajudam a identificar problemas em jovens antes de atingir extremos

Tiroteio ocorrido na quinta (13), em Suzano, deixou dez mortos em uma escola pública (Ueslei Marcelino/Reuters)
AJ

André Jankavski

Publicado em 14 de março de 2019 às 06h05.

Última atualização em 23 de abril de 2019 às 16h32.

São Paulo — As cenas do tiroteio em Suzano são chocantes, mas estão longe de serem consideradas um caso isolado. Na quinta-feira (13), Luiz de Castro e Guilherme Monteiro mataram 8 pessoas e deixaram outras nove feridas. Logo após o massacre, eles se suicidaram.

Para especialistas, esse tipo de tragédia poderia ser evitado. Há sinais que costumam ser emitidos antes das tragédias e que podem ajudar a evitar esses crimes.

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Postagens nas redes sociais com citações gratuitas de ódio, por exemplo, devem ser observadas por pais e amigos. Podem ser vistas, mais do que uma opinião extremada, uma espécie de pedido de socorro.

No caso de Suzano, um dos atiradores publicou cerca de trinta fotosem que ele aparecia com uma máscara de caveira, o boné e o relógio utilizados durante o tiroteio. Ele usava a mesma máscara de caveira das fotos quando foi encontrado morto no chão do colégio.

“Existem jovens que não sabem como dar vazão às raivas, aos medos e às repulsas e precisam ter acompanhamento”, diz o professor Helio Deliberador, professor de psicologia da PUC-SP.

Evidentemente que as mudanças na adolescência não podem servir como justificativa para esses massacres. Mas trata-se de um tema que precisa ser discutido por pais, professores e responsáveis pelo dia a dia dos alunos, segundo especialistas.

Políticas públicas

Além da participação de pais e professores, o Estado também precisa fazer a sua parte dando suporte para as escolas fazerem o seu trabalho. Isso é o que defende Telma Vinha, professora na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Essa estrutura, no entanto, não significa colocar armas na mão dos professores ou utilizar de atitudes autoritárias em sala de aula. Segundo Vinha, isso dá resultado apenas no curto prazo.

“É preciso criar e fomentar um ambiente saudável para o jovem dentro da escola. O colégio pode ser um ambiente extremamente hostil para uma criança”, diz.

Sabe aquelas mensagens nas redes sociais que dizem que, antigamente, o “bullying” moldava o caráter? Então, isso não é real e muito menos frescura. Não por acaso, é algo que a Espanha está buscando eliminar do seu cotidiano com política pública.

Desde 2005, as escolas são obrigadas a construir planos de convivência. Basicamente, professores e alunos sentam para falar sobre diversidade cultural, religiosa e racial. Eles são ensinados a respeitar as diferenças e estimulados a falar sobre os seus problemas abertamente.

“É preciso trabalhar na formação desses jovens, para que cresçam como adultos ‘inteiros’. Nesse contato entre alunos e professores podem ser descobertos problemas que evitem essas atitudes extrema”, afirma a professora. “A escola precisa trabalhar de forma complementar com a família desses jovens.”

Psicopatia?

O caso será investigado e não está descartado que os envolvidos possuíssem traços de psicopatia. No entanto, na visão de Deliberador, da PUC-SP, os fatos divulgados até agora sobre o caso não demonstram um traço fundamental para identificar psicopatas: demonstração de arrependimento ou remorso.

“Em tese, pode ser psicopatia. No entanto, o fato deles terem se matado logo depois do ataque, quando já estavam sendo perseguidos pela polícia, mostra que eles se mataram pelo medo de enfrentar as consequências dos atos”, diz o professor.

Segundo ele, a sua opinião não se trata de uma tentativa de vitimização dos atiradores, mas uma forma de chamar a atenção para um perfil que acaba se repetindo em ataques similares ao de Suzano.

Os atiradores possuem o mesmo perfil dos responsáveis por ataques anteriores. Assim como ocorreu em Suzano, casos fatídicos no Brasil como Realengo, em 2011, e no colégio Goyases, em Goiânia, há dois anos, também tiveram como responsáveis homens adolescentes ou no início da fase adulta.

Nos Estados Unidos, a situação é bem similar. Um estudo feito pela publicação Journal of Child and Family Studies, especializada em psicologia da família, mostra que 77% dos responsáveis dos ataques ocorridos por lá eram adolescentes. Todos os crimes analisados pelo estudo foram cometidos por homens.

E por que o detalhe de todos serem homens é importante? Os jovens do sexo masculino não estão sabendo lidar com a fraqueza e com as suas frustrações, segundo professor da PUC-SP.

Prova disso que até em momentos de desespero, acreditam que a saída pela força é a mais adequada. E o ambiente de polarização e violência que o país vive, segundo Deliberador, não ajuda em nada para mudar esse cenário. Nem mesmo o velho pensamento de que homem precisa ser forte e duro o tempo todo.

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