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PF contraria Bolsonaro e diz que troca de chefia não é por desempenho

Presidente anunciou substituição de delegado, e sindicato da categoria enxergou medida como preocupante por interferir na autonomia do órgão

Bolsonaro: presidente trocou chefe da PF no Rio (Alan Santos/PR/Flickr)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 15 de agosto de 2019 às 20h12.

A Polícia Federal afirmou, por meio de nota divulgada nesta quinta-feira, 15, que a saída do delegado Ricardo Saadi da Superintendência do órgão no Estado do Rio de Janeiro não tem qualquer relação com desempenho. A afirmação contraria declaração do presidente Jair Bolsonaro, que pela manhã apontou a "produtividade" como razão de substituição.

A escolha do novo superintendente do Rio de Janeiro, Carlos Henrique Oliveira Sousa, antecipada pelo jornal O Estado de S. Paulo, foi confirmada pela Polícia Federal. Carlos Henrique chefiava a unidade no Estado de Pernambuco.

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Conforme o Estado publicou mais cedo, a Polícia Federal afirmou na nota que a mudança já vinha sendo planejada há alguns meses e o motivo principal é o desejo do superintendente atual de vir a Brasília, além de ser uma troca normal no cenário de um novo governo que assumiu. Não foi informado oficialmente que cargo ele ocuparia na capital federal.

A definição dos superintendentes regionais é de responsabilidade apenas do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. O órgão é vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, chefiado por Sergio Moro.

O fato de o presidente ter anunciado a exoneração de Ricardo Saadi foi bastante criticado internamente na Polícia Federal.

Em "nota de repúdio", o Sindicato dos Delegados de Polícia Federal em São Paulo - Estado onde Saadi atuou por vários anos, antes de assumir a direção do Departamento de Recuperação de Ativos no Ministério da Justiça - assinalou que "a escolha de superintendentes compete ao Diretor-Geral da Polícia Federal e a fala do presidente, mais que desrespeitosa, atenta contra a autonomia da Polícia Federal".

"A Polícia Federal é uma instituição de Estado e deve ter autonomia para se manter independente e livre de quaisquer ingerências políticas", diz o texto.

Na cúpula do órgão, a afirmação de Jair Bolsonaro de baixa produtividade da superintendência do Rio de Janeiro não encontra respaldo. O trabalho de Ricardo Saadi é muito bem avaliado e não há quem admita insuficiência de resultados.

A iniciativa para a saída do Rio de Janeiro, segundo pessoas que acompanharam o processo, teria vindo do próprio superintendente e vem sendo negociada desde o início do ano.

Carlos Henrique Oliveira Sousa havia sido recém-empossado superintendente da Polícia Federal em Pernambuco, em maio. Antes ele já foi o número 2 da PF no Rio de Janeiro, abaixo do próprio Ricardo Saadi.

O presidente Bolsonaro antecipou a informação da saída de Saadi à imprensa na manhã desta quinta-feira enquanto respondia a uma pergunta sobre modificações na Receita Federal.

"Todos os ministérios são passíveis de mudança. Eu vou mudar, por exemplo, o superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Motivo: é questão de produtividade", afirmou o presidente.

Ao ser perguntado se há problemas na superintendência, Bolsonaro respondeu que tem problemas "em todas as áreas" no Brasil. "Eu não quero esperar acontecer o problema para encontrar uma solução", declarou. "Nome (de substituto) eu ainda não tenho. Não vou entrar em detalhes. É sentimento. Eu tenho que aprofundar, eu tenho que resolver os problemas do Brasil todo."

O presidente afirmou ainda que, em relação a qualquer cargo na administração, "se tiver que mudar, a gente muda". "O único que levou facada e ralou quatro anos para chegar aqui fui eu. Ponto final. O povo confiou em mim o destino da nação. Eu tenho que decidir."

Sob o comando de Saadi, a PF do Rio de Janeiro avança em frentes de investigação de diversas operações que levaram, por exemplo, à prisão do ex-presidente Michel Temer, do empresário Eike Batista, e de um dos maiores doleiros do País, Dario Messer.

Em um dos casos de maior repercussão no Estado do Rio de Janeiro a PF tem atuado na operação Furna da Onça e desdobramento, que já levou à prisão diversos deputados estaduais.

A Furna da Onça apura, entre outros fatos, a chamada 'rachadinha' entre servidores e deputados na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. A operação não inclui, no entanto as movimentações atípicas de R$ 1,2 milhão do ex-policial militar Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ), detectadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) em um relatório revelado pelo Estado.

A apuração era conduzida pelo Ministério Público Estadual, com auxílio da Polícia Civil estadual, e está suspensa por decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli.

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