Como bolsonaristas lideraram a disputa pela Petrobras nas redes sociais
Levantamento da consultoria .MAP mostra que o tiroteio à Petrobras foi a aposta do governo para reverter críticas nas redes, até que prisão do ex-ministro Milton Ribeiro bagunçou a pauta da semana
Carolina Riveira
Publicado em 26 de junho de 2022 às 08h00.
Um dos principais palanques do governo do presidente Jair Bolsonaro , as redes sociais terminam sendo termômetro dos humores de uma fatia (engajada) da população. No debate sobre os combustíveis , não foi diferente.
Levantamento da consultoria de redes sociais .MAP a pedido da EXAME mostra que a base do governo liderou a discussão sobre a Petrobras desde a semana passada e conseguiu, em partes, levar o alvo para longe do Planalto — antes que a semana terminasse sem espaço para outra coisa que não a prisão do ex-ministro Milton Ribeiro.
Mais de 70% das postagens feitas sobre a Petrobras entre 15 e 21 de junho foram capitaneadas por perfis classificados como militância de direita, segundo a análise da .MAP. No período, a Petrobras ficou entre os dez assuntos mais comentados.
Respondendo a esforços do governo para pautar a participação da Petrobras nos preços dos combustíveis, a base bolsonarista nas redes sociais ficou à frente de perfis de esquerda ou da opinião pública classificada como “não militante” na análise.
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O esforço foi, ainda, capaz de ampliar o bolo de menções positivas ao presidente Jair Bolsonaro. A “aprovação” calculada em postagens sobre o presidente — sejam sobre a Petrobras ou sobre outros assuntos — subiu da casa dos 20% para perto de 40%.
"É um nível de aprovação considerado alto. Vale apontar que vinha figurando na faixa dos 20% ou pouco mais, e até abaixo do Lula muitas vezes", diz Giovanna Masullo, diretora executiva da .MAP.
"A base do presidente Jair Bolsonaro abraçou essa pauta e viram na [responsabilização da] Petrobras a oportunidade de melhorar o jogo e blindar a imagem do presidente", diz.
O levantamento é resultado da avaliação qualitativa amostral da .MAP, em um universo de 1,4 milhão de posts no Facebook e Twitter.
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O grupo que liderou o debate sobre a Petrobras é composto por influenciadores, políticos, partidos e opinião pública ligados à base de Bolsonaro, de nomes como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL, que cobrou no Twitter a renúncia do ex-presidente da Petrobras na semana), aos filhos do presidente.
O período analisado incluiu o auge das cobranças do governo à Petrobras, o requerimento para abertura de uma CPI sobre a estatal (que chegou a ser protocolado), e a aprovação de uma lei no Congresso para reduzir o ICMS dos combustíveis.
Lula longe do debate sobre Petrobras
Do outro lado do espectro, embora posições de apoio ao caráter estatal da Petrobras e críticas à política de paridade nos preços de importação (PPI) sejam marcas de visões à esquerda, o líder nas pesquisas, o ex-presidente Lula, engaja pouco no debate sobre a Petrobras.
Primeiro, pela liderança dos bolsonaristas no assunto, ao menos nesta semana. Segundo, porque parte das postagens sobre o ex-presidente terminam relembrando os escândalos do Petrolão, associados, na visão do eleitor em muitas das postagens, a governos petistas, aponta Masullo.
O embate nas redes reflete o desafio da oposição na urna: tentar colar em Bolsonaro alguma responsabilização pela inflação, preços dos combustíveis e outros temas sensíveis ao eleitor.
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Masuello aponta que as menções que não são à Petrobras, mas aos preços dos combustíveis ou inflação no geral, trazem mensagem mais negativa ao governo e maior liderança da oposição.
Isso explica por que o governo Bolsonaro tem uma aprovação menor (só 17% das postagens são positivas) que a do presidente pessoalmente no período. Nas menções ao governo no geral, perfis à esquerda lideram com mais de 65% das postagens.
(A fome é a maior fonte de pressão, com o tema abordado em sete em cada dez publicações sobre o governo Bolsonaro, todas altamente negativas.)
Prisão de Milton Ribeiro abala estratégia do governo
Apesar dos esforços — em parte bem-sucedidos — da base bolsonarista nas redes para blindar o presidente no debate negativo sobre combustíveis, o cenário foi definitivamente revertido no fim da semana com a prisão do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, aponta a .MAP.
No período entre 22 e 23 de junho, logo após a operação que prendeu o ex-ministro, posts relativos à prisão de Ribeiro ou ao escândalo do MEC responderam por quase 24% das publicações no período. Foram uma em cada quatro postagens no Twitter falando sobre o caso, diz Masullo.
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Os dois dias foram marcados por vários desdobramentos do caso no noticiário, que repercutiram nas redes. Ribeiro foi preso em meio a investigações de tráfico de influência e cobrança de propina para repasse de verbas públicas para a educação. O ministro depois foi solto na quinta-feira, 23, por ordem de um desembargador para aguardar as investigações em liberdade.
Além da soltura, o assunto continuou em alta após uma mensagem do delegado da Polícia Federal que comandou a operação criticando o que classificou como interferência do governo para salvar Ribeiro. Enquanto isso, a oposição no Senado anunciou na mesma quinta-feira que conseguiu as assinaturas suficientes para abrir uma CPI sobre o caso no MEC.
O debate é amplamente negativo para o governo, com menos de 1% das postagens sendo positivas. Os próximos dias mostrarão o quanto o tema seguirá tendo tração na semana que começa — e o quanto a base bolsonarista será capaz de reagir.