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Peccin foi o primeiro frigorífico identificado, diz delator

Delator contou, em entrevista ao Fantástico, como foi o estopim das investigações que deram origem à operação Carne Fraca

Carne: fiscal encontrou carne e frango irregulares em fiscalizações e denunciou frigoríficos (Creative Commons/ Joshua Bousel / Flickr.joshuabousel/Flickr)

Carne: fiscal encontrou carne e frango irregulares em fiscalizações e denunciou frigoríficos (Creative Commons/ Joshua Bousel / Flickr.joshuabousel/Flickr)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 20 de março de 2017 às 08h11.

Rio - O auditor fiscal federal agropecuário Daniel Gouvêa Teixeira, autor das denúncias que desencadearam a Operação Carne Fraca, promovida na última sexta-feira (17) pela Polícia Federal, afirmou em entrevista ao "Fantástico", da TV Globo, que o primeiro frigorífico em que constatou irregularidades foi o Peccin, no Paraná, fabricante de embutidos em geral, como mortadela e salsicha.

Ele disse também que o agronegócio brasileiro é, em sua maioria, composto por pessoas honestas e que a cadeia produtiva uma das mais organizadas do mundo.

Segundo ele, o frigorífico de Peccin aproveitava "carnes estragadas, carnes fora de validade, fora de refrigeração, em putrefação", além de carcaças de frango em quantidade maior do que o permitido pelo Ministério da Agricultura. "A carne mecanicamente separada é um subproduto do abate de aves. Sobra um pouco de carne, o que chamam de carcaça, que é o peitoral do franco, e eles usavam em torno de 94% desse produto, quando a regra é no máximo 60% ou 40%, dependendo do produto".

O mesmo frigorífico usava ácido sórbico para melhorar a aparência das carnes, conta Teixeira, que é médico veterinário. "Esse descontaminante é misturado na massa dos produtos para poder diminuir a contaminação bacteriana e mascarar os odores e as características de carne podre", afirma.

O ácido sórbico não é um produto cancerígeno ou capaz de provocar danos à saúde, mas pode mascarar uma carne imprópria para consumo. Ele pode ser usado em carnes maturadas, mas não em carnes frescas.

Depois de denunciar essas irregularidades à Superintendência Regional do Ministério da Agricultura no Paraná, o auditor acabou afastado da fiscalização dessa empresa, segundo contou à TV Globo.

"Recebi a notificação de que havia sido cancelada minha atribuição de fiscalização daquele frigorífico". Ele então levou o caso à Polícia Federal, que iniciou sua investigação.

Em 2014, o frigorífico Souza Ramos forneceu 260 toneladas de salsicha de peru para escolas do Paraná e também foi alvo de uma fiscalização feita por Teixeira.

"Com a análise do DNA, constatamos que não tinha sido usado nada de peru". O que havia, segundo ele, era carne de carcaça de frango, com problemas.

"Não tinha o teor mínimo de proteínas que deveria ter, o teor de carboidrato estava acima do permitido pelo Ministério da Agricultura e o teor de sódio era até 80 vezes maior do que o regulamento da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)", constatou.

"O agronegócio brasileiro, em sua imensa maioria, é de pessoas honestas, sensatas e que não corroboram com isso. Nossa cadeia produtiva é uma das mais organizadas do planeta, o que falta é fiscalização e transparência", concluiu o auditor fiscal agropecuário na entrevista à TV Globo.

À emissora, o frigorífico Souza Ramos afirmou que "nunca houve carne estragada ou imprópria para o consumo" nos lotes entregues às escolas do Paraná. O Peccin informou que tem interesse em esclarecer as denúncias.

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