Os caminhoneiros venceram. Mas a greve acabou?
Governo se comprometeu a zerar a Cide sobre o diesel até o final do ano e concedeu mais 15 dias de redução dos preços do diesel
Da Redação
Publicado em 25 de maio de 2018 às 06h27.
Última atualização em 25 de maio de 2018 às 20h57.
Afinal de contas, a greve dos caminhoneiros acabou? Na noite de ontem o governo anunciou um acordo com alguns líderes dos caminhoneiros para suspender a paralisação por 15 dias. Fez uma série de promessas que vão custar caro aos cofres públicos e onerar todos os contribuintes num momento de especial fragilidade econômica.
O governo se comprometeu a zerar a Cide sobre o diesel até o final do ano e concedeu mais 15 dias de redução dos preços do óleo diesel, além dos 15 propostos pela Petrobras na quarta-feira. O preço do diesel será fixado para os consumidores, avaliado mês a mês, e o governo irá arcar com as diferenças de custo em relação à política de preço da Petrobras. Na prática, o ministro Carlos Marun, ministro da Secretaria de Governo, se comprometeu a congelar o preço do diesel até o final do mandato de Michel Temer.
A conta é salgada. São 4,9 bilhões de reais até o final do ano, além dos 2 bilhões comprometidos em zerar a alíquota da Cide e dos estimados 12 bilhões com a retirada dos PIS/Cofins, que tramita no Congresso. De onde vão sair esses mais de 18 bilhões de reais? Em paralelo, alguns estados começam a se movimentar para abater o ICMS, imposto que também onera os combustíveis. O governo do Rio vai suspender o ICMS do diesel de 16% para 12% em busca de uma trégua de 48 horas.
Mesmo com tudo isso na mesa os movimentos grevistas ainda não afirmaram categoricamente que a greve acabou. A União Nacional dos Caminhoneiros e o Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas não assinaram o acordo e afirmam que continuam parados até o Senado votar projeto de lei que cria nova política de preços para o transporte rodoviário. A Associação Brasileira dos Caminhoneiros tampouco assinou o acordo e diz que só encerra a greve quando as medidas anunciadas forem publicadas no Diário Oficial da União. A Confederação Nacional dos Transportes ainda vai decidir se a oferta é suficiente. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou ao jornal Valor que há indícios de que a greve seja um locaute, coordenada por empresários do setor, o que será investigado pela Polícia Federal.
No fim das contas é mais uma mostra de como grupos de interesse, patronais ou não, conseguem impor suas agendas ao país, passando por cima dos interesses gerais da população. Na entrevista a jornalistas na noite de ontem, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, foi questionado pelo SBT sobre como fica a política de preços para a gasolina, utilizada pela maioria dos motoristas brasileiros em seus carros. Respondeu que o assunto não entrou em discussão. Tampouco falou de medida emergencial para evitar cobranças extorsivas em postos de combustível pelo país — em alguns lugares o litro de gasolina chega a 10 reais.
São distorções que ganham especial relevância em momentos de fragilidade política no país. Os caminhoneiros venceram. Falta deixar o campo de batalha.