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Opinião: Professores no centro do debate

Pacote de medidas anunciado pelo MEC cria ações para endereçar o problema da atratividade e da valorização de professores no país

Professor em sala de aula: atrair, manter e formar professores nos cursos de licenciatura são preocupações importantes, mas garantir a qualidade dessa formação é igualmente essencial, escreve Mariana Breim, do Instituo Península (Patricia Monteiro/Bloomberg/Getty Images)
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 14 de janeiro de 2025 às 18h44.

Por Mariana Breim*

O Ministério da Educação anunciou hoje o “ Mais Professores ”, um programa com ações integradas de incentivo e valorização à docência. Três ações merecem destaque, sendo a primeira delas o “Pé-de-Meia das Licenciaturas”, que ofertará bolsas de 1050 reais a alunos com boas notas no ENEM e que desejam se tornar professores. A medida, acertada, endereça um problema grave: hoje os cursos que formam professores atraem alunos de baixo desempenho, que buscam cursos noturnos, a distância e de baixo custo. Resultado é que não conseguem concluí-los, deixando descobertas as redes, especialmente em disciplinas como Matemática e Física.

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Atrair, manter e formar professores nos cursos de licenciatura são preocupações importantes, mas garantir a qualidade dessa formação é igualmente essencial. O programa acerta ao oferecer bolsas para os alunos com melhor desempenho, já que os professores têm um papel central na aprendizagem dos alunos. No entanto, falha ao não exigir, desde o início, um compromisso mais firme com a atuação nas escolas. Incentivar alunos a atuarem nas redes de ensino deveria ser uma condição obrigatória desde o ingresso na formação inicial, reforçando a escola como o principal espaço de formação prática e ajudando a reduzir o abandono da profissão por novos professores – um problema comum em todo o país.

Bolsa Mais Professores e Prova Nacional Docente

Não é apenas a alta taxa de evasão dos cursos de licenciatura, no entanto, o fator responsável pelo desequilíbrio entre oferta e demanda. Faltam cursos em determinadas regiões e há outras em que os cursos não conseguem atrair alunos, exigindo do ministério inteligência na distribuição das bolsas e necessárias ações adicionais. Neste contexto surge o “ Bolsa Mais Professores ” que induz o ingresso na carreira em áreas com carência de professores. Preocupação justificada. Estudo realizado pelo Instituto Península em 2024 concluiu que mais de70% das redes carecem de egressos de licenciaturas para suprir sua demanda em pelo menos uma disciplina.

Outra das iniciativas importantes do programa é a " Prova Nacional Docente ", uma avaliação para quem deseja ingressar na carreira de professor. A participação é voluntária para as redes de ensino, que podem usar os resultados da prova, de forma parcial ou total, em seus processos seletivos. Atualmente, os concursos para professores acontecem, em média, a cada 7,5 anos nas redes municipais e a cada 5 anos nas redes estaduais. Concursos precisam ser mais frequentes e mais eficientes, avaliando não apenas se os professores sabem o que ensinar, mas se sabem como fazê-lo. É importante garantir que essa prova não substitua etapas que avaliam a prática do professor, experiência que ganha escala no país e já apresenta resultados satisfatórios.

A gestão de Camilo Santana tem avançado em temas importantes para professores. Aprovou diretrizes nacionais que proíbem que cursos de licenciatura sejam oferecidos totalmente a distância. Também criou uma avaliação específica, o Enade Licenciaturas, aprimorando a prova teórica e incluindo uma avaliação prática, com grandes chances de induzir a reformulação dos currículos em direção à qualidade, especialmente se conseguir vincular este exame a critérios de qualidade objetivos e confiáveis. A regulação é o próximo necessário passo, garantindo que o que foi determinado seja de fato cumprido.

O programa “ Mais Professores ” representa um passo largo na direção não apenas do entendimento da importância dos professores, mas, especialmente, em formas concretas de endereçar os desafios da profissão e torná-la, de fato, valorizada em nosso país.

*Mariana Breim é Diretora de Políticas Educacionais do Instituto Península

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