"Não tinha tanta vacina disponível", diz Bolsonaro sobre compra de doses
Nas redes sociais, presidente alegou que as condições não seriam favoráveis para o fechamento de contratos. No ano passado, o Brasil recusou vacinas da Pfizer
Estadão Conteúdo
Publicado em 3 de abril de 2021 às 12h49.
O presidente Jair Bolsonaro tentou justificar neste sábado, 3, o fato de o Brasil estar atrás de "alguns outros países" na campanha de vacinação contra a covid-19, reforçou as críticas contra governadores por medidas de distanciamento social e afirmou que as Forças Armadas estão à disposição para começar a aplicar o imunizante.
Em transmissão nas redes sociais, ao falar sobre o ritmo de imunização, Bolsonaro disse que não havia "tanta" vacina disponível no ano passado, alegando que as condições não seriam favoráveis para o fechamento de contratos.
"O que se oferecia para a gente, o contrato não era possível de se assinar daquela forma, e bem como não tinha a aprovação da Anvisa", disse o presidente, ao lado do novo ministro da Defesa, Walter Braga Netto.
"O Brasil é um dos primeiros países em vacinação, estamos atrás apenas de alguns outros países, que começaram a vacinar no ano passado. Compramos vacinas no ano passado, não tinha tanta vacina disponível assim", disse o presidente, segundo quem praticamente todos os quartéis do Brasil têm a condição de fazer a vacinação.
O assunto, segundo o presidente, foi conversado com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o ministro da Defesa, mas o chefe do Executivo não deu mais detalhes.
Em números absolutos, o Brasil é o quinto país que mais vacinou, com quase 19 milhões de imunizados. No entanto, o valor ainda é pequeno perto dos mais de 150 milhões de adultos que o país precisará vacinar. No ranking de vacinas a cada 100.000 habitantes, o Brasil está somente entre os 70 países com melhores resultados.
Como mostrou o Estadão/Broadcast, a tentativa de Bolsonaro de responsabilizar laboratórios pela falta de oferta de vacinas no Brasil esbarrou na demora do próprio governo em fechar acordos com os fabricantes. Tanto Bolsonaro quanto o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, fizeram críticas públicas a exigências de farmacêuticas, como foi o caso Pfizer.
Diante do agravamento do quadro da pandemia no País, Bolsonaro viu subir a reprovação do governo, segundo levantamentos feitos por institutos de pesquisa. Com isso, o tom sobre a campanha de vacinação mudou. Neste sábado, Bolsonaro afirmou que, pelo segundo dia consecutivo, o Brasil vacinou mais de um milhão de pessoas. "E esse número tende a crescer", afirmou.
Bolsonaro fez a transmissão ao vivo durante uma visita ao Centro Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que distribui sopas em Itapoã, região administrativa do Distrito Federal.
Na última quinta-feira, o número de pessoas vacinadas em um único dia contra o coronavírus no Brasil, com pelo menos uma dose do imunizante, ultrapassou pela primeira vez a marca de um milhão desde o início da pandemia, de acordo com dados reunidos pelo consórcio de veículos de imprensa junto a secretarias de 26 Estados e Distrito Federal. Segundo o consórcio, cerca de 18,8 milhões de pessoas já receberam ao menos a primeira dose da vacina contra a covid-19, o equivalente a 8,90% da população brasileira.
Em Israel, no Reino Unido e no Chile, onde a imunização está sendo executada em um ritmo muito mais acelerado, o índice de vacinados chega a 60,69%, 46,11% e 36,28% da população, respectivamente, segundo dados compilados no site Our world in data.
Desemprego
Apesar da mudança de tom sobre a vacinação, Bolsonaro repetiu sua crítica a governadores que adotam medidas de distanciamento social para reduzir a transmissão da covid-19. O presidente afirmou que há "cada vez mais desemprego com a política do feche tudo", e avaliou que a grande parte dos prefeitos não estaria concordando com esse tipo de política.
Bolsonaro também disse que o governo está apoiando medidas "protetivas", mas que "tudo tem limite". "Cada vez tem mais desemprego, com a política do fecha tudo, fique em casa, mais gente está comendo menos, alguns passando necessidades seríssimas, e nós temos que vencer isso aí. A guerra, da minha parte, não é política, é uma guerra que realmente tem a ver com o futuro de uma nação. Não podemos esquecer da questão do emprego. O vírus, o pessoal sabe nós estamos combatendo com vacinações, nós estamos apoiando medidas protetivas. Agora, tudo tem um limite", afirmou o presidente.
"Lá atrás, quando se mandava ficar em casa, em março do ano passado, era para se achatar a curva, até que os hospitais se aparelhassem com respiradores. Passou-se um ano, bilhões do governo federal foram dispensados para governadores e prefeitos, e parece que alguns deles, alguns não aplicaram devidamente o recurso na saúde, aplicaram em outras áreas, que também são nobres, e não na saúde", continuou Bolsonaro, sem informar nomes.
Lockdown
Segundo o chefe do Executivo, alguns prefeitos não estão "cumprindo" ordens de governadores sobre a política do lockdown. "A grande parte dos prefeitos, as informações que nós temos, né, não concordam com a política radical do fechem tudo", disse. "Sabemos que a maior parte dos prefeitos quer uma mudança nessa política. Somos contra o fecha tudo", afirmou o presidente.
No mês passado, Bolsonaro entrou com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o toque de recolher imposto pelos governos do Distrito Federal, da Bahia e do Rio Grande do Sul, mas o caso acabou arquivado pelo ministro Marco Aurélio Mello. Marco Aurélio entendeu que cabia à Advocacia-Geral da União (AGU), e não ao próprio presidente, acionar o Supremo. O episódio levou à demissão do então advogado-geral da União, José Levi, que acabou substituído no cargo por André Mendonça.