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MSF pede mais investimento para combate a doenças

A informação faz parte do relatório Combatendo a Negligência, documento lançado hoje (26) pela organização humanitária Médicos sem Fronteiras (MSF)

Enfermeira atende pacientes com cólera em instalação da MSF: Segundo Lucia Brum, o Brasil enfrenta agora um novo desafio que é a infecção por alimentos (Thony Belizaire/AFP)
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Da Redação

Publicado em 26 de setembro de 2012 às 17h22.

Rio de Janeiro – Cerca de 500 mil pessoas, quase todas muito pobres, morrem anualmente de 17 tipos de doenças tropicais negligenciadas pelas autoridades nacionais e internacionais e pela indústria farmacêutica. A informação faz parte do relatório Combatendo a Negligência, documento lançado hoje (26) pela organização humanitária Médicos sem Fronteiras (MSF). Segundo o documento, é possível reverter esse quadro com estratégias inovadoras de diagnóstico e controle, desenvolvidas ao longo dos 25 anos de trabalho da organização na América Latina, África Subsaariana, Sul da Ásia e no Cáucaso.

O estudo foi apresentado durante o 18º Congresso Internacional de Medicina Tropical e Malária e teve como foco o combate a três das enfermidades com menos investimentos por parte de doadores internacionais e dos países afetados: doença de Chagas, doença do sono e calazar, enfermidades altamente tratáveis e curáveis e causadas por parasitas Tritryps.

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Para a consultora do MSF para doenças negligenciadas, Gemma Ortiz Genovese, que coordenou a produção do relatório, não há desculpas para que os governos não implementem e aumentem os programas e investimentos em pesquisas para essas doenças que têm tratamentos obsoletos e ainda não têm vacinas comercialmente disponíveis.

“Essas três enfermidades são sempre excluídas de financiamento para pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos, porque alegam que é muito caro e difícil tratar e que faltam ferramentas”, disse a especialista.

“Nós demonstramos que essas três doenças matam as populações mais pobres e podem ser tratadas. Esperamos, com esse relatório, que a Organização Mundial da Saúde [OMS] reveja sua posição e influencie os doadores a investirem mais em programas nacionais e em pesquisas para combater essas doenças”, completou.


Das três doenças, a de Chagas é a única endêmica entre algumas das populações mais pobres da América do Sul, sobretudo, na Bolívia e no Paraguai. No Brasil, dados do Ministério da Saúde apontam que cerca de 5 mil pessoas morrem anualmente em decorrência da infecção causada pelo parasita que é transmitido pelos mosquitos barbeiros. Cerca de 2 milhões de brasileiros estão infectados com a doença de Chagas, embora 90% desse total não tenham sido diagnosticados.

A técnica em doenças emergentes da MSF, Lucia Brum, explicou que o governo brasileiro é pioneiro em pesquisa de doenças tropicais. Entretanto, quando o assunto é diagnóstico e tratamento da doença de Chagas, a atuação brasileira ainda é muito tímida.

“No Brasil só é obrigatória a notificação de casos agudos e o protocolo nacional, do ponto de vista de saúde pública, diz que o tratamento só deve ser oferecido a pessoas com infecção até 12 anos. Achamos que é um direito humano ter acesso ao diagnóstico a esse tratamento, apesar das limitações, efeitos adversos, complicações durante o tratamento que é longo e com efeitos adversos”, disse a médica.

Segundo Lucia Brum, o Brasil enfrenta agora um novo desafio que é a infecção por alimentos. “Houve uma transição epidemiológica. A infecção dentro das casas está controlada, mas o barbeiro passa a invadir fontes alimentares, como o açaí e a cana-de-açúcar, por exemplo. E ainda existe a transmissão congênita e por transfusão de sangue e transplante de órgãos.”

Os medicamentos usados para o tratamento da doença de Chagas foram desenvolvidos nas décadas de 60 e 70. Até o ano passado, o Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco era o único fabricante de Benzonidazol, principal medicamento para tratamento da doença de Chagas. Recentemente, a Argentina passou a produzir o medicamento e o Brasil começou a fabricar a versão pediátrica.

Segundo a Médicos sem Fronteiras, os Estados Unidos e a Europa recentemente se opuseram, na OMS, à tentativa de dar às inovações médicas para doenças negligenciadas um novo caráter, que priorize os pacientes nos países pobres.

“Não há interesse por parte da indústria de insumos médicos, pois essa população afetada não tem poder aquisitivo para comprar esses remédios. Cerca de 90% dos investimentos em pesquisa são em cosméticos e apenas 0,1% vão para as doenças negligenciadas que afetam 80% da população mundial. Quando falamos de doenças negligenciadas, falamos de pessoas negligenciadas. Por isso os governos precisam atuar mais para amplificar os programas de prevenção e combate às doenças tropicais”, disse Lucia Brum.

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