Metrô do Rio de Janeiro: incidente atrapalhou o funcionamento da tuneladora, ou tatuzão (Dario Zalis/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 20 de maio de 2014 às 19h09.
Rio - As crateras abertas em Ipanema, zona sul do Rio, há nove dias, pela obra da linha 4 do metrô, foram resultado do desprendimento de um pedaço de rocha, que atrapalhou o funcionamento da tuneladora, ou tatuzão (equipamento usado para as escavações).
A explicação foi dada ontem pelo consórcio responsável pela construção da linha, que irá até a Barra da Tijuca.
Segundo o gerente de produção da obra, Aluísio Coutinho, o bloco de rocha entrou no tatuzão e outros fragmentos se desprenderam. O terreno então se descompactou e se abriram duas crateras na Rua Barão da Torre.
O incidente foi na zona de transição entre rocha e areia, que tende a ser mais instável por conta da diferença de densidade - mas que tinha recebido grande quantidade de cimento antes do início das escavações, para que ficasse mais homogênea.
Coutinho disse que a área está recebendo mais cimento, pois a areia ficou "fofa" depois do incidente. As escavações só devem ser retomadas em 45 ou 60 dias (ainda há 20 metros para escavar nessa área de transição).
O engenheiro tranquilizou os moradores da rua, que estão apavorados.
"Dizer que é impossível (se repetir), não é. Mas a probabilidade é extremamente pequena. Foi algo anômalo e pontual. Houve danos estéticos nos prédios, nada estrutural. O método é o mais moderno que existe, o mesmo usado em metrôs de Nova York, Londres e Paris, e fazemos monitoramento 24 horas por dia", afirmou.
A obra não deve atrasar: o prazo é o primeiro semestre de 2016, antes dos Jogos Olímpicos.
O tatuzão tem 11,5 metros de diâmetro e é a maior tuneladora já empregada em obras metroviárias no País. Desde dezembro de 2013, ele escava de 15 a 18 metros de túnel por dia e é quatro vezes mais rápido do que os métodos usados para abrir os túneis do metrô anteriores, de acordo com o consórcio.
A maior crítica dos moradores é também a do especialista Fernando Mac Dowell, engenheiro que trabalhou na implantação da linha 1 do metrô, nos anos 1970 é a baixa profundidade de operação do tatuzão. A princípio, as escavações seriam a 40 metros da rua, mas houve uma alteração e a máquina está a 12 metros.
"Esse incidente não poderia ter acontecido. Houve uma preocupação muito grande em se ter o 'maior tatuzão do Brasil'. Se tivesse sido feito a 40 metros, não teria problema, mas a 12 metros, teria que ser um diâmetro menor", apontou o especialista. Os moradores estão promovendo reuniões com residentes também do Leblon, por onde o tatuzão ainda irá passar.
Na Barão da Torre, eles colocaram faixas nas janelas com a inscrição "SOS". A maioria relata sentir trepidações nos apartamentos e desconfia das explicações oficiais.
"Não sabemos se podemos acreditar. Se eles já monitoravam o subsolo, como é que não sabiam que podia acontecer? Estão trabalhando às cegas? Estamos falando de risco de vida e perda do patrimônio", criticou o webdesigner Deyson Thomé, que, coincidentemente, já trabalhou como condutor do metrô.