Segurança pública sobe no ranking de preocupações; saúde permanece como principal problema. (Cris Faga/NurPhoto via Getty Images)
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Publicado em 14 de dezembro de 2025 às 12h33.
A percepção dos brasileiros sobre os principais problemas do país voltou a mudar. Levantamento do Datafolha divulgado neste sábado, 13, indica que a segurança pública passou a preocupar mais a população do que a economia, consolidando-se como a segunda maior inquietação nacional, atrás apenas da saúde.
De acordo com a pesquisa, 16% dos entrevistados apontam a violência e a segurança como o principal problema do Brasil. A saúde segue na liderança, citada por 20% da população. Já a economia, que chegou a ocupar o primeiro lugar em medições anteriores, aparece agora em terceiro, com 11% das menções.
O estudo ouviu 2.002 pessoas, de forma presencial, entre os dias 2 e 4 de dezembro, em 113 municípios de todas as regiões do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Os dados mostram uma inflexão relevante ao longo de 2025. No início do ano, a economia era a principal preocupação dos brasileiros, alcançando cerca de 22% das respostas em março e abril. A partir do segundo semestre, esse índice recuou de forma gradual, fechando dezembro próximo de 10% a 11%.
A segurança pública, por sua vez, ganhou peso ao longo do ano. Em setembro, chegou a ser citada por cerca de 22% dos entrevistados, antes de recuar para os atuais 16%. Já a saúde manteve-se relativamente estável durante todo o período, oscilando entre 20% e 22%, o que reforça seu caráter estrutural entre as preocupações da população.
Embora as variações estejam dentro da margem de erro, o conjunto dos dados aponta para um deslocamento do foco do debate público: do impacto econômico direto no bolso para o medo da violência e da insegurança no cotidiano.
A pesquisa também revela contrastes claros entre homens e mulheres. Entre os homens, a segurança pública lidera as preocupações: 18% apontam a violência como o principal problema do país, superando a saúde.
Entre as mulheres, o cenário é diferente. A saúde aparece de forma destacada, com 26% das citações, seguida pela segurança pública, mencionada por 13%, e pela economia, com 11%. O resultado sugere que o acesso a serviços essenciais, especialmente na área da saúde, pesa mais na avaliação feminina sobre os desafios nacionais.
Além de saúde, segurança e economia, outros problemas também foram mencionados. Educação e desemprego aparecem com 8% cada, corrupção e fome somam 6% das respostas, desigualdade social fica em torno de 5%, enquanto impostos foram citados por 1% e política não chegou a 1%. Outros temas diversos reuniram 8% das menções.
O levantamento reforça que, mesmo com oscilações conjunturais, saúde e segurança seguem como eixos centrais da preocupação dos brasileiros, enquanto a economia perde protagonismo no debate público neste fim de ano.
O aumento da preocupação dos brasileiros com a segurança pública ocorre em paralelo a um cenário heterogêneo nos indicadores de criminalidade. Dados recentes do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), mostram que o país registra oscilações relevantes entre diferentes tipos de crime, o que ajuda a explicar a sensação de insegurança apontada pela pesquisa Datafolha.
Enquanto os homicídios apresentam tendência de estabilidade ou leve recuo em âmbito nacional, crimes patrimoniais — como roubos e furtos, especialmente em grandes centros urbanos — voltaram a crescer em diversas capitais. Esse tipo de ocorrência tem impacto direto no cotidiano da população e costuma influenciar de forma mais intensa a percepção de segurança do que indicadores letais.
Outro fator relevante são os Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI), que englobam homicídios dolosos, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. Mesmo quando os números absolutos não avançam de forma significativa, episódios de grande repercussão, como a operação acontecida no Rio de Janeiro, e violência concentrada em áreas urbanas reforçam a sensação de risco entre moradores.
A percepção social da violência não responde apenas às estatísticas, mas também à frequência com que o cidadão se sente exposto a situações de risco, como assaltos, furtos e crimes em espaços públicos. A amplificação desses episódios por redes sociais, aplicativos de bairro e cobertura em tempo real contribui para manter o tema no centro das preocupações.
Esse descompasso entre números nacionais e experiência cotidiana ajuda a explicar por que a segurança pública ultrapassou a economia entre as maiores inquietações dos brasileiros, mesmo em um contexto em que indicadores macroeconômicos permanecem relevantes.