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Mauro Cid vai confessar? O que mudou e o que pesa contra Bolsonaro

O advogado Cezar Bittencourt assumiu a defesa do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e mudou a estratégia com a tese da obediência devida

Bolsonaro e Cid: mudança na defesa do ex-ajudante de ordens pode mudar o rumo das investigações (Alan Santos/PR/Flickr)
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 18 de agosto de 2023 às 10h11.

Última atualização em 18 de agosto de 2023 às 11h48.

O advogado Cezar Bittencourt, que assumiu a defesa do ex-ajudante de ordens Mauro Cesar Barbosa Cid , afirmou que o militar entregou dinheiro em espécie a Jair Bolsonaro referente à venda de um relógio Rolex, recebido pelo ex-presidente em uma viagem oficial. As informações foram publicadas na noite de quinta-feira, 17, pela revista Veja. Bittencourt confirmou as informações ao jornal O Globo.

Durante a semana, o advogado já havia dado sinalizações nesse sentido e indicado que a fidelidade de alguns ex-auxiliares de Bolsonaro está na corda bamba. Bittencourt havia trazido à tona a tese da obediência devida. Ou seja, um militar não deve ser punido se cumpre ordens ainda que sejam "ilegais e injustas", conforme afirmou.

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"Mauro Cid vendeu o relógio a mando do Bolsonaro com certeza e entregou o dinheiro a ele", contou. "Os 35 mil que entraram na conta do pai dele (o general Mauro Cesar Lourena Cid) era parte do pagamento que ele deu ao ex-presidente".

O criminalista disse ao jornal queo militar pretende prestar um novo depoimento à Polícia Federal assumindo o crime, mas que dizendo que seguiu as determinações do então chefe. Procurada, a defesa de Bolsonaro não se manifestou até a publicação da reportagem.

Durante a manhã desta sexta, em resposta ao jornal o Estado de SP, Bitencourtrecuou e afirmou não ter falado sobre as transações envolvendo as joias recebidas pelo ex-presidente por delegações estrangeiras.  "Não tem nada a ver com joias! Isso foi erro da Veja não se falou em joias [sic]", disse sem dar mais detalhes.

Após as revelações da defesa de Cid, a pedido da Polícia Federal (PF), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro no bojo da investigação sobre o suposto esquema de venda de joias presenteados ao ex-chefe do Executivo em razão de seu cargo. A investigação já fez buscas contra aliados de primeira hora do ex-presidente, como o general Mauro César Lourena Cid - pai de Mauro Cid -, o criminalista Frederick Wassef, advogado do ex-presidente, e o tenente Osmar Crivelatti, ex-ajudante de ordens do de Bolsonaro.

Nova estratégia de defesa de Mauro Cid vai prejudicar Bolsonaro?

Segundo a reportagem, ao assumir os inquéritos da Polícia Federal em que o ex-ajudante de ordens é investigado, ele afirmou que a carreira do militar é marcada pelo respeito a “obediência hierárquica” dentro do Exército Brasileiro, e garante que oficial “sempre cumpriu ordens” do ex-presidente.

"Passei três horas com ele ontem a tarde. Ele era um assessor e o ex-presidente era o superior dele. Ele irá prestar depoimento dizendo aquilo que é a verdade, o que realmente aconteceu. Se compromete ou se não compromete o ex-presidente é indiferente. Cada um com suas responsabilidades. O compromisso dele é com a verdade".

Bitencourt disse que o respeito à “obediência hierárquica” pode, inclusive, “afastar a culpabilidade” do ex-ajudante de ordens em investigações sobre o suposto desvio de joias do acervo presidencial e ainda sobre a suposta fraude em cartões de vacina. "Então ele assumiu que errou, quer fazer mea-culpa e eu eu prometi que vou proteger ele, vou acompanhar. São coisas muito complicadas, ele precisa se sentir seguro. Ele vai assumir a responsabilidade da parte dele e o resto é consequência. Cada um com seus próprios problemas".

Venda de joias presentadas ao Bolsonaro?

Acionada pela família de Cid anteontem, a equipe do advogado solicitou acesso à íntegra dos inquéritos ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). No fim do dia, ele esteve no Batalhão de Polícia do Exército, em Brasília, onde o oficial está preso preventivamente desde abril por ordem do magistrado. Além de ouvi-lo, Bitencourt pretende se reunir com seu pai, o general Mauro Cesar Lourena Cid, nos próximos dias.

Na semana passada, o oficial foi alvo de um mandado de busca e apreensão por suspeita de envolvimento no esquema das joias. O fato chamou a atenção justamente porque, desde que recaíram suspeitas sobre a participação de seu filho em negócios ilícitos, Lourena Cid não só se mudou para Brasília, como também atuou de perto em sua defesa.

A interlocutores, o general de quatro estrelas sustentava que o tenente-coronel estava sendo perseguido politicamente e contava ter o apoio de colegas das Forças Armadas. Lourena Cid foi colega de Bolsonaro nas turmas de cadetes da Academia Militar de Agulhas Negras (Aman) nos anos 1970 e foi escalado por ele para chefiar o escritório brasileiro da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), nos Estados Unidos.

Emails que mostram Mauro Cid negociando a venda de um relógio Rolex por R$ 300 mil, já teria acendido o primeiro sinal de alerta no advogado Bernardo Fenelon, que o defendia até então. Nas mensagens em inglês, o oficial negava possuir certificado da joia, pois havia sido um “presente recebido durante uma viagem oficial”, e afirmava que pretendia vendê-lo por US$ 60 mil (cerca de R$ 300 mil, na cotação atual).

Bolsonaro pode ser preso?

Além das possíveis acusações do ex-ajudante de ordens, Bolsonaro também está no centro da investigação sobre os ataques ao sistema eleitoral. Na quinta-feira,o hacker Walter Delgatti Neto acusou o ex-presidente de lhe oferecer um indulto para que violasse medidas cautelares da Justiça e invadisse o sistema das urnas eletrônicas.

Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista (CPMI) do 8 de Janeiro, Delgatti também afirmou que, numa conversa com Bolsonaro, ele teria dito que obteve um grampo do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Segundo o relato de Delgatti, o ex-presidente queria que ele assumisse a autoria do crime. A PF intimou o hacker a prestar novo depoimento hoje, mas a defesa deve orientá-lo a ficar calado.

Hoje, Bolsonaro é investigado em diversas operações, no Supremo Tribunal Federal (STF), no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e na primeira instância. O ex-presidente já prestou depoimento à PF em quatro oportunidades.

Com Agência o Globo e Estadão Conteúdo.

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